Segunda, 11 de Novembro de 2024
   
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O Caminho que Conduz à Paz

Pastoral

Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento. O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será convosco” (Fp 4.8-9).

Em tempos em que a sociedade está a ponto de entrar em colapso devido à polarização política e dos mais diversos valores, temos de avaliar o modo como a igreja de Cristo tem reagido diante das suas próprias dificuldades de consenso e relacionamento a fim de que não ocorra o mesmo que temos testemunhado no Brasil e no mundo. A verdade é que uma igreja pacífica não nasce do nada, mas é fruto de um processo que a leva a isso. Quando Paulo inicia o capítulo 4 de Filipenses, ele expõe um problema de relacionamento entre duas senhoras que vinha afetando a paz e roubando a alegria do corpo de Cristo daquela cidade. Não é à toa que ele cita, em versículos subsequentes, a “paz de Deus” (v.7) e o “Deus da paz” (v.9).

Talvez, pensando nesses problemas de relacionamento e em demais atitudes que mantemos que costumam nos custar a paz, o apóstolo, nos versículos 8 e 9, aponta, de modo geral, três etapas na condução de uma igreja pacífica — e a primeira delas se dá no campo do pensamento (v.8). A mente tinha sido assunto do versículo anterior, em que Paulo diz que “a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (v.7). Isso indica que os problemas que anulam a paz não começam nas ações, mas nas coisas que pensamos. Assim, justamente entre dois textos que ressaltam a paz, o escritor ensina que devemos pensar em “tudo que é verdadeiro”, pois uma grande fonte de confusão é ficar imaginando coisas falsas a respeito das pessoas ao redor, como o que elas acham, pensam ou dizem a nosso respeito. Mentalizar tais coisas é adubar uma erva daninha que crescerá e passará da mente ao coração, criando amarguras que refletirão nos relacionamentos.

No mesmo sentido, é preciso também acolher mentalmente um conteúdo que seja “respeitável”, “justo” e “puro”, valores bem diferentes daqueles que o mundo acolhe quando deseja agir para com os demais de modo vingativo e maldoso. Isso pode ser até comum na sociedade moderna, mas não é e nunca será comum ou aceitável na igreja que Cristo uniu por meio da sua morte. Ao contrário, o crente deve nutrir valores que encham seus pensamentos com o que é “amável”, que tenha “boa fama”, que seja marcado pela “virtude” e que seja digno de “louvor” e não de reprovação. Ao se blindar com tais pensamentos, haverá proteção contra diversos tipos de tentação e de impulsos da carne, como imoralidade, desvio da verdade, associação ao mundo e, também, problemas de relacionamento. É difícil manter a paz com pessoas sobre as quais nutrimos pensamentos ruins, inverídicos, raivosos e vingativos. Ao cultivar tal modo de pensar, até a tradicional saudação com um “bom dia” pode ser vista como uma ofensa onde realmente não há.

A segunda etapa da condução da paz está na vertente prática (v.9a). Paulo dá aqui uma ordem, dizendo “isso praticai”, mostrando que a vida cristã não é apenas intelectual, mas um modo de viver. E quando ele diz “isso”, refere-se àquilo que “aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim”, conectando o ensino da Palavra de Deus com o modo de agir dos salvos por Cristo. Significa que o cristianismo não é marcado apenas pelo crescimento no conhecimento bíblico, mas também na aplicação desses ensinos no dia a dia, especialmente naquilo que não nos é fácil ou natural. Isso envolve obediência à Deus a respeito dos seus valores e comandos. Assim, vida cristã é a prática do conhecimento bíblico ou a teologia posta em prática (Tg 1.22-24). No campo dos relacionamentos, assim como nos demais, haverá grandes transformações, pois somos instados a amar, perdoar, usar de paciência e suprimir os impulsos carnais para dar lugar a um modo santo de agir e reagir a outros irmãos que padecem das mesmas fraquezas e defeitos que nós. As Escrituras também nos apontam o modo de corrigir a fim de produzir arrependimento e restauração, objetivos nada iguais àqueles que o mundo abriga. Essas práticas bíblicas protegem a paz, a união e a pureza do corpo de Cristo.

Consequentemente, a terceira etapa da condução da paz está na obtenção da paz (v.9b). A diferença é que, enquanto os outros passos foram associados a deveres que o cristão deve se empenhar em cumprir, a paz é associada à ação graciosa do Senhor, a quem o apóstolo chama de “Deus da paz”, ou seja, o Deus que concede e produz a paz. É claro que a construção do texto expõe essa ação divina como resultado do processo que começa no “pensamento” e se reflete na “prática”. Mas não é possível esquecer que a “paz” não é um resultado mecânico, mas um “fruto do Espírito” (Gl 5.22,23), razão pela qual devemos não apenas obedecer ao Senhor, mas também depender dele e clamar para que nos conceda tão cara e necessária paz ao seu povo a fim de que viva unido em tempos de tanta discórdia, inimizade e desunião.

Em momentos difíceis assim, protejamos nossa mente para não cultivar pensamentos que vão nos inflamar e predispor contra os irmãos, pratiquemos a todo custo as virtudes e ensinos que a Bíblia nos aponta e oremos com toda a dependência de Deus para que ele nos conceda sua maravilhosa paz. Uma igreja que vive assim pode causar grandes mudanças numa sociedade em colapso.

Pr. Thomas Tronco

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