Sexta, 29 de Março de 2024
   
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Salmo 97 - A Temível Chegada de Deus

 

Nunca fui um aluno de causar problemas nas escolas onde estudei. Sempre defendi com garra e amor tais instituições e fui querido dos professores e diretores – com alguns, ainda mantenho um relacionamento muito gostoso que foi semeado naquela época. Mas para não dizer que atravessei incólume meus anos escolares, tenho o registro de uma única advertência – curiosamente anotada na minha caderneta com a data “8/8/88”. Sua causa foi eu ter ficado fora de uma aula, escondido no pátio. Eu e um “comparsa” – o autor intelectual do delito – estávamos escondidos atrás de um prédio enquanto um pequeno garoto, que nos via, dava falsos alarmes quanto à chegada de um inspetor. Como as ameaças não se cumpriam, tornamo-nos descuidados até que, de fato, o inspetor nos flagrou “matando” aula e nos encaminhou à diretoria. Além do arrependimento de ter ficado desnecessariamente fora da aula, ficou em mim aquela amarga sensação de “por que eu não ouvi os avisos do garoto?” e “por que eu não temi ser pego?”.

Em certo sentido, o Salmo 97 guarda semelhanças com minha experiência. Isso porquê o salmo contém avisos sobre a vinda do Senhor para trazer julgamento sobre os infratores das suas determinações e os ofensores da sua santidade. Infelizmente, esses também vivem descuidados quanto à ameaça de juízo. Confiam nos seus meios e na sua sabedoria, acreditando que o anúncio da vinda do Senhor não passa de uma mensagem falsa e irreal – quão enganados eles estão! O salmo precedente também fala sobre a vinda do Senhor, porém, em um tom positivo, da perspectiva daqueles que aguardam sua vinda e serão beneficiados por ela. Contudo, o Salmo 97 dá uma visão mais ampla que também revela as bênçãos sobre o povo de Deus, mas que, acima de tudo, enfatiza o juízo de Deus sobre os que se rebelam contra ele. Para esses, a vinda do Senhor é descrita em metáforas de juízo como “escuridão”, “fogo” e “relâmpagos”. Nessa tela, o salmista pinta quatro verdades ligadas ao anúncio da vinda temível de Deus.

A primeira verdade sobre a vinda do Senhor para julgar é a ampla jurisdição do juiz que virá (vv.1,6). É certo que há muita gente que pensa que o que a Bíblia revela são mitos usados pelos homens para produzir uma esperança de que alguém acima deles os protege. Outros acreditam que Deus realmente existe, mas que só pode fazer aquilo que os homens lhe permitem – mal sabem eles o quanto estão enganados! Ainda que os homens se ensoberbeçam diante de Deus, o salmista apresenta uma realidade universal e incondicional (v.1): “O Senhor reina” (yehwâ malak). Assim como a lei vale até para aqueles que não concordam com ela, o Senhor comanda e tem direito sobre tudo que existe. A implicação pessoal dessa realidade para cada povo e até para cada pessoa do mundo é apresentada a seguir: “Que a Terra festeje! Que as numerosas ilhas se alegrem!” (tagel ha’arets yismehû ’îyîm ravvîm). Isso mostra que a vinda do Senhor não terá efeito somente sobre Israel, a nação do salmista, mas sobre toda a Terra – a expressão “numerosas ilhas” enfatiza que o alcance do reinado de Deus vai além da possibilidade que eles conheciam de navegar até os confins da Terra. Assim, a abrangência universal da sua vinda futura encerra o primeiro parágrafo desse salmo (v.6): “Os céus proclamam a sua justiça e todos os povos veem a sua glória” (higgîdô hashamayim tsidqô wera’û kol-ha‘ammîm kevôdô). O salmo enfatiza que aquilo que é anunciado desde já pela criação – a ira de Deus contra a impiedade (Rm 1.18-20) – será ampliado no futuro com a intervenção santa e justa do Senhor.

A segunda verdade é a dureza do julgamento sobre os rebeldes (vv.2-5). Esses quatro versículos são realmente duros. As metáforas de juízo afloram e dão um caráter terrível à vinda do Senhor para aqueles que endurecem seu coração diante dele. Se no salmo anterior a majestade de Deus está associada à sua graça, nesse ela está associada ao julgamento que efetuará, o qual é exposto na figura da formação de uma enorme tempestade (v.2): “Nuvens espessas e escuridão estão ao seu redor. Justiça e juízo são a base do seu trono” (‘anan wa‘arafel sevîvayw tsedeq ûmishpat mekôn kis’ô). A intenção do texto é produzir temor nos injustos – adiante, haverá também um convite a andar em justiça, mostrando, com isso, a aplicabilidade do temor. O quadro da tempestade, então, assume a figura de um incêndio devastador – a figura do fogo é frequentemente usada nas Escrituras para se referir ao juízo (v.3): “Um fogo segue diante dele e consome seus inimigos à volta” (’esh lefanayw telek ûtelahet savîv tsarayw). A figuração dá outra virada, como se quisesse mesclar as imagens da tempestade e do fogo, e compara o furor ligado à chegada de Deus com o poder de “relâmpagos” (v.4): “Os seus relâmpagos iluminam o mundo. A Terra vê e estremece” (he’îrû beraqayw tevel ra’atâ wattahel ha’arets) – apesar de o verbo “iluminar” ter frequentemente conotação positiva, nesse texto ele mostra que o juízo destruidor de Deus, como de um raio reluzente e destruidor, se fará ver e sentir por toda a Terra. O resultado não poderia ser outro além de os ímpios sucumbindo diante do Senhor, o que o salmista expõe através da figura de fortes montanhas ruindo facilmente (v.5): “Os montes se derretem como cera na presença do Senhor, na presença do Senhor de toda a Terra” (harîm kaddônag namassû millifnê yhwh millifnê ’adôn kol-ha’arets). Diante de tantas figuras de devastação, a pergunta que deve gritar na mente dos rebeldes é: “Como poderei suportar tanta fúria contra meu pecado?”. E a resposta a que devem chegar é: “Não poderei!”.

