O Véu Pascoal
Enfim, chegou o período do ano em que nosso paladar é tentado pela criatividade e inovação das chocolatarias, enquanto a igreja continua a pregar sua antiga e doce mensagem datada de dois mil anos atrás.
Eu não tenho nada contra a inovação da indústria do chocolate nessa época do ano. Aliás, que continuem inovando o ano todo! Até fiquei muito curioso para experimentar os novos ovos de chocolate com “recheio de colherinha” e os novos sabores como o de “churros” ― que duvido chegar perto do sabor dos churros de rua!
Não é de se estranhar que a Páscoa tenha sido consistentemente desprovida de significado religioso ao longo dos anos. Isso é apenas mais um item do incansável expediente do secularismo. E o mundo também deve esperar que continuemos a proclamar o Cristo ressurreto que permanecerá “escândalo para os judeus e loucura para os gregos” (1Co 1.23).
Como convém lembrar, nós cristãos celebramos a Páscoa relembrando a ressurreição de Jesus Cristo, o Filho de Deus, que foi morto por nossos delitos e pecados (1Co 15.1-4). Logo, todo aquele que se arrepende e crê nele passa a ter “acesso livre a Deus” (Ef 3.12) e, ainda mais maravilhoso, ao local em que o Senhor está a fim de viver eternamente com ele (Ap 21.3).
A expressão usada por Paulo (“acesso livre a Deus”) remonta à aliança mosaica, quando apenas o sumo sacerdote podia adentrar o Santo dos Santos, um local restrito separado por um véu resistente. Ali, o sumo sacerdote, uma vez por ano e tomado de todo temor, apresentava o sangue do sacrifício pelos pecados cometidos pelo povo, incluindo ele próprio (Lv 16.15; Hb 5.3; Hb 16.15).
Quando Jesus Cristo morreu na cruz, ele deu um grande brado antes de expirar. Naquele momento, algo surpreendente aconteceu: o véu que restringia o Santo dos Santos foi rasgado violentamente de alto a baixo (Mt 27.50-51) e os crentes, debaixo da nova e eterna aliança, passaram a ter acesso livre a Deus com a autoridade (e responsabilidade) de um sacerdote dessa nova aliança entre Deus e os homens (1Pd 2.9).
Há três verdades sobre o véu que nos impedia de ter acesso livre a Deus. Essas três verdades podem ser obtidas em resposta a três perguntas: Quem rasgou o véu? Para quem o véu foi rasgado? E, finalmente, quem era o véu?
As respostas às duas primeiras perguntas já foram indiretamente dadas nos parágrafos anteriores. Foi Deus quem rasgou o véu tão firmemente entrelaçado, de cima para baixo. Aliás, Deus ainda trabalha com véus, mas no plano individual. A Escritura diz que há um véu sobre nossos corações que nos impede de enxergar e de nos render a Cristo ― e é apenas o Senhor quem pode remover esse véu, em Cristo Jesus (2Co 3.15-16).
Todavia, a terceira pergunta é um tanto curiosa: Quem é o véu? No versículo em epígrafe, o autor de Hebreus responde a essa pergunta. O véu é o próprio corpo de Cristo violentamente dilacerado na cruz por nossos pecados. Não foi apenas o som seco do rasgar de uma cortina que ecoou em Jerusalém naquela sexta-feira sangrenta. Foi o brado de dor de Jesus ao ter seu corpo rasgado em punição pelos nossos pecados.
Por causa desse véu rasgado violentamente ― o corpo de Cristo ― e do véu da incredulidade que foi removido de nossos corações, podemos, agora, anelar pelo que acontecerá com o véu dos véus ― o véu escatológico. Esse véu é muito diferente. É um véu de alegria e celebração: é o adereço que a noiva, a Igreja, usará ao encontrar o seu noivo, Jesus Cristo, nas futuras bodas do Cordeiro. O véu da Igreja não será rasgado violentamente. Muito pelo contrário, o Senhor, assim como fez um dia com o véu de nossa incredulidade, o removerá gentilmente do rosto de sua noiva, a Igreja, que finalmente estará com ele para os séculos dos séculos.
“Regozijemo-nos! Vamos nos alegrar e dar-lhe glória! Pois chegou a hora do casamento do Cordeiro, e a sua noiva já se aprontou. Para vestir-se, foi-lhe dado linho fino, brilhante e puro” (Ap 19.7,8a).
Ev. Leandro Boer