Sexta, 19 de Abril de 2024
   
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Espinho É Bom e Faz Crescer

Pastoral

“E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então, ele me disse: a minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (2Co 12.7-10).

Às vezes, Deus diz “não”. Isso não significa que ele é mau ou que é um Deus caprichoso que age de acordo com as variações do seu humor. Antes, significa que ele sabe o que é, de fato, bom para a nossa vida e conhece perfeitamente, muito mais do que nós mesmos, quais são as coisas de que realmente precisamos. Por isso, quando Deus diz “não” como resposta às nossas orações, é nosso dever agradecer e até nos alegrarmos, sabendo que isso também é expressão da graça e do cuidado daquele que nos ama com força infinita, daquele que se dispôs a dar o seu próprio Filho por nós.

Paulo aprendeu isso às duras penas. Sendo apóstolo, ele recebeu revelações grandiosas de Deus. Sendo homem, ele correu o risco de se ensoberbecer por causa dessas mesmas revelações. E esse era um perigo real! Note bem: se vemos pessoas agindo com soberba por causa de revelações falsas e tolas que elas próprias inventam, imagine quão orgulhoso poderia se sentir alguém ao receber revelações magníficas e verdadeiras, vindas do próprio Deus! Pois bem... Esse era o caso de Paulo. Por isso, Deus lhe deu uma vacina contra a soberba. E não foi vacina do tipo gotinhas na boca. Foi uma vacina do tipo agulha doída. Deus lhe pôs um espinho na carne!

Não sabemos o que era esse espinho. Tem gente que acha que era um problema nos olhos. Teve um pregador que me disse que era uma mulher de quem Paulo havia se divorciado e que não saía do pé dele (acho que nesse caso não seria um espinho, mas sim o espinheiro completo). Porém, comentaristas mais atentos à realidade de Paulo e ao contexto histórico e textual de 2Coríntios suspeitam que o espinho na carne fosse um homem (talvez uma figura influente dentro da igreja de Corinto) que se opunha ao seu ministério, perturbando sua vida, desrespeitando-o, caluniando-o, estimulando a perseguição contra ele, desencorajando a igreja a ajudá-lo em suas necessidades e deixando-o muito abatido. Isso explicaria por que, no v.10, Paulo associa o espinho na carne a injúrias, necessidades, perseguições e angústias. Eu prefiro essa interpretação do famoso “espinho na carne”, mas sei que não dá pra afirmar isso com certeza absoluta.

Seja como for, o fato é que o pobre apóstolo pediu três vezes a Deus que o livrasse e a resposta foi um sonoro e definitivo “não”. Deus sabia o que era bom para Paulo e queria que ele continuasse a ser esbofeteado por aquele “mensageiro de Satanás” que, em última análise, foi posto por Deus, visando a manter Paulo humilde.

E não somente isso. De acordo com o texto, ao cravar aquele espinho na carne do seu servo, Deus não quis apenas protegê-lo da soberba, mas também ensiná-lo. O espinho não tinha um propósito meramente preventivo, mas também didático. Deus é médico, mas também é professor. O espinho doloroso, além de proteger Paulo do vírus do orgulho, serviria ainda para ensinar ao apóstolo uma lição importante sobre a graça: ela é suficiente para o crente, de maneira que ele não precisa de mais nada.

Assim, entre o livramento e a graça, o cristão precisa mais da segunda. E pra completar o quadro, contrariando o que pensamos, o texto ensina que a graça se revela com mais força quando o livramento NÃO vem. Eis aí uma razão específica por que muitas vezes Deus diz “não”. Ele não nos livra, conforme pedimos, a fim de mostrar a suficiência e o poder da graça, conforme precisamos. Por isso, muitas vezes sofremos injúrias, necessidades, perseguições e angústias sem que Deus nos livre de nada disso. Ele tem algo maior e melhor para nós do que o livramento. E quem aprende isso fica mais forte. Tanto isso é verdade que Paulo disse: “Quando sou fraco (por causa de todas as dores e pesares), então é que sou forte (porque o poder gracioso de Deus me sustenta de forma suficiente)”.

Todos temos de aprender essa preciosa lição. Por isso, recorde-se das súplicas que você fez e que Deus não atendeu. Depois diga a ele: “Obrigado, Senhor, pelo seu ‘não’, pois, por meio dessa resposta, o Senhor me protege das minhas más inclinações e me ensina a depender da sua graça que é suficiente e que se mostra ainda mais poderosa quando estou fraco, jogado no pó”. Você pode fazer essa oração? Trata-se da oração do homem fraco que também é forte. É a oração de quem descobriu a força da graça quando estava caído, sem vigor nenhum, na lama das penúrias. É a oração do crente que aprendeu a ver a vida e seus revezes de uma nova perspectiva — uma perspectiva em que o sofrimento não aparece somente como um espinho que incomoda e machuca, mas também como um remédio que protege, fortalece e faz crescer.

Pr. Marcos Granconato

Non nobis Domine

 

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