Sexta, 26 de Abril de 2024
   
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Quero Ser Pastor! E Agora?

Pastoral

Essa pergunta perpassa a cabeça de muitos cristãos que, a partir de algum momento da vida, começaram a anelar aquele que é talvez o mais excelente ofício eclesiástico mencionado no Novo Testamento (1Tm 3.1).

É claro que, infelizmente, entre essas pessoas há os mal intencionados, os indivíduos que sonham apenas em obter status na igreja, os que querem ser pastor anelando salários elevados e até os que nutrem o desejo maldoso e soberbo de dominar o rebanho. Para esses tipos, o presente artigo não terá muita importância. Na verdade, tenho certeza de que eles vão até ficar enfurecidos quando o lerem.

Essa reação não deverá surpreender. Isso porque as verdades e os conceitos expostos a seguir são dirigidos a homens santos, servos de Deus livres de más intenções, indivíduos que vêm no pastorado um modo de servir melhor ao Reino e se dispõem a trabalhar nesse ofício santo mesmo que só colham dissabores no exercício dele.

Evidentemente, crentes sinceros assim, em sua busca do pastorado, estarão interessados em fazer as coisas do modo como Deus quer. Ora, é precisamente o que Deus quer no tocante a esse assunto que o presente artigo pretende expor.

Inicialmente, é necessário ensinar aos nobres irmãos que aspiram ao episcopado que para alguém ser investido nessa função é preciso antes preencher certos requisitos elencados por Paulo em 1Timóteo 3.2-7 e Tito 1.6-9. Esses textos encerram listas de virtudes que todo pastor deve nutrir em sua vida, sob pena de ser desqualificado para o exercício do múnus episcopal. Assim, quem quiser ser pastor, deve, desde já, cultivar as referidas virtudes em sua vida.

Observando-se as listas de Paulo, descobre-se que o pastor deve ser, primeiramente, irrepreensível. O termo grego (anepilēmpton) aponta para alguém que não oferece motivo para ser acusado de qualquer mancha em seu caráter ou conduta. É um termo genérico e evoca a necessidade de o pastor nutrir todas as demais virtudes alistadas pelo apóstolo.

O ministro de Cristo também deve ser marido de uma só mulher, ou seja, não pode ser bígamo ou polígamo. À luz desse ensino, o homem divorciado e recasado também está impedido de exercer o ofício pastoral, pois o vínculo com a primeira esposa permanece mesmo depois da separação e só se dissolve com a morte (Rm 7.2,3). Na esteira desse ensino, fica evidente que homens viúvos que se casaram novamente não são alcançados pela restrição bíblica.

É bom destacar ainda que as expressões usadas por Paulo nos textos em análise podem também ser traduzidas literalmente como “homem (andrós ou anér) de uma só mulher”, o que indica que não basta o pastor ter somente uma esposa, sendo necessário ainda que seja fiel a ela.

O bispo também tem de ser moderado ou sóbrio (nephálios). Isso significa que ele não pode ser um homem que age de modo impetuoso ou precipitado. Significa, também, que deve se mostrar livre de qualquer tipo de excesso, seja no campo das atitudes, seja nos seus hábitos individuais ligados à vida social, ao trabalho ou mesmo à alimentação. Numa palavra, o pastor deve ser uma pessoa equilibrada.

Os requisitos de Paulo incluem também o vocábulo “sensato”, cujo correspondente grego (sóphron) também pode ser traduzido como “controlado”. No uso dessa palavra, Paulo tem em vista o homem confiável, prudente e que, tendo auto-domínio, é também disciplinado e discreto.

Outra exigência que consta das epístolas pastorais é que o bispo seja respeitável (kósmios). A palavra grega aponta para alguém cuja vida não apresenta desordens, alguém que realiza seus deveres com seriedade e disciplina, impondo limites a si mesmo. Tendo uma vida em que não reina o caos, esse homem revela também ser possuidor de uma mente livre de confusão, com responsabilidades e rumos bem definidos.

