Quarta, 08 de Maio de 2024
   
Tamanho do Texto

Pesquisar

A Boate Kiss e a Torre de Siloé

Pastoral

Ou vocês pensam que aqueles dezoito que morreram, quando caiu sobre eles a torre de Siloé, eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu lhes digo que não! Mas se não se arrependerem, todos vocês também perecerão (Lc 13.4-5).

O que estou prestes a escrever vai gerar revolta em muita gente. Por mais que eu tente ser sensível aqui ao sofrimento das pessoas, sei que vou receber pedradas. Mas, e daí? Eu sou cristão. Não consigo enxergar o mundo à minha volta sem as lentes das Escrituras. E ver a realidade através dessas lentes traz muitos problemas. Que o digam os mártires de ontem e de hoje. Ao longo da história, e especialmente nos nossos dias, meus irmãos têm sido presos, torturados, despedaçados e queimados vivos em várias partes do mundo por causa do que acreditam. Por que então eu deveria me surpreender com os palavrões que os incrédulos eventualmente postam na Internet contra a cosmovisão cristã que sempre procuro expor? Ninguém pode esperar colher flores no esgoto.

Bom, vamos lá... O Brasil inteiro ficou consternado com a tragédia que ocorreu a alguns dias na Boate Kiss, em Santa Maria, RS. O país chorou ao ver o intenso sofrimento dos 234 jovens que morreram ali, vítimas do fogo e do gás tóxico. A comunidade internacional também se mostrou imensamente sensibilizada. Os principais jornais do mundo noticiaram a tragédia e celebridades prestaram condolências às famílias das vítimas.

Passada a comoção inicial, começam a surgir agora as diferentes formas de consideração dos fatos. Autoridades (e advogados) se concentram na busca de bodes expiatórios, políticos oportunistas se manifestam dizendo obviedades que todos querem ouvir, conservadores criticam a forma de lazer do jovem moderno e demagogos falam em prestar homenagem às vítimas e até em construir um memorial no local da tragédia.

Homenagem? Memorial? São em propostas desse tipo que quero me concentrar, pois quando aplicadas ao caso em questão, elas conflitam frontalmente com a concepção cristã acerca das tragédias. Deixem-me explicar. Incêndios acontecem em qualquer lugar: em conventos e em prostíbulos; em creches e em prisões; em igrejas e em boates. Quando acontece um terremoto, uma inundação ou a queda de um avião, todo mundo morre, tanto as crianças quanto os adultos, tanto os bons quanto os maus, tanto os honestos quanto os políticos. Isso faz com que a experiência da tragédia muitas vezes pareça injusta. De fato, não há nada mais imparcial nesta vida do que as catástrofes, o que torna impossível associá-las indiscriminadamente com o castigo de Deus, como costumam fazer alguns cristãos de cara feia.

Porém (e quero frisar esse “porém”), a Bíblia fornece base sim (e quero frisar esse “sim”) para que, em alguns casos (e quero frisar esse “em alguns casos”), a tragédia seja interpretada como o justo juízo de Deus contra pessoas que desprezam o conhecimento dele, vivem para comer, beber e farrear, entregam-se à imoralidade, ao vício e ao pecado e se insurgem contra qualquer ensino que procede da Palavra de Deus.

É isso o que se deduz das palavras de Jesus registradas em Lucas 13.4-5 e que encabeçam este artigo. Nesse texto, o Senhor se refere ao desmoronamento de uma torre que ocorrera provavelmente durante os trabalhos de melhoria do suprimento de água em Jerusalém. Dezoito trabalhadores pereceram no acidente e Jesus, ao comentar a catástrofe, enfatizou que ela era apenas uma pequena amostra do que aconteceria com todos os seus ouvintes caso não se arrependessem da vida de pecado, hipocrisia e indiferença espiritual em que viviam.

Eu nunca entrei numa boate, mas imagino que o que acontece lá dentro esteja muito longe de merecer homenagens e memoriais. Imagino que a grande maioria das pessoas que frequentam esses lugares tem verdadeiro horror de palavras como Deus, Jesus, cristão, igreja, evangelho, cruz, arrependimento, santidade, fé e adoração. Creio assim que, do ponto de vista divino, dificilmente elas seriam merecedoras de homenagens ou memoriais.

Por isso, com toda angústia que meu coração pecador é capaz de sentir, acredito que, além de outras lições que esse caso pode nos ensinar à luz da Bíblia, o que ocorreu na Boate Kiss pode ser considerado da mesma forma como Jesus considerou a catástrofe da torre de Siloé, ou seja, como uma amostra do que Deus eventualmente faz, já nesta vida, com pessoas que vivem longe dele, indiferentes à sua Palavra e sem nenhum temor do seu nome (At 12.23).

Com base na Santa Escritura, creio ainda que, assim como a queda da torre de Siloé foi usada por Jesus como um alerta para os habitantes rebeldes de Jerusalém, os trágicos e tristes episódios que ocorreram na Boate Kiss devem servir de alerta para todas as pessoas do Brasil e do mundo acerca do juízo de Deus que um dia virá sobre aqueles que o desprezam (Mt 24.37-39; 2Ts 1.8-10).

Penso que, sob todos esses aspectos, torna-se hoje muito atual e urgente o velho apelo que o profeta Isaías dirigiu aos incrédulos dos seus dias: “Busquem o Senhor enquanto é possível achá-lo; clamem por ele enquanto está perto. Que o ímpio abandone o seu caminho, e o homem mau, os seus pensamentos. Volte-se ele para o Senhor, que terá misericórdia dele; volte-se para o nosso Deus, pois ele dá de bom grado o seu perdão” (Is 55.6-7).

Podem começar a pegar as pedras...

Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

 

Este site é melhor visualizado em Mozilla Firefox, Google Chrome ou Opera.
© Copyright 2009, todos os direitos reservados.
Igreja Batista Redenção.