Sexta, 29 de Março de 2024
   
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Programados para Ler

“Por isso toda a visão vos é como as palavras de um livro selado que se dá ao que sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele dirá: Não posso, porque está selado. Ou dá-se o livro ao que não sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele dirá: Não sei ler” (Is 29.11,12).

O Brasil possui 11 milhões de analfabetos (cerca de 6,5% de sua população) de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Educação divulgada em 2020. São pessoas de 15 anos ou mais que, pelos critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não são capazes de ler e escrever nem ao menos um simples bilhete. O levantamento também demonstrou que existem profundas desigualdades raciais e regionais na alfabetização no Brasil que impõem barreiras para a equidade de oportunidades em nosso país.

Apesar das visíveis dificuldades na área da educação, o Brasil escapou da lista dos países com os maiores índices de analfabetismo do mundo, como Índia, China, Paquistão, Bangladesh, Nigéria, Etiópia, Egito, Indonésia e República Democrática do Congo.

O analfabetismo no mundo é particularmente lamentável, pois as conexões neuronais para ler e escrever são inatas aos seres humanos, ou seja, o cérebro humano é pré-programado para ler e escrever, segundo as descobertas da neurociência. Os neurocientistas já conhecem o córtex visual — uma área do cérebro em que os neurônios aumentam sua atividade quando interpretamos rostos, formas e palavras. Entender como essa área se relaciona com outros módulos cerebrais é fundamental para compreendermos como nosso aprendizado ocorre.

Recentemente, uma pesquisa publicada na Scientific Reports (Li, J. et al. 2020 Sci Rep. 2020 Oct 22;10(1):18039) buscou esclarecer o que acontece em nossos cérebros conforme aprendemos a ler. A equipe comparou conjuntos de dados de imagem de ressonância magnética funcional (fMRI, da sigla em inglês) de 40 recém-nascidos com exames semelhantes de 40 adultos. A fMRI, por meio da demonstração da atividade neuronal, é um excelente método para indicar se os cérebros dos bebês já estão equipados com os circuitos neuronais necessários para perceber e processar letras posteriormente na vida, desde que sejam, obviamente, expostos à educação.

Dessa forma, os pesquisadores descobriram que recém-nascidos possuem conexões “pré-instaladas de fábrica” do mesmo modo que adultos alfabetizados possuem conexões estreitas entre a área que processa a visão das letras, chamada de área de forma visual de palavras (VWFA, na sigla em inglês), e a rede de linguagem do cérebro.

Sob a perspectiva do evolucionismo, os módulos funcionais do cérebro humano teriam se desenvolvido gradualmente ao longo de eras para nossa sobrevivência. Todavia, é complicado especular em que cenário evolutivo nossos ancestrais tenham sofrido consistentemente “pressões evolutivas” que os levassem ao dilema “é ler ou morrer” assim como “é lutar ou fugir”.

Mais difícil ainda é explicar como as pressões evolutivas fizeram com que esses módulos surgissem, interligassem-se e não fossem descartados ou desprogramados mesmo após gerações e gerações de analfabetismo em comunidades espalhadas por todo o mundo. Um bebê nascido hoje, descendente de milhares de anos de gerações analfabetas, é perfeitamente apto a aprender a ler, escrever e, por que não, ganhar o próximo prêmio Pulitzer de literatura. E isso é uma habilidade específica dos seres humanos. Nenhum animal, ainda que cercado de professores e livros, poderá desenvolver a leitura como nós a desenvolvemos.

O texto em epígrafe, extraído de Isaías, usando uma ilustração sobre graus de alfabetismo, demonstra quão espiritualmente insensível o ser humano é na compreensão e relacionamento com o Criador. A desobediência e rebeldia amorteceram as percepções do coração e o mantêm longe da comunhão santa. Todavia, Deus, misericordioso e gracioso como é (e está escrito!), ainda tem chamado homens e mulheres para seu rebanho, dia após dia — e não raro, analfabetos de todo o mundo têm sido salvos à medida que são alfabetizados lendo a Bíblia! Resta, porém, aos santos, alfabetizados ou não, a alegria das alegrias: “Alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus” (Lc 10.20b).

Ev. Leandro Boer

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