Na antiga cultura grega, a hospitalidade era tida na mais alta conta e Paulo, em suas listas, ensina que essa prática deveria também marcar a vida dos pastores, especialmente em um tempo em que evangelistas itinerantes dependiam da hospedagem de outros crentes nas cidades por onde passavam (3João 5-8). Mesmo sendo certo que a realidade presente é distinta da que marcava aqueles dias, não há dúvida de que o pastor, em todas as épocas, deve ser alguém que busca amparar os irmãos que precisam de apoio e ajuda.

Paulo exige também que o bispo seja apto para ensinar. Assim, ele deve demonstrar notável habilidade para comunicar as verdades cristãs, tendo uma didática eficaz e um bom preparo intelectual, estando capacitado, inclusive, para refutar o erro doutrinário que emana da boca dos falsos mestres (2Tm 2.24-26; Tt 1.9).

O cristianismo não proíbe o uso de bebidas alcoólicas (1Tm 5.23), mas condena a embriaguês (Ef  5.18). Por isso, o ministro de Cristo não pode ser um homem apegado ao vinho (pároinos), ou seja, alguém que, mesmo eventualmente, fica bêbado. Daqui também se infere que o pastor deve ser uma pessoa livre de qualquer forma de desregramento ou falta de moderação.

O ensino paulino também veda o ofício pastoral ao indivíduo violento (plēktēs). O homem que Paulo reprova aqui é o tipo brigão, que ameaça e agride os liderados. Na carta a Tito, o apóstolo, além de dizer que o bispo não pode ser violento, afirma também que ele não deve ser irascível (orgílos), termo que descreve a pessoa de “pavio curto”, que explode facilmente. Em vez de ter esse perfil, o bispo precisa ser um líder amável (epieikēs) e pacífico (ámachos), tratando especialmente os membros da igreja de forma gentil e fugindo de disputas e contendas.

Como servo sincero e verdadeiro, o pastor não pode ser homem avarento e amante do dinheiro (aphilárgyros), pois essa é uma das marcas distintivas dos falsos mestres (1Tm 6.5-10; 2Pe 2.3). O bispo que for amante do dinheiro facilmente se desviará do cuidado do rebanho, preocupando-se apenas com formas de elevar rapidamente seu padrão de vida, muitas vezes às custas da própria igreja.

Quanto ao seu lar, o pastor tem de governá-lo bem.  A palavra “governar”, usada por Paulo em 1Timóteo 3.4,5,12 (proistēmi), não significa apenas liderar. O termo também abarca as noções de proteção, cuidado e direção. Assim, o pastor ideal é aquele que exerce autoridade sobre a sua família com afeto e compaixão, mostrando-lhe a direção a seguir, livrando-a de perigos e suprindo suas necessidades tanto físicas como emocionais e espirituais.

Em 1Timóteo 3.4, Paulo diz ainda que o pastor deve ter os filhos em sujeição (hypotagē), isto é, sob seu controle. O apóstolo esclarece que esse controle deve ser exercido com todo respeito (semnotēs), o que significa que o pastor não pode humilhar seus filhos, nem desprezá-los, irritá-los, afligi-los ou adotar uma postura indecente e desonrosa no trato com eles.

Quando escreve a Tito, Paulo diz que os filhos do pastor devem ser crentes (Tt 1.6). A palavra adotada pelo apóstolo nessa passagem (pistós) pode significar alguém que tem fé (o crente) ou alguém que é digno de fé (o homem fiel ou confiável). O termo aparece dezesseis vezes nas epístolas pastorais, sendo dominante o uso no segundo sentido (dez ocorrências). Aliás, nas outras duas ocorrências em Tito (1.9 e 3.8), o único sentido possível é “confiável”.

Assim, tudo indica que, no ensino paulino, os filhos do pastor não precisam ser convertidos, mas devem ser, no mínimo, pessoas fidedignas, verdadeiras e honestas. Isso se harmoniza em parte com o restante das exigências relativas aos filhos do pastor constantes em Tito 1.6. De fato, o texto prossegue dizendo que eles não podem ser pessoas acusadas de vida desregrada (asōtia), nem ser insubmissos (anypótaktos).

