Orando pelo Apóstolo Paulo
Finalmente, irmãos, pedimos que orem por nós. Orem para que a mensagem do Senhor se espalhe rapidamente e seja honrada por onde quer que vá, como aconteceu quando chegou a vocês. Orem também para que sejamos libertos dos perversos e maus, pois nem todos têm fé (2Ts 3.1-2).
Nossos pedidos de oração geralmente revelam as coisas que mais amamos. É por isso que, muitas vezes, vemos as crianças pedindo oração por seu cachorrinho ou por outro bichinho de estimação qualquer. É também por isso que sempre rogamos que nossos irmãos orem por nossa saúde, por nossa família e por nosso sucesso no trabalho e na vida acadêmica.
Não existe nada de errado em pedir oração por essas coisas. Se Deus é a fonte de todo bem (Tg 1.17), então é natural que esperemos das suas mãos quaisquer coisas agradáveis, até mesmo as que possam advir ao nosso gato de estimação.
O apóstolo Paulo também tinha seus “amores”. Obviamente, esses amores também se revelavam em seus pedidos de oração. Um bom exemplo disso está no texto supracitado. Nessa passagem, Paulo mostra, a rigor, que tinha um amor profundo pelo evangelho. Tanto isso é verdade que os pedidos de oração que faz aos tessalonicenses são apenas três, todos voltados para a obra de divulgação das Boas Novas.
Com efeito, o primeiro pedido de oração de Paulo é que “a mensagem do Senhor se espalhe rapidamente”. O apóstolo sabia que, ainda que fosse um crente zeloso e um arauto fiel da mensagem do Mestre, nada em seu trabalho teria sucesso sem a atuação de Deus. No fundo de seu coração ele reconhecia que era uma das “coisas fracas do mundo” que Deus havia escolhido “para envergonhar as fortes” (1Co 1.27-28), tendo certeza de que jamais seria capaz de realizar seu ministério sem a bênção e a capacitação do Senhor (Ef 6.19; Cl 4.3-4).
Assim, Paulo suplicou que os irmãos recém-convertidos de Tessalônica orassem para que, sob a mão poderosa de Deus, o evangelho se espalhasse depressa por todo o mundo (o verbo empregado aqui [trecho] evoca a ideia de avanço rápido), anelando, certamente, que seus esforços fossem usados para que isso acontecesse.
Não foi, contudo, somente pela propagação da fé que Paulo pediu oração. Ele foi além. Paulo queria que os crentes sofridos da perversa cidade de Tessalônica se lembrassem também de orar para que a Palavra de Deus, ou seja, a mensagem de Cristo, fosse “honrada”. O santo apóstolo não desejava que os homens apenas ouvissem falar do evangelho. Não almejava apenas que a causa pela qual lutava fosse conhecida e famosa. Ele queria que os homens, aos quais a Palavra de Deus chegasse, honrassem-na.
O verbo empregado nesse ponto do texto em análise é doxazo e está na voz passiva. O leque de significados desse verbo indica que Paulo desejava que o evangelho fosse glorificado, enaltecido, honrado e respeitado enquanto se espalhava. Essa expectativa do apóstolo revela o modo como o verdadeiro convertido reage ao anúncio das Boas Novas. O homem que realmente acolhe a fé salvadora não expressa somente uma anuência fria e apática à mensagem de Cristo, dizendo secamente apenas coisas do tipo “agora sou evangélico”. Não! Em vez disso, o real convertido reveste as Boas Novas de esplendor, fazendo de sua vida um ornamento da sã doutrina (Tt 2.10) e mostrando com suas palavras e obras a grandeza da fé que abraçou. O texto mostra que Paulo tinha visto isso acontecer na vida dos tessalonicenses e ele agora pedia que seus leitores orassem para que a santa pregação continuasse a produzir efeitos assim.
Finalmente, Paulo pede que orem por sua proteção. O uso do plural indica que ele queria que orassem pela segurança de Silas e de Timóteo também. Os três missionários já haviam sido severamente perseguidos em Tessalônica (At 17.5-9) e o apóstolo sabia que os perigos eram constantes. Por isso ele pedia a oração de todos. Seu objetivo não era a obtenção de mero conforto pessoal, mas sim a neutralização de fatores que impedissem os pregadores de proclamar a mensagem de Cristo.
É interessante notar que, nesse texto, os opositores da fé são descritos como “perversos e maus”. Na língua grega, essas palavras (átopos e ponerós) servem, respectivamente, para descrever gente desajustada, pessoas capazes de práticas erradas incomuns e também homens degenerados, imorais, maliciosos e ruins. Paulo ensina que os mensageiros da paz encontram inimigos desse tipo porque “nem todos têm fé”, ou seja, a incredulidade é a causa principal desses desvios de caráter. E esses desvios se traduzem em comportamentos às vezes tão violentos que somente o poder de Deus é capaz de livrar seus servos das mãos de pessoas dominadas por tanta crueldade.
Os tessalonicenses certamente atenderam o pedido de Paulo e oraram por ele. Em resposta a essas orações, Deus concedeu ao apóstolo quase quinze anos a mais de ministério. Em face disso, é bom lembrar que hoje nós também temos nossos paulos, nossos silas e nossos timóteos. É tempo, portanto, de orarmos por eles para que, por meio de seu trabalho, “a mensagem do Senhor se espalhe rapidamente e seja honrada por onde quer que vá”. É tempo também de orarmos por eles para que sejam “libertos dos perversos e maus, pois nem todos têm fé”.
Pr. Marcos Granconato
Non nobis, Domine