Terça, 16 de Abril de 2024
   
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Salmo 53 - Os Pontos Comuns da Iniquidade e da Justiça

 

Como cirurgião-dentista em tempo parcial, ainda atendo pacientes em meu consultório. Além de utilizá-lo como um tipo de gabinete pastoral, o contato com as pessoas cria sempre boas oportunidades. Dentre os pacientes que atendo, há dois que me confundem. São dois gêmeos muito parecidos. No começo, eu não sabia diferenciá-los. Mesmo depois de atendê-los, eu me confundia vendo-os na sala de espera. Entretanto, com o passar do tempo e com o decorrer das sessões, comecei a notar algumas diferenças físicas neles, daquelas que só é possível ver depois de conviver certo tempo. Mas as diferenças que realmente me ajudam a diferenciá-los têm relação com a personalidade de cada um. Apesar de serem quase idênticos, eles me cumprimentam de modo diferente e têm o humor completamente adverso. Um deles é animado, engraçado e gozador, enquanto o outro é mais introspectivo, sério e atento. Quando presto atenção a essas características, fica mais fácil diferenciá-los.

O livro de Salmos também tem irmãos gêmeos. Mas, como todos os gêmeos, eles guardam características singulares. Refiro-me aos salmos 14 e 53. A primeira semelhança entre eles é a autoria: ambos foram compostos por Davi. Mas essa está longe de ser a única coisa que os aproxima. Na verdade, o texto deles é extremamente parecido. As semelhanças entre os quatro primeiros versículos do Salmo 14 e os cinco primeiros versículos do Salmo 53 são tão grandes que nos parecem ser o mesmo salmo. Uma diferença mais substancial se dá apenas no final de cada um. Eles podem, com toda razão, ser chamados de “salmos gêmeos”.

Porém, não são tão parecidos a ponto de ser inútil a presença dos dois no saltério. Certamente, se um fosse mera cópia do outro, poderíamos ter apenas 149 capítulos no livro de Salmos ou ter, até mesmo, um salmo a mais que não foi incluído no cânon. Mas o Deus soberano que nos deu seu ensino por meio das Escrituras não fez nada disso. Ele, munido da sabedoria sem limites que somente Deus tem, nos deu os dois salmos, cada um com seu próprio propósito, cada um com seu próprio benefício. Portanto, para não repetir o que já foi dito a respeito do Salmo 14, ao comentarmos o Salmo 53 daremos especial atenção a algumas diferenças entre ele e seu irmão gêmeo.

A primeira diferença notável, excetuando o título mais longo do Salmo 53, está presente no v.1 de cada salmo, na palavra utilizada para se referir ao pecado do homem tolo. Enquanto o Salmo 14 diz que ele pratica a “má conduta” (‘alîlâ), o 53 chama tais atitudes de “iniquidade” ou “injustiça” (‘awel). A qualificação mais rigorosa da conduta ruim do ímpio demonstra que Deus vê todo pecado como uma ofensa capital à sua própria santidade. Tais palavras, associadas ao verbo que as precede em ambos os casos (ta‘av), cujo significado no grau em que se encontra (hiphil) é “proceder de modo abominável”, atesta o fato de que Deus não fica indiferente ou impassível diante do mal. O pecado causa uma reação em Deus que o move, no devido tempo, a promover a vingança contra o mal. Toda iniquidade que não for tratada pela graça e pelo perdão de Deus, por meio da obra de seu filho Jesus Cristo, será inevitavelmente julgada e punida no tribunal daquele que não suporta a maldade, nem convive com pecadores endurecidos.

Algo que cuja forma difere nos dois salmos é que o Senhor é sempre chamado de Deus (’elohîm) no Salmo 53, enquanto, na maioria das vezes, é chamado no 14 de Javé (yehwâ). Apesar disso e de uma pequena diferença de palavras na introdução do texto do Salmo 14.3 e do 53.3, onde o sentido permanece inalterado, a próxima diferença notável se dá realmente no Salmo 14.4 e na primeira metade do 53.5. O primeiro diz: “Então eles temerão de pavor, pois Deus está com gente justa” (sham pahadû pahad kî-’elohîm bedôr tsadîq). Seu par, no capítulo 53, completa dizendo: “Então eles temerão de pavor de coisas que não são temíveis, pois Deus esparrama dos ossos daquele que te cerca” (sham pahadû pahad lo’-hayâ pahad kî-’elohîm pizzar ‘atsmôt honak). Ambos predizem um terrível temor por parte dos injustos, mas cada um dá uma razão para tanto.

Uma delas é a indiscutível predileção de Deus pelas pessoas cujas atitudes são justas devido à ligação que têm com o Senhor. Tal predileção toma forma de ações práticas quando os que pertencem a Deus são perseguidos – ou cercados, conforme diz o texto – pelos perversos. Esse realmente é um motivo de terror para os inimigos de Deus. O desenrolar é que o pânico, no momento em que Deus se levanta para defender os seus, é tamanho que seus inimigos temem até as coisas inofensivas. O motivo não é nenhum tipo de paranoia, mas saber pela triste experiência o que acontece com aqueles contra quem Deus se levanta. O texto traz uma figura muito forte ao dizer que esses serão destroçados e seus ossos serão espalhados.

A sequência – o Salmo 14.6 e a segunda parte de 53.5 – contém mais diferenças que se complementam na mensagem transmitida pelos salmos gêmeos. No primeiro desses textos, o salmista se dirige aos injustos e lhes diz: “Vocês envergonham o conselho dos humildes, entretanto o Senhor é o refúgio deles” (‘atsat-‘anî tabîshû kî yehwâ mahsehû). A zombaria que os injustos promovem volta para eles no Salmo 53.5, pois é dito ao justo: “Tu os envergonharás, pois Deus os rejeitará” (hebishotâ kî-’elohîm me’asam). O paralelismo é muito claro. Os perversos, que causavam vergonha nos humildes, serão, como castigo, envergonhados. E isso porque Deus, que é o refúgio dos humildes e os protege, rejeita os ímpios.

Ao olhar como as diferenças entre os Salmos 14 e 53 complementam a ideia de que Deus é o protetor dos que lhe pertencem e é o vingador do mal dos perseguidores injustos, entendemos porque esses dois salmos coexistem no saltério. O resultado prático também não poderia ser mais claro: a necessidade de submissão e contrição dos rebeldes diante do soberano Senhor e de adoração e gratidão por parte daqueles por quem o Senhor luta. E que ninguém se deixe enganar por ditos que fazem crer que todos os homens são iguais para Deus. Mesmo parecidos por fora, até mesmo como pessoas gêmeas, por dentro seus corações são diferentes e o Senhor os conhece, sabendo quem, dentre eles, tem Jesus como seu refúgio e salvação.

Pr. Thomas Tronco

 

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