O apóstolo explica que o pastor precisa mostrar que governa bem a sua casa porque, se não for capaz de desempenhar bem essa função junto à própria família, certamente também não terá competência nem habilidade para cuidar da igreja de Deus (1Tm 3.5). Sem dúvida, sua forma errada de liderar o lar será adotada também na condução da igreja e, então, o caos, a discórdia, o desrespeito e a indecência reinarão ali absolutos.

Ao homem recém-convertido também é vedado o exercício do pastorado. Em 1Timóteo 3.6, Paulo usa a palavra “neófito” (neóphytos) para descrever o indivíduo nessa condição. Seu uso primário pertence ao contexto agrário e significa recém-plantado.

O novo convertido é, de fato, como uma planta nova e não tem raízes bem fincadas nem, tampouco, forças suficientes para sustentar um trabalho tão pesado como o atribuído ao bispo. Ademais, Paulo, ainda em 1Timóteto 3.6, afirma que, se o neófito for conduzido ao cargo de líder eclesiástico, facilmente será dominado pelo orgulho, talvez por ter alçado tão depressa uma posição de destaque.

Se isso ocorrer, cairá na “condenação do diabo”. Essa expressão pode significar que o pastor será punido por Deus da mesma forma que o diabo foi, perdendo sua posição (Ap 12.7-9), ou que o pastor será vítima do diabo, caindo no laço a que Paulo alude no versículo seguinte (1Tm 3.7). É possível que uma descrição do que ocorre com quem cai nesse laço se encontre 1Timóteo 6.9. Seja qual for a hipótese que Paulo tinha em mente, fica fora de dúvida que é imprudente e errado investir o crente novo no ofício pastoral.

Falando ainda sobre a soberba, é bom destacar que esse pecado não é exclusivo do recém-convertido que é posto em cargos de liderança. Por isso, ao escrever a Tito, Paulo afirma que o candidato ao episcopado, mesmo antes de ser investido no cargo, não deve ser arrogante (authádēs).

É preciso ainda que o bispo tenha bom testemunho dos de fora. Os incrédulos observam a conduta dos cristãos e, com a luz que advém do senso ético natural, conseguem detectar aquilo que não se harmoniza com a justiça e a retidão decorrentes da fé. Por isso, quando não baseada em calúnias, a opinião do mundo acerca da reputação de um determinado irmão deve ser levada em conta, caso o seu nome seja apontado para o exercício do episcopado.

Se essa cautela não for observada, Paulo diz que o pastor cairá em reprovação (oneidismós). Os próprios descrentes vão reprová-lo, insultá-lo e expô-lo vergonhosamente ao descrédito. Ele também cairá no “laço (ou armadilha) do diabo”. Essa figura aparece novamente nas epístolas pastorais em 2Timóteo 2.26 e serve para descrever o estado deplorável de pessoas que, enganadas por Satanás, vivem fazendo a sua vontade. É assustador que um pastor possa chegar nessa condição, mas a experiência e a história mostram a realidade desse perigo.

Restam ainda três qualidades do bispo mencionadas por Paulo que ainda não foram destacadas. São traços alistados em Tito 1.8 que não aparecem na lista de 1Timóteo: amigo do bem, justo e consagrado. O amigo do bem (philágathos) é o homem benevolente, que ama e pratica o que é bom. O justo (díkaios) é aquele que observa os preceitos divinos e cumpre as leis humanas, andando em retidão. Já o indivíduo consagrado (hósios) é o homem santo, livre de iniquidade, que é também devoto e piedoso.

Todas essas marcas devem ser encontradas no pastor sob pena de ele não poder exercer o ministério. Até porque a ausência de qualquer uma delas redundará num ministério fraco, carente de vigor e de impacto espiritual, levando o ministro a buscar substitutos para essas coisas em programas especiais, eventos chamativos, espetáculos vibrantes e outras distrações.

Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

 

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