Sexta, 29 de Março de 2024
   
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A Ira do Cordeiro

Pastoral

Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?” (Apocalipse 6.15-17).

É comum as pessoas imaginarem Jesus com os traços impostos pela Renascença: um homem de pele clara e macia, com longos cabelos ondulados e loiros, que lança um olhar carente com sua íris azul e sussurra sempre palavras meigas com seus lábios delicados. Para a maioria dos incrédulos — e até mesmo para os crentes água com açúcar —, Jesus é alguém que sempre fala baixinho, com cabeça baixa, braços abertos e um coração disposto a aceitar qualquer atitude sem repreensão alguma.

A verdade é que as pessoas pintam um Cristo com tais traços apenas por conveniência, a fim de retirar do Senhor qualquer papel de legislador e juiz. Desse modo, podem viver uma vida suja, acreditando que ninguém irá repreendê-las por isso. Uma breve leitura dos evangelhos, entretanto, deixa bem claro que Jesus nem sempre era “só amor”. Por vezes, o Mestre usou palavras duras, chamando seus oponentes de víboras (Mt 12.34; 23.33), hipócritas (Mt 23.27) e filhos do diabo (Jo 8.44). Indignado com o comércio no templo, revirou mesas e expulsou, violentamente, os mercadores da fé (Jo 2.13-16 cf. Mt 21.12-13; Mc 11.15-17; Lc 19.45-46), algo bem diferente do imaginário popular.

De todos os retratos escriturísticos de Jesus, porém, o que parece mais distante do ideal renascentista afeminado é o pintado pelo livro de Apocalipse. Ali, afirma-se que Cristo possui “olhos como chama de fogo” (Ap 1.14; 2.18), ressaltando sua absoluta onisciência e prontidão para purificar sua igreja (Ap 2.23 cf. Hb 4.12-13). Apocalipse 19.15 diz também que “sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de ferro e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-poderoso” (cf. Ap 14.18-20). “Pisar o lagar” remete ao trabalho feito nos antigos tanques em que as uvas eram pisoteadas para produção de vinho. Isaías 63.1-3 já apontava para o juízo do Senhor nestes termos: “Pisei as uvas na minha ira; no meu furor, as esmaguei, e o seu sangue me salpicou as vestes e me manchou o traje todo”. O próprio texto que abre esta pastoral apresenta um cenário assustador, proveniente da “ira do Cordeiro” — um título aplicado à obra substitutiva (Jo 1.29), perfeita (1Pe 1.19) e humilde (At 8.32) de Cristo, mas que, em Apocalipse, é revestido de autoridade e poder (Ap 5.11-14; Ap 17.14).

A Escritura sempre destaca o pânico decorrente do juízo divino iminente. A linguagem utilizada pelo Antigo Testamento para o “Dia do Senhor” é aterrorizante (Sf 1.14-18) e as palavras de Jesus no sermão escatológico também são aterradoras (Mt 24.15-44). Zacarias 14 ilustra a fúria de Cristo em uma praga que fará apodrecer instantaneamente os olhos e a língua dos inimigos de Israel (Zc 14.12 cf. Ap 19.17-21). Longe do Jesus delicado e carente, retratado pelo romanismo e pelo evangelicalismo moderno, o Senhor retornará a Jerusalém como “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Ap 19.16) e seu manto será manchado de sangue (Ap 19.13).

À luz dessas breves considerações, tão destoantes da concepção das massas sobre Jesus, o que podemos aprender?

Em primeiro lugar, os crentes devem recordar diariamente que Cristo zela pela igreja (Ef 5.29). Pedro nos lembra que “o juízo começa pela casa de Deus” (1Pe 4.17) e o próprio Jesus destaca o papel da disciplina divina destinada à igreja (Ap 3.19). É fundamental, portanto, que os crentes busquem uma vida santa e absolutamente obediente ao Cordeiro para que não experimentem o peso de sua mão disciplinadora como as igrejas da Ásia Menor (Ap 2-3).

Nos corações incrédulos, ter consciência da futura “ira do Cordeiro” deve produzir, desde já, pânico e terror, pois a impiedade e a incredulidade serão severamente castigadas pela eternidade (Ap 20.10-15; 21.8). O único caminho para fugir desse terrível julgamento é lavar as vestes no sangue do Cordeiro (Ap 22.14).

Por fim, conhecer estas verdades sobre Cristo deve trazer esperança e consolo ao povo de Deus. Vivemos dias em que o mal parece triunfar: cristãos são ridicularizados, perseguidos e assassinados; igrejas são incendiadas e destruídas sob aplausos e gritos de júbilo; a impunidade impera nas mais diversas cortes de justiça; e o pecado é exaltado e a virtude é condenada. Ainda que não saibamos exatamente quando será a última gota do cálice de ira de Deus, podemos confiar que, no futuro, a iniquidade será totalmente punida (Ap 11.17-18; 22.15). Um dia, o Cordeiro se levantará e, com todo o furor da ira divina, esmagará o mal, tingindo o manto do Senhor mais uma vez — só que, agora, não mais com o seu próprio sangue, inocente e perfeito, que purifica pecadores (Ap 5.9-8; 7.9-10, 14-17; 22.14), mas sim com o sangue ímpio daqueles que rejeitam o Salvador.

“Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22.20).

Pr. Níckolas Borges
Coram Deo

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