Quinta, 28 de Março de 2024
   
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Salmo 148 - Tudo e Todos Adorando ao Senhor

 

Certa vez, o seguinte anúncio apareceu em uma publicação inglesa: “Precisa-se de seis jovens corajosos para irem à China a fim de integrar a Cooperação Industrial Chinesa para uma China Democratizada e Industrializada. Eles ocuparão o lugar de George Hogg, jovem brilhante de 31 anos, pós-graduado em Oxford, que morreu de tétano no Noroeste da China, fora do alcance dos recursos médicos. Se alguém está disposto a correr o risco de ficar doente, suportar desconforto, comer apenas comida chinesa e falar chinês, pode se candidatar imediatamente na Sociedade Anglo-Chinesa de Desenvolvimento. Pessoas não preparadas para assumir riscos semelhantes não devem se candidatar”. Surpreendente, nisso tudo, são as qualificações demonstradas pelo jovem George Hogg que, além de suportar condições tão duras e desfavoráveis, precisava ser substituído por seis homens. O fato de suas raras qualificações serem bastante elevadas não permitia que fosse substituído por qualquer pessoa, motivo pelo qual um chamado de grande alcance foi feito na Inglaterra.

 

O Salmo 148 também é um chamado em larga escala a fim de se louvar alguém incomparável. O chamado à adoração do Senhor eterno é feito em duas esferas: a celestial (vv.1-6) e a terrena (vv.1-14). Entendendo-se que “céus e terra” é um modo de se ver toda a criação, os seres animados e inanimados convocados ao louvor servem figuradamente como partes de um todo, o qual é resultado da criação divina. Há quem entenda que a razão do efusivo louvor do salmo é a restauração nacional, talvez com base no último versículo. Apesar de o louvor do salmo caber muito bem em uma situação como essa — a localização no saltério em que o salmo foi colecionado até sugere essa circunstância —, o contexto real não fica tão claro assim. O que é bastante nítido é o fato de Deus estar exaltando seu povo e impedindo que ele fosse presa de outras nações. Como não poderia deixar de ser, os feitos de Deus são expostos como razões de se atender ao chamado, assim como os feitos de George Hogg serviram de padrão e de motivação ao chamado chinês. Por isso, o salmista aponta três razões para todos os seres adorarem ao Senhor.

A primeira razão para toda criatura adorar a Deus é a criação de tudo que existe (vv.1-6). A existência dos seres é motivo de adorarem seu criador. A primeira esfera do chamado se dirige aos céus (v.1): “Exaltai ao Senhor! Exaltai dos céus ao Senhor! Exaltai-o nas alturas!” (hallû yah hallû ’et-yhwh min-hashamayim hallûhû bammerômîm). É claro que o termo “céu” pode assumir tanto uma conotação espiritual como física e as duas são abarcadas no chamado. Em primeiro lugar, na esfera espiritual, os anjos, provavelmente os primeiros seres criados (cf. Jó 38.4-7), são convocados a adorar a Deus (v.2): “Exaltai-o, todos os seus anjos! Exaltai-o, todo o seu exército!” (hallûhû kol-mal’akayw hallûhû kol-tseva’ô). Já na esfera física, astros celestes recebem o chamado ao louvor (v.3): “Exaltai-o, Sol e Lua! Exaltai-o, todas as estrelas brilhantes!” (hallûhû shemesh weyareah hallûhû kol-kôkevê ’ôr). Quando seres inanimados são chamados ao louvor do criador — como Sol, Lua e estrelas —, há duas maneiras em que isso pode ser compreendido. Em primeiro lugar, de modo retórico, já que seres inanimados não podem exercer uma ação pessoal como essa. Em segundo lugar, não necessariamente separado do primeiro, de um modo passivo no qual o simples fato de existirem revela e exalta a grandeza do criador — assim, o próprio Deus produz louvor ao seu nome revelando quem ele é por meio da criação (Sl 19.1-4).

Seguindo essa linha retórica, o céu físico é chamado em dois planos a adorar a Deus, primeiro o cosmos, por meio da expressão “céu dos céus”, e, depois, a atmosfera, por meio da citação da chuva (v.4): “Exaltai-o, céu dos céus e as águas que estão em cima dos céus” (hallûhû shemê hashamayim wehammayim ’asher me‘al hashamayim). Nenhuma entidade acima da superfície terrestre escapa ao chamado. E há uma razão clara para tanto: a criação (v.5): “Eles devem exaltar o nome do Senhor, pois ele ordenou e eles foram criados” (yehallû ’et-shem yhwh kî hû’ tsiwwâ wenivra’û). Essa é uma excelente razão para se adorar ao Senhor, pois, além de envolver a própria existência dos seres que lhe devem louvor, o fato de Deus ser capaz de dar uma ordem e ela imediatamente se cumprir, principalmente na escala de uma criação universal, torna-o digno da admiração e exaltação de todos. Para qualificar um pouco mais a grandeza da obra criativa do Senhor, o salmista encerra a seção mostrando que a magnificência da criação não está somente no ato da sua formação, mas na manutenção da sua existência (v.6): “Ele os mantém para todo o sempre. Ele deu uma ordem e ela não passará” (wayya‘amîdem la‘ad le‘ôlam hoq-natan welo’ ya‘avôr).