A terceira é a vacuidade da esperança dos incrédulos (vv.7-9). O v.7 contém três referências aos falsos deuses, enquanto o v.9 contém uma. Essas quatro menções têm por propósito afirmar que, caso os povos mantivessem esperança nas suas supostas divindades para livrá-los e para lhes dar vitória final, eles podiam desistir. Essas esperanças eram tão falsas quanto seus deuses (v.7): “Serão envergonhados todos aqueles que servem a imagens, os que se gloriam nos ídolos inúteis. Prostrem-se diante dele todos os deuses” (yevoshû kol-‘ovedê pesel hammithallîm ba’elîlîm hishtahawû-lô kol-’elohîm). Por se tratar de uma época na qual o politeísmo é extremamente difundido, é comum vermos a singularidade de Deus ser afirmada não por meio da declaração de que não há outros deuses, mas, como se eles existissem, a afirmação de que nenhum deles seria páreo para o Senhor. Ao contrário, em Israel, cuja esperança em Deus é verdadeira, há júbilo (v.8): “Sião ouve e exulta e as filhas de Judá festejam por causa dos teus juízos, ó Senhor” (shom‘â wattismah tsîyôn wattagelnâ benôt yehûdâ lema‘an mishpateyka yhwh). A razão é inequívoca: Os deuses em quem os povos confiam não poderão ajudá-los quando o Senhor se vier para julgar. A esperança das nações é natimorta e não poderá sustentá-los diante do reto juiz (v.9): “Pois tu, ó Senhor, é Altíssimo sobre toda a Terra, elevadíssimo sobre todos os deuses” (kî-’attâ yhwh ‘elyôn ‘al-kol-ha’arets me’od na‘alêta ‘al-kol-’elohîm).

A última verdade é a responsabilidade dada aos crentes (vv.10-12). A desesperança dos incrédulos é também a esperança dos crentes e o triste fim dos ímpios virá junto com a glorificação dos que são justificados por Deus. Logo, o privilégio dos servos do Senhor deve ser notado, valorizado e produzir neles uma vida que reflita tanto a gratidão como a condição privilegiada que possuem pela graça de Deus. Por isso, o salmista faz um chamado (v.10): “Abominai o mal, ó vós que amam a Deus” (’ohavê yhwh sin’û ra‘). Não é possível amar a Deus e o pecado ao mesmo tempo. Amar a Deus implica odiar e se afastar daquilo que Deus odeia e daquilo que ele é separado por ser santo. Imediatamente, o salmista apresenta a razão para os servos de Deus atenderem esse chamado tão importante: “Ele protege a alma dos seus fiéis, livra-os da mão dos ímpios” (shomer nafshôt hasîdayw mîyad resha‘îm yatsîlem) – vale notar que, ao falar da “alma”, o salmista não pretende tratar de uma realidade espiritual como a doutrina da “perseverança dos santos”, mas, simplesmente, apontar para os próprios servos como alvos da proteção divina, conforme a segunda parte do versículo. Além de proteção, sua condição final será extremamente positiva e privilegiada (v.11): “A luz surge para o justo e a alegria para os retos de coração” (’ôr zaruah latsaddîq ûleyishrê-lev simhâ). Eis o motivo pelo qual, no presente, a responsabilidade dos crentes é manter uma vida que seja agradável a Deus e que glorifique seu nome (v.12): “Alegrai-vos no Senhor, ó justos, e aclamai o seu nome santo” (simhû tsaddîqîm bayhwh wehôdû lezeker qodshô).

Interessante como a mesma ocasião – a vinda futura e iminente do Senhor – será a razão da glorificação dos que creem em Jesus e a derrocada definitiva dos que se mantém endurecidos diante dele e da sua mensagem de perdão por meio da fé no salvador – alegria para uns e terror para outros. Quaisquer suposições humanas como “todos os caminhos levam a Deus”, “todas as religiões e filosofias contêm a verdade” ou “todos serão evoluídos até a perfeição” são falsas no presente e serão inúteis no futuro, diante da chagada do Senhor. Por isso mesmo, há, na mensagem bíblica, um alerta urgente: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração” (Hb 4.7). Portanto, dê ouvidos agora a esses alertas sobre a vinda do Senhor e sobre o juízo que recairá sobre os que não creem em Jesus. Acredito que ninguém gostará de manter pela eternidade aquela sensação fúnebre de pensar “por que eu não ouvi os avisos?” e “por que eu não temi?”.

Pr. Thomas Tronco

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