Sábado, 12 de Outubro de 2024
   
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Barriga Cheia de Nada

Pastoral

Durante uma severa fome na China, o povo passou a se alimentar de um tipo de pão feito a partir de uma terra comestível. Entretanto, esse ingrediente era totalmente desprovido de quaisquer nutrientes, de modo que quem se alimentava daqueles pães passava fome e ia ficando cada vez mais fraco e desnutrido. Semelhante ao inútil ingrediente daquele pão chinês é o nardo que cresce na Austrália. A partir das folhas desse trevo aquático, é possível fazer pão ou mingau. Porém, eles não contêm nenhuma proteína, carboidrato ou vitamina, compostos fundamentais para a manutenção da vida humana. Aqueles que dependem de tais “alimentos” enchem seus estômagos, mas eventualmente irão morrer.

Na vida cristã isso não é muito diferente. Ela não é mantida por alimento físico, mas espiritual. Suas fontes são específicas, de modo que esse alimento não pode ser encontrado em qualquer lugar. A primeira fonte de alimento espiritual é o Senhor Jesus Cristo. Certa vez, cercado de incrédulos, Jesus foi assim questionado: “Que sinal fazes para que o vejamos e creiamos em ti? Quais são os teus feitos? Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer pão do céu” (Jo 6.30,31). Essa pergunta foi feita por homens que Jesus alimentou na sua primeira multiplicação de pães (Jo 6.1-15; 24-26). Quando eles pedem um sinal para que creiam, nos parece que o objetivo final não era crer, mas comer pão que não tiveram de produzir. Tinham acabado de encontrar uma fonte de alimento que poderia livrá-los da dura labuta da terra. Era isso que eles buscavam de Jesus.

Isso me lembra a multidão que tem procurado igrejas falsas não para adorar a Deus ou buscar a fé em Cristo, mas para obter prosperidade financeira, cura de doenças, soluções para problemas familiares e oportunidade de casamento — busca “sinais”! A mensagem dessas igrejas não é bíblica, nem apresenta Jesus como único redentor de pecados por meio da fé. Entretanto, não é “fé” ou “verdade” que eles procuram, mas “pão” — riquezas e satisfação pessoal. Àqueles homens, Jesus respondeu: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” (Jo 6.35). Porém, além de não crerem nele (Jo 6.36), rejeitaram-no e o abandonaram (Jo 6.60,66).

Outra fonte de alimento espiritual, que só pode ser ingerida com proveito por aqueles que já se alimentaram da salvação em Cristo pela fé, é a Palavra de Deus. O salmista, dedicando o salmo mais longo da Bíblia para enaltecer as Escrituras, diz: “Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! Mais que o mel à minha boca” (Sl 119.103). Ele compara o proveito do ensino de Deus ao proveito de um alimento saudável, nutritivo e delicioso. O que ele diz aqui, de modo figurado e poético, é explicado mais claramente no texto seguinte: “Por meio dos teus preceitos, consigo entendimento; por isso, detesto todo caminho de falsidade” (Sl 119.104). O resultado é o desenvolvimento da santidade. Assim como um bebê que mama pela primeira vez, a salvação em Cristo nos alimenta para uma nova vida. Porém, ao bebê não basta uma refeição apenas. Ele precisa ser sustentado durante todo seu crescimento, até o ocaso da sua vida. Do mesmo modo, quem nasceu novamente pela fé em Jesus necessita agora de alimento diário para crescimento e fortalecimento. E é a partir do conhecimento e da obediência à Palavra de Deus que isso se processa.

Não aprender de Deus o que ele quer de nós e atender aos seus ensinos é viver desnutrido, comendo alimento inútil, fadado a enfraquecer e perecer. Isso também me lembra aqueles que têm rejeitado a mensagem da verdade e buscado movimentos que falam apenas o que querem ouvir — um evangelho sem compromisso. Acusam as igrejas, que insistem em pregar as Escrituras e apresentá-las como Palavra de Deus inspirada e inerrante, de “fundamentalistas”, como se isso fosse uma ofensa verdadeira — é o mesmo que ofender um bom aluno lhe chamando de “estudioso”. Por isso, igrejas com mensagens amenas, “politicamente corretas”, ecumênicas e seculares se enchem com um povo que quer entretenimento e nenhum compromisso.

Assim, o que o mundo chama de “cristianismo” é um movimento numeroso, mas apático, contextualizado com o mundo incrédulo, desigual e com todo tipo de vertentes que pendem ao mundanismo, à imoralidade e à busca por satisfação imediata. Mas esse “cristianismo” contabilizado pelos censos não é o cristianismo verdadeiro, formado por crentes de verdade que foram salvos pela fé em Cristo. Esse, que compreende a chamada “igreja invisível”, tem a característica de ter seus membros alimentados com a salvação e com o ensino de Deus. Não é uma igreja morta, mas viva e em processo de crescimento.

É por isso mesmo que não podemos nos manter apáticos, acomodados e acovardados. Nossa obrigação é oferecer aos perdidos o alimento que nos salvou, falando a eles da mensagem da cruz do nosso salvador e da promessa gratuita de redenção para todo aquele que crer em Jesus (Jo 3.16,36; 14.6; At 4.12; Rm 1.16,17; 10.9; Ef 2.8,9; 1Tm 2.15,16) — leia os textos! Ao mesmo tempo, temos o dever de estudar dedicada e constantemente as Escrituras e nos submeter, por meio delas, ao Deus que as revelou (Js 1.7,8; Sl 1.2,3; 119.11; Mt 7.21,24; Mt 20.28; Lc 11.28; Jo 13.17; 14.21; Tg 1.22-25; 4.17). É certo que as pessoas que assim agem comporão grupos pequenos quando comparados aos das falsas igrejas. Mas, e daí? De que vale ter o estômago cheio e depois vir a perecer por falta de nutrientes?

Pr. Thomas Tronco

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Igreja Batista Redenção.