Epitáfio
Epitáfios são inscrições feitas nas lápides de cemitérios que, geralmente, carregam alguma característica marcante da pessoa que ali foi sepultada. Às vezes, traz um breve elogio ao falecido. Curiosamente, o versículo destacado acima funciona como uma “homenagem” semelhante a um epitáfio, mas direcionada a alguém que, diferente de todos, não experimentou a morte.
Elias foi arrebatado ao céu pelo Senhor (2Rs 2.11), assim como Enoque (Gn 5.24). Enquanto assistia àquela cena sem igual, Eliseu, sucessor do profeta, emitiu um breve “epitáfio” a seu respeito, resumindo muito bem o ministério de Elias e o impacto de seu testemunho perante a nação apóstata de Israel.
Mais que uma referência à carruagem que separou Elias de Eliseu, parece que a expressão “carro de Israel e seus cavaleiros” aponta para a função quase militar que o profeta desempenhou enquanto ainda estava aqui. Suas exortações a Acabe, sua fidelidade a Deus diante da idolatria do povo, sua postura para com os profetas de Baal e seu papel na seca de três anos certamente demonstraram como, por meio de Elias, Deus expressava seu poder, sua soberania e sua ira contra a apostasia da nação. Em outras palavras, Elias era praticamente uma “proteção” para Israel no campo espiritual, contrastando diretamente com o abandono do Senhor e a adoração a Baal.
De maneira semelhante, nós, os crentes, somos chamados a desempenhar uma função parecida com a de Elias. No Novo Testamento, a Igreja é chamada de “coluna e alicerce da verdade” (1Tm 3.15); Judas apela aos crentes que lutem “pela fé entregue aos santos de uma vez por todas” (Jd 3); e Paulo alerta os pastores de Éfeso a respeito da necessidade de proteger a igreja (At 20.28-31). Não por acaso, o mesmo apóstolo compara o cristão a um soldado (2Tm 2.3-4).
Ainda que não sejamos profetas, as Escrituras deixam claro que temos a mesma responsabilidade de testemunhar diante de um povo cada vez mais distante de Deus. Afinal, diante das obras repugnantes das trevas, resplandecem os feitos dos filhos de Deus (Mt 5.13-16; Jo 3.19-21). Contrastando com o crescente abandono do Senhor em todas as áreas (Rm 1.18-32), destacam-se o zelo e a fidelidade dos crentes, exatamente como aconteceu com Elias (1Rs 19.10,14).
Na prática, isso significa que precisamos de crentes zelosos pela Sã Doutrina atacando o erro e protegendo a igreja da mentira em suas mais diversas formas. Também quer dizer que temos necessidade de homens corajosos o suficiente para resgatar o conceito bíblico de masculinidade e colocá-lo à vista da sociedade. É imperativo que mulheres virtuosas, mesmo diante da pressão secular, valorizem o papel de esposa, mãe e dona de casa. É preciso, ainda, que profissionais capacitados em todas as áreas do conhecimento demonstrem o senhorio de Cristo em cada milímetro quadrado da criação. Enfim, necessitamos dos “carros de Israel e seus cavaleiros” prontos para a batalha pela verdade.
Eliseu, sucessor do grande profeta Elias, compreendeu essa responsabilidade. Quando estava à beira da morte, recebeu o mesmo “epitáfio” que seu mestre (2Rs 13.14). Essa honra, porém, não supera a que os servos de Cristo poderão receber à entrada da eternidade, ouvindo da boca do próprio Senhor: “Servo bom e fiel” (Mt 25.21).
Que privilégio saber que nosso trabalho não se finda numa lápide fria e que qualquer “epitáfio” que tenhamos aqui será, na verdade, um ato constante de louvor a Deus pelos séculos dos séculos!
Níckolas Ramos
Seminarista da IBR