Segunda, 07 de Outubro de 2024
   
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Mas, já?!

Pastoral

“Estou admirado que estejais vos desviando tão depressa...” (Gl 1.6).

A igreja da Galácia deixou Paulo à beira de um colapso nervoso. Aquela comunidade, que havia recebido o Evangelho pela fé no início de sua jornada, em pouco tempo já abria suas portas para o legalismo ferrenho (cf. Gl 2.16), colocando a guarda da Lei como requisito essencial para a salvação e para a vida cristã genuína. Não sem razão, a saudação de Paulo nessa epístola foi curtíssima e sem qualquer elogio aos gálatas ― como era costume do apóstolo em outras cartas ―, partindo rapidamente para um duro discurso de reprovação (Gl 1.6ss).

A situação daquela igreja reflete algo comum ao longo dos séculos, tendo um de seus auges nos acontecimentos que antecederam a Reforma Protestante ― cujo aniversário de quinhentos anos é tema do Encojovem 2017. Trata-se da triste realidade de que alguns pilares centrais da fé cristã são, quase que inevitavelmente, esquecidos ou deturpados com o passar de poucas décadas.

Talvez, aí esteja a real necessidade e aplicabilidade do conhecido lema “igreja reformada, sempre se reformando”. Afinal, desde o século 1, com a entrada do legalismo nas primeiras igrejas cuidadas por Paulo, percebe-se que as comunidades da fé, de tempos em tempos, precisam avaliar sua rota, reajustar sua mecânica e, então, prosseguir viagem. Parece até um processo natural, apesar de indesejável. Se em 1517 o cenário era caótico (como veremos na preleção de abertura do Encojovem, com o Pr. Helder Cardin), quinhentos anos depois temos novamente de retornar a algumas verdades fundamentais do cristianismo bíblico. Alguns exemplos:

1.     A doutrina do sacerdócio universal dos crentes (1Pe 2.9), defendida pelos reformadores e uma das grandes conquistas no retorno às Escrituras, hoje é atacada sob o bordão do “não toque no ungido do Senhor”, evocando claras figuras medievais do clero intocável diante do povo leigo.

2.     O valor dado à Escritura (2Tm 3.16), expresso no intenso trabalho dos reformadores de traduzir a Bíblia para os mais diversos idiomas e também no impacto que pequenos versículos tiveram sobre a vida da igreja ― como Romanos 1.17 para Lutero ―, hoje é banalizado por traduções bíblicas chulas e imorais, transformando o texto sagrado em piada.

3.     O posto da igreja como esfera estatal, controladora da vida dos fiéis e reguladora de absolutamente tudo que acontece abaixo e acima do céu, hoje retorna ao palco da igreja na capa de movimentos como MDA e G12.

4.     A paganização experimentada no século 4, com Constantino, e duramente rechaçada por muitos dos reformadores, discute, em nossos dias, a suposta “relevância da igreja” para o mundo e a “contextualização” da mensagem ao público contemporâneo por meio de verdadeiras “casas de show” que se atrevem a usar o título de igreja.

5.     Não bastasse tudo isso, a imoralidade clerical, típica da Idade Média, hoje volta à tona sob o pretexto do “diálogo com as minorias”. Assim, homossexuais são ordenados a cargos pastorais e peças de teatro que promovem as causas LGBT são encenadas dentro de igrejas cristãs, com direito a aplausos e admiração pública.

Por fim, está mais que na hora de a igreja de Cristo repensar seus caminhos e, olhando para o exemplo da Reforma Protestante, reformar seus rumos, não baseando sua identidade em personalidades ou igrejas que surgiram durante a história, mas no padrão das Escrituras, no ensino de Jesus e dos apóstolos e na vontade expressa de Deus para seu povo. Os reformadores devem, também, ser motivo de encorajamento para nós ao nos mostrar a grande transformação que pode ser efetivada por poucos homens sob a graça e o poder de Deus. Os quinhentos anos da Reforma Protestante devem nos ensinar que não dá para esperar mais quinhentos anos para cada nova avaliação de rumos e metas e para continuar reformando o que é preciso, mas deve ser essa uma atitude constante da igreja que proclama as virtudes e a redenção do nosso Senhor Jesus Cristo. Que nossa vida seja sempre reformada “de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (2Co 3.18).

Níckolas Ramos

Ecclesia reformata et semper reformanda est

 

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