Sábado, 11 de Maio de 2024
   
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Dá pra Ser Crente em Tessalônica?

Pastoral

Paulo, Silvano e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo” (1Ts 1.1).

Muitos crentes relapsos se escoram na desculpa de que ser crente hoje é muito mais difícil do que era no passado. Eles dizem que, por causa do caos moral que reina na sociedade presente, não podemos esperar muita coisa da igreja atual. Segundo alegam, temos de deixar os heróis da fé ocupar somente as páginas amareladas da história, pondo de lado a esperança de cruzar com alguns deles hoje em dia.

Realmente, as condições sociais e morais de hoje tornam muito difícil o testemunho cristão. Porém, será que a desculpa desses crentes resmungões é aceitável? Eu duvido muito e passo a explicar por quê.

Por volta do ano 50 da Era Cristã, os missionários Paulo e Silas chegaram à cidade de Tessalônica, na Macedônia, e ali pregaram o evangelho (At 17.1-3). Resultado: uma igreja nasceu (At 17.4). Outro resultado: os judeus e os pagãos da cidade ficaram tão enfurecidos que Paulo e Silas tiveram de fugir para Bereia, uma cidade vizinha a cerca de 80 km de distância (At 17.5-10).

Surpreendentemente, mesmo privada do importante acompanhamento de Paulo em sua fase inicial, a igreja de Tessalônica se mostrou uma comunidade cristã magnífica, cheia de sinais de real transformação. Basta ler as epístolas que o apóstolo escreveu àquela igreja pouco tempo depois que deixou a cidade. São cartas repletas de elogios, que destacam o exemplo dos crentes de Tessalônica, mesmo sendo todos eles novos convertidos (1Ts 1.1-10; 2.13-14,19-20; 3.6-9; 4.1,9-10; 2Ts 1.3-4; 3.4).

Fica então a pergunta: como foi possível que crentes com tão pouca experiência de vida cristã, longe de uma liderança espiritual forte, se tornassem modelos para os cristãos de toda a Grécia (1Ts 1.7)? Os crentes resmungões de que falei talvez sugerissem que as condições morais e sociais da velha Tessalônica não eram tão ruins como as de São Paulo ou do Rio de Janeiro hoje em dia. Quem sabe diriam que em Tessalônica o ambiente não fosse tão pesado, facilitando as coisas para os cristãos, de maneira que pudessem amadurecer mais rápido, sem ter de lutar o tempo todo com apelos perversos e ataques cruéis?

Bem, isso seria mesmo muito bom! Porém, as informações sobre a Tessalônica dos dias de Paulo revelam exatamente o oposto dessa bonita suposição. Veja a seguir o quadro feio que a história nos permite pintar acerca daquela grande e antiga cidade.

No século 1, o território abrangido pela Grécia era dividido em basicamente dois grandes distritos: a Acaia, ao sul; e a Macedônia, ao norte. Na Acaia havia duas cidades principais: Atenas e Corinto. Na Macedônia, as cidades principais eram Filipos, Bereia e... Tessalônica. Os romanos haviam conquistado a região em 168 a.C., pondo fim ao domínio grego. Eles, então, dividiram a Macedônia em quatro partes e fizeram de Tessalônica a capital de uma delas. Cerca de vinte anos depois, em 146 a.C., os romanos unificaram novamente a Macedônia e estabeleceram Tessalônica como a capital de toda a província, enchendo seus moradores de orgulho.

Outro fator contribuiu para a grandeza da urbe: a longa Via Egnatia. Essa importante estrada cruzava a cidade e, por causa dela, Tessalônica cresceu ao ponto de ter cerca de 200 mil habitantes nos dias de Paulo. Ligando por terra o Mar Adriático ao Mar Egeu, a Via Egnatia era rota obrigatória para tropas militares e caravanas comerciais que viajavam entre o oriente e o ocidente. Esse tráfego constante, passando por Tessalônica, tornava a cidade um ponto estratégico e um próspero centro comercial. Soldados, comerciantes, viajantes e marinheiros enchiam as ruas da cidade e, obviamente, um fluxo tão grande de pessoas trazia consigo os vícios mais reprováveis. De fato, em Tessalônica reinava todo tipo de perversão sexual. Havia, inclusive, um sistema organizado de prostituição e a lascívia que dominava a cidade era vista até nas paredes das casas, muitas delas ornamentadas com pinturas obscenas.

A criminalidade também crescia de forma galopante em Tessalônica. Os moradores construíam casas sem janelas por causa do número enorme de casos de arrombamento. Furtos e roubos eram problemas absolutamente fora de controle, assim como os assassinatos e o abandono de recém-nascidos. O número crescente de divórcios revelava a crise que dominava as famílias da cidade.

Segundo os historiadores, em Tessalônica havia uma forte comunidade judaica. Zelosos de suas tradições, os judeus haviam construído ali uma grande sinagoga que, aliás, serviu de palco para a pregação de Paulo (At 17.1-2). Esses judeus se mostraram absolutamente contrários à mensagem cristã e, provavelmente estimulados por eles, os pagãos da cidade infligiram grandes sofrimentos às pessoas que se converteram ali (1Ts 2.14-16; 2Ts 1.4).

Como se vê, viver em Tessalônica não era muito diferente de viver em qualquer cidade moderna. Surge, então, novamente, a pergunta: como os antigos cristãos de lá foram capazes de manter tanta firmeza e mostrar tamanha maturidade, mesmo sendo novos convertidos sem um bom pastor por perto?

A resposta é simples e se encontra nas primeiras linhas de 1Tessalonicenses transcritas acima. Aqueles cristãos não viviam apenas em Tessalônica. Eles viviam “em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo”. E essa vida em Deus, própria somente dos verdadeiros eleitos do Senhor (1Ts 1.4), os capacitava a andar de modo santo em qualquer tempo e lugar. Por isso, se eles estivessem aqui hoje, com certeza não teriam um testemunho diferente.

É, crente relapso e resmungão: é melhor inventar outra desculpa!

Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

 

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