Quinta, 25 de Abril de 2024
   
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Salmo 18 - O Dia da Libertação Que Vem do Senhor

 

Recentemente, em uma disputa presidencial em nosso País, alguns candidatos, desejosos de angariar votos entre os evangélicos, foram a diversas igrejas, leram textos bíblicos, falaram sobre religião e até oraram. Quem os via tinha a impressão de que eram servos do Senhor de longa data e tinham, na pessoa de Deus, seu interesse primário em termos de obediência. Entretanto, as eleições aconteceram e definiram-se o vencedor e o perdedor. Ambos agradeceram, de público, a seus partidos, seus eleitores, seus cabos eleitorais e até seus secretários particulares, mas não deram qualquer palavra de agradecimento a Deus. O Senhor foi apenas um pretexto, durante breve tempo, para se fazer campanha entre certo grupo de eleitores. Nem mesmo quem saiu vitorioso deu uma palavra de reconhecimento àquele que institui as autoridades (Rm 13.1) e escolhe o líder a quem quer revestir de poder (Dn 4.17,25).

Na verdade, esse tipo de ingratidão é muito comum. Quem de nós, depois de ajudar alguém em problemas, nunca foi completamente esquecido depois da solução dos males? Entretanto, Davi não agia desse modo e o Salmo 18 é a prova disso. Trata-se de um salmo muito interessante devido ao seu registro, praticamente idêntico, em 2Sm 22. Em ambas as referências, o contexto da composição do salmo por Davi é descrito: “O dia em que o Senhor o livrou de todos os seus inimigos e das mãos de Saul”. Diante de tão grande bênção, sabendo quantas vezes Davi orou pedindo por libertação dos inimigos, o salmista demonstra atitudes que realmente são necessárias ao servo de Deus quando tem sua oração atendida.

Em primeiro lugar, Davi valoriza seu relacionamento com Deus. É comum as pessoas se esquecerem de Deus e até abandonarem a igreja quando seus problemas são resolvidos. Isso não aconteceu com Davi porque seu relacionamento não era fundamentado nos seus interesses, mas no seu amor. Ele inicia o salmo dizendo (v.1): “Senhor, eu te amo, ó minha fortaleza” (’erhomka yehwâ hizqî). Dito isso, Davi usa, novamente, o sufixo hebraico de pronome possessivo “meu” por sete vezes no v.2 em referência a Deus. Entre elas, chama o Senhor de “meu Deus” (‘elî). Ele diz “meu” porque tem um relacionamento pessoal com ele; e diz “meu Deus” porque tal relacionamento se baseava, por um lado, na soberania de Deus e, por outro, no seu amor pelos servos.

Davi também se lembra dos feitos de Deus a seu favor. Essa lembrança, obviamente, envolve também seu sofrimento passado, incluindo o risco de ser morto (vv.4,5). Ele recorda sua angústia que o levou, em prantos, à busca de Deus por meio da oração (v.6). Então, em uma virada no tom da sua pena, o salmista contempla a recordação do Senhor atendendo seu pedido, o que ele assim descreve: “Do seu templo o Senhor ouviu a minha voz e o meu grito a ele por socorro chegou aos seus ouvidos” (yishma‘ mehêcalô qôlî weshaw‘atî lepanayw tabô’ be’oznayw). A partir de então (vv.7-19), ele se lembra do que Deus fez em termos figurados que dão um tom vivo à incrível e poderosa libertação do servo e vitória de Deus sobre seus inimigos. Nada escapa da sua memória.

Ele, ainda, reconhece sua condição de fraqueza. No v.17, ao declarar a ação divina na sua libertação, o salmista relata que foi salvo de alguém que nomeia de “meu inimigo forte” (’oyebî ‘az). Obviamente, ao citar esse inimigo na forma singular seguido do complemento no plural “e dos que me aborreciam”, Davi tem em mente, como “inimigo forte”, o rei Saul que o perseguiu com toda ira e com seu poderio militar durante muito tempo. Apesar de ser comum os homens se sentirem “poderosos” quando se veem livres de um mal, Davi não age assim. Ele reconhece sua fraqueza ao explicar que seus inimigos “eram mais fortes do que eu” (’omtsû mimmennî). Esse vislumbre impede que ele se sinta como quem deu fim ao problema, esquecendo-se de glorificar o verdadeiro responsável pelo bem – Deus.

Davi, mesmo diante do alívio, permanece cumprindo a vontade do Senhor. Diferente de pessoas que se aproximam de Deus quando têm problemas e se afastam quando são socorridas, Davi continua na mesma atitude de submissão a Deus e às Escrituras. Podemos perceber tal disposição na afirmação do v.21 em que Davi apresenta seu procedimento reto: “Eu guardei as palavras do Senhor e não reneguei o meu Deus” (shamartî darkê yehwâ welo’-rasha‘tî me’elohay). O modo de Davi se expressar não é pesaroso como se olhasse para uma realidade que se foi, mas com a confiança de que tal afirmação ainda pode ser notada no seu procedimento. Ele permanece obedecendo a Deus e agindo com retidão e santidade.

Depois de narrar vividamente como o Senhor o abençoou pela sua justa instrução e como o fez vencedor dos inimigos (vv.25-45), Davi louva ao Senhor pela sua grandeza. Ele exulta (v.46) e diz: “Exaltado é o Deus da minha salvação” (yarûm ’elôhê yish‘î). A palavra traduzida como “exaltado” dá a ideia de alguém “levantado ao alto”. Assim, Davi reconhece que Deus é tremendamente superior a tudo que existe, tanto que o eleva em seu louvor declarando sua glória. Nesse caso, a tradução “seja exaltado” cumpre o papel de glorificar aquele que ouviu as orações de Davi e o salvou de inimigos mais fortes e mais numerosos que ele.

Durante a exaltação ao Senhor, o salmista testemunha daquilo que lhe fez o Senhor. Ele diz (v.49): “Portanto, eu o aclamarei, Senhor, entre as nações” (‘al-ken ’ôdeka baggôyim yehwâ). Assim, Davi reconhece publicamente as ações de Deus em seu favor e lhe agradece em meio ao louvor. Esse grato testemunho produz salmos, como este, cantados diante de ouvintes a quem o salmista dá testemunho da grandeza de Deus. Tal desejo é afirmado na oração: “Faça eu cânticos ao teu Nome!” (leshimka ’azammerâ).

Essas são as atitudes de Davi no dia em que foi liberto por Deus dos seus inimigos. Entretanto, elas são consequências de uma vida transformada pela fé, pelo relacionamento íntimo com o Senhor e pelo tratamento da Palavra de Deus sobre o salmista. Ele é grato a Deus porque também é amigo de Deus, servo de Deus e beneficiário da graça de Deus. Quanto aos candidatos que vimos por aí, Deus é somente pretexto para seus propósitos, assim como o é para muita gente que “o busca” somente quando lhes interessa. E quanto a você: quer ser um candidato interesseiro, ou quer ser um amigo daquele que ama e age em prol dos seus servos?

Pr. Thomas Tronco

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