Sábado, 20 de Abril de 2024
   
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Salmo 14 - O Verdadeiro Órgão de Defesa do Consumidor

 

Ultimamente, ando decepcionado com as lojas e com as prestadoras de serviço. Tive péssimas experiências de ser bem atendido na hora de adquirir algo e, depois, na hora de receber o produto ou de ter suporte técnico e manutenção, ser extremamente negligenciado.

Dentre todas essas más experiências que acumulei, as piores foram aquelas cujo contato se dá por telefone. O motivo disso é que as empresas, ao que me parece, deliberadamente criam um sistema em que a burocracia vence os esforços dos clientes e burla o senso de justiça. Resumindo, elas fazem o que querem e você nunca tem com quem reclamar, já que os atendentes não passam de funcionários cuja função é apenas falar com as pessoas, registrar seus pedidos e – coitados deles – testemunhar a fúria de clientes explorados e enganados pelas empresas.

Desse modo, as ricas corporações ficam cada vez mais ricas, enquanto os pobres, principalmente os que têm menos recursos a que possam recorrer, ficam cada vez mais pobres. O desgosto do consumidor é tão grande que é comum ouvir: “Todos esses homens são desonestos e não há um deles que não seja ladrão”. É muito provável que a realidade não seja exatamente essa e que haja corporações que respeitem os direitos das pessoas, mas, ainda assim, concordamos, muitas vezes, com frases desse tipo.

Davi viveu uma situação parecida com a nossa. Mas o objeto do seu protesto não foram empresas de telefonia ou de cartões de crédito. O Salmo 14 é um protesto contra os “malfeitores” (v.4), os quais ele chama literalmente de “causadores de lamentos” (po‘alê ’awen). Trata-se de pessoas cujas ações trazem sofrimento àqueles que, por vezes, não têm como se defender: os “justos” (v.5) e os “pobres” (v.6). Os pobres vivem, quase sempre, à margem dos meios de justiça sem ter acesso a ele ou sem alcançar a empatia dos agentes da promoção da lei e da ordem. Os justos, por sua vez, são privados, por sua própria justiça, de terem reações vingativas ou condignas do desrespeito com que foram tratados. Sabendo disso, os malfeitores abusam deles ainda mais.

Davi diz, no v.1, que esses homens insensatos falam para si mesmos: “Não há Deus” (’ên ’elohîm). Apesar de a afirmação se parecer com a proposta dos ateus, não é provável que no mundo politeísta do passado houvesse muitos que acreditassem em um vácuo divino. Na verdade, o que passava no coração daqueles homens maus e injustos é que não havia um vingador das injustiças que eles cometiam. Para eles, não havia um juiz maior que todos que os pudesse deter ou punir. Por isso, diz o texto, eles “se perverteram” (hishhîtû) e “procederam de modo abominavelmente cruel” (hit‘îvû ‘alîlâ).

O v.2 contempla o Senhor fazendo uma sondagem nesses homens para ver se há, dentre tais homens, “aquele que busca a Deus” (doresh ’et-’elohîm). A resposta, duas vezes pronunciada (vv.1,3), é “não há quem faça o bem” (’ên ‘oseh-tôv). O v.3 reforça o quadro ruim demonstrando que, apesar da busca apurada, o resultado dela é que “não há nem sequer um” (’ên gam-’ehad) que aja bem ou busque a Deus. Apesar de Paulo aplicar esse texto à realidade de “toda” a raça humana em relação ao pecado (Rm 3.10-12), parece que o universo de “todos” aqueles que não fazem o bem compreende, no Salmo 14, apenas os “malfeitores”, que são contrastados, nesse salmo, com os “justos” e com os “pobres”. Trata-se de “todos” os que, conforme o v.3, “juntos se desviaram e se corromperam” (sar yahdan ne’elahû).

Por fim, a maldade e a falta de temor de tais homens são tão grandes que, além de não buscarem a Deus (v.2), também “não clamam a Deus” (yehwâ lo’ qara’û) por nada. São homens completamente desligados de Deus, confiantes em seus próprios recursos e confiantes de que não há quem os possa deter ou repreender. Por essa causa, eles se aproveitam dos indefesos de modo que Deus se refere a eles como “aqueles que devoram o meu povo como quem devora pão” (’okelê ‘ammî ’okelê lehem). Não há limites para os anseios desses malfeitores. Nenhum obstáculo os faz parar nem sua consciência os acusa de nada. Prejudicam as pessoas e conseguem, mesmo assim, dormir tranquilos.

Entretanto, esse abuso não é bem visto por Deus. Nem o Senhor se omite diante de tantas perversidades. Davi diz que, apesar de os malfeitores “ridicularizarem os alertas dos pobres” (‘atsat-‘anî tavîshû) sobre as consequências de agirem daquele modo, o Senhor atua em dois sentidos. O primeiro é agir como “refúgio” dos seus (v.6). Em segundo, agir como vingador no mal, causando “grande pavor” nos malfeitores (v.5). Por fim, Davi, que no momento vê os injustos prevalecerem, olha com esperanças para as promessas de Deus desejando que elas se cumpram logo e que o Senhor, em breve, venha a “restaurar o seu povo” (v.7), trazendo-lhe exultação e alegria.

Não sei mais quantas vezes serei tratado injustamente pelas empresas que são mais ricas e mais fortes do que eu. Mas sei que elas não podem conter a atuação de Deus, nem impedir que ele faça justiça aos seus, seja confortando-os no sofrimento, seja livrando-os das suas armadilhas. Por isso, olho para o futuro cheio de esperanças e fazendo coro com o rei Davi: “Tomara de Sião viesse a salvação”.

Pr. Thomas Tronco

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