A segunda razão é a majestade do seu nome (vv.7-13). Se a primeira parte exigiu louvor a Deus nos céus, a segunda exige que a adoração seja promovida também na Terra, começando pelos mares (v.7): “Exaltai ao Senhor na Terra, monstros marinhos e todos os oceanos” (hallû ’et-yhwh min-ha’arets tannînîm wekol-tehomôt). O chamado dos seres marinhos em primeiro lugar talvez se deva ao fato de, dentre todos os locais do planeta, os mares serem os mais distantes e de difícil acesso aos homens, principalmente no passado, fazendo-se o chamado no sentido do mais distante até o mais próximo, até chegar ao próprio ser humano. As forças da natureza, temíveis ao homem, são também convocadas a testemunhar o poder de Deus e lhe render glórias, já que a força que possuem vem das ordens divinas (v.8): “Fogo e granizo, neve e fumaça, vento tempestuoso que atende à sua palavra” (’esh ûvarad sheleg weqîtôr rûah se‘arâ ‘osâ devarô). Os próximos a serem adicionados na lista dos adoradores são o relevo terrestre e a flora (v.9): “Montes e todas as colinas, árvores frutíferas e todos os cedros” (heharîm wekol-geva‘ôt ‘ets perî wekol-’arazîm). Estes são seguidos por todos os tipos de animal (v.10): “Os animais selvagens e todos os animais domésticos, répteis e aves que voam” (hahayyâ wekol-behemâ remes wetsiffôr kanaf).

O salmista, então, deixa o campo do chamado a seres impessoais e chega aos destinatários do texto, os homens, começando pelos de maior posição social (v.11): “Reis da Terra e todos os povos, príncipes e todos os juízes da Terra” (malkê-’erets wekol-le’ummîm sarîm wekol-shofetê ’arets). Ao fazer isso, o escritor transmite a ideia de que a majestade de Deus é, em muito, superior à majestade dos reis humanos. Se isso vale para os reis, vale também para cada ser humano, independente de idade, sexo ou posição social (v.12): “Rapazes e moças, também. Velhos junto com jovens” (bahûrîm wegam-betûlôt zeqenîm ‘im-ne‘arîm). Feito esse amplo chamado, o salmista apresenta a majestade de Deus, ou seja, sua dignidade real e autoridade efetiva sobre tudo que existe, como razão para a adoração coletiva (v.13): “Eles devem exaltar o nome do Senhor, pois somente o seu nome é excelso. Sua majestade está acima da Terra e dos céus” (yehallû ’et-shem yhwh kî-nisgav shemô levaddô hôdô ‘al-’erets weshamayim).

A última razão é a valorização do seu povo (v.14). Apesar do chamado amplo, poucos são os seres que atendem consciente e voluntariamente ao chamado. Já dissemos que os seres inanimados e impessoais só o fazem de modo passivo. Quanto aos anjos, a não ser aqueles que se rebelaram contra o Senhor, seguindo a Satanás, todos eles, os quais recebem a designação de “seus anjos” (v.2), de fato existem para exaltar a Deus e assim o fazem (Is 6.3; Hb 1.6; Ap 5.8-13). Entre a humanidade, apesar de o chamado ser amplo, boa parte resiste ao convite por viver em plena rebeldia contra o Senhor. Desse modo, o salmista se dirige àqueles que realmente tem as condições de atenderem ao chamado de exaltar a Deus por serem seus servos (v.14): “Ele exalta o poder do seu povo, o louvor de todos os seus fiéis, dos filhos de Israel, povo próximo dele. Exaltai ao Senhor!” (wayyarem qeren le‘ammô tehillâ lekol-hasîdayw livnê yisra’el ‘am-qerovô hallû-yah). A condição desses servos diante de Deus é exposta aqui para que se esmerem no louvor. Em primeiro lugar, Deus os beneficiou sobremaneira dentre todos os homens, o que, nesse caso particular, parece ocorrer por meio do fortalecimento militar de Judá diante de um povo inimigo — “ele exalta o poder do seu povo”. Em segundo, Deus aceita o culto prestado pelos seus servos ainda que eles não estejam à sua altura — “exalta... o louvor de todos os seus fiéis”. Em terceiro, o Senhor os aproximou de si, produzindo vantagens temporais e eternas — “povo próximo dele”. Tal valorização é motivação mais que suficiente para que seus servos se dediquem de todo coração à exaltação do seu Senhor, pelo que o salmo termina como começou: “Exaltai ao Senhor!”.

Esse chamado permanece, assim como os decretos de Deus e a existência da criação. Passiva ou retoricamente, as coisas criadas ainda revelam e glorificam ao Senhor: “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas” (Rm 1.20). Por isso, mais que nunca é necessário que aqueles que podem devidamente ser chamados de “servos do Senhor” se levantem para exaltar seu Deus que os amou, beneficiou e aproximou de si.

Pr. Thomas Tronco

 

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