Quinta, 14 de Novembro de 2024
   
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A Oração como Instrumento de Ensino

Pastoral

"Quanto a nós, não podemos deixar de dar graças a Deus por vocês, irmãos amados pelo Senhor. Somos sempre gratos porque Deus os escolheu para estarem entre os primeiros a receber a salvação por meio do Espírito que os torna santos e pela fé na verdade" (2Ts 2.13).

Poucos discordariam do fato de que a oração pode servir como um eficaz instrumento de ensino. Em minha experiência de vida cristã já vi bons e maus exemplos disso. Um exemplo da oração como recurso para instruir no mal eu testemunhei numa igreja de que fui membro na juventude. Lembro-me que uma senhora se levantou durante o culto para orar por um enfermo e pronunciou desvios horríveis, transmitindo a toda igreja as ideias da pervertida teologia triunfalista e da malfadada doutrina da confissão positiva.

“Nós sabemos, Senhor” ― dizia ela com a voz embargada, fingindo emoção ― “que não é da tua vontade que o teu povo adoeça; que Cristo levou sobre si as nossas enfermidades... Por isso, declaramos agora a cura desse irmão e repreendemos todo espírito de enfermidade que está agindo na vida dele...”. E com aberrações doutrinárias desse tipo, ela instruiu a igreja no erro, corrompendo a mente de todos, sem que os líderes eclesiásticos presentes a interrompessem naquela obra perversa.

Se, porém, de um lado, a oração dos falsos mestres instrui no erro, as orações dos homens de Deus são fontes inesgotáveis de sã doutrina, constituindo-se em verdadeiras aulas de boa teologia. Esse é o caso das orações de Paulo. De fato, verdades teológicas riquíssimas podem ser aprendidas nas súplicas do apóstolo e o versículo transcrito acima é prova disso ao deixar transparecer três lições importantes sobre a salvação.

A primeira lição presente na oração que Paulo fazia agradecendo a Deus pela vida dos crentes de Tessalônica é a de que Deus os havia escolhido “para estarem entre os primeiros a receber a salvação”. A doutrina de que Deus escolhe aqueles a quem quer salvar é ensinada amplamente nas Escrituras. No entanto, é surpreendente como um vasto número de crentes opõe resistência a ela. Geralmente, o argumento usado contra o ensino da livre escolha divina é a afirmação bíblica de que Deus não faz “acepção de pessoas” (Rm 2.11). Porém, a escolha salvífica de Deus está muito longe de ser uma forma de acepção de pessoas. Isso porque Deus escolhe gente de todas as origens, idades, classes sociais, raças e formações. Ele não escolhe somente ricos, nem somente jovens, judeus ou pessoas doutas. Antes, sua escolha é abrangente, o que faz com que haja plena diversidade em seu povo. De fato, longe de Deus fazer acepção de pessoas!

Note ainda que, segundo a presente tradução, Paulo agradecia a Deus não somente porque os crentes de Tessalônica tinham sido escolhidos para serem salvos, mas especialmente porque tinham sido escolhidos para serem “os primeiros a receber a salvação”, ou seja, para serem as primícias da lavoura de Deus (o termo grego usado por Paulo significa também “primeiros frutos”). Outra tradução igualmente válida seria: “Deus os escolheu desde o princípio para a salvação”. Se essa alternativa de tradução for adotada, então é provável que Paulo agradecesse a Deus porque os tessalonicenses tinham sido escolhidos por ele desde antes da fundação do mundo (Ef 1.4), o que, de fato, seria um motivo glorioso de gratidão.

A segunda lição presente no versículo transcrito acima é a de que a salvação é realizada “por meio do Espírito... e pela fé na verdade”. Isso indica que ninguém se torna crente apenas porque começou a frequentar uma igreja evangélica e passou a usar terno e gravata aos domingos. Indica também que ninguém é salvo porque pensou bem e concluiu que o cristianismo é uma boa filosofia de vida. A salvação é, como se vê no texto, obra do Espírito Santo na vida da pessoa (1Co 6.11; 1Ts 1.5; Tt 3.5). É ele quem atua no coração do homem perdido, levando a efeito uma obra de convencimento e fazendo com que o escolhido, no fim das contas, deposite “fé na verdade”, sendo, enfim, salvo (Ef 2.8). Era por reconhecer isso, entre outras coisas, que Paulo dava graças a Deus pelos crentes a quem escrevia. Ele sabia que se não fosse pela obra do Espírito, eles jamais creriam e nunca poderiam ser chamados de “irmãos amados pelo Senhor”.

Finalmente, ao fazer alusão à suas ações de graças, Paulo ensina que a salvação é acompanhada pela santificação. Isso fica claro quando ele fala do “Espírito que os torna santos”. O que se conclui dessa afirmação é que não existe nenhum salvo que não seja também santo. Eis aí uma verdade que precisa ser muito enfatizada nos dias de hoje em que uma multidão de gente suja e perversa se apresenta como crente. Com efeito, vemos atualmente “igrejas” que defendem e promovem as mais chocantes formas de promiscuidade, testemunhamos a multiplicação de indivíduos que se apresentam como evangélicos, mas que têm a boca suja, praticam imoralidades horrendas, vivem em adultérios e fornicações e imitam o mundo em tudo que fazem. Muitas pessoas hoje em dia dizem que são cristãs mas andam com gente que não presta, sendo também enganadoras, hipócritas, mentirosas, amantes do dinheiro, desonestas e agressivas.

Nada disso deve nos enganar. Pessoas assim não são crentes em hipótese alguma. O homem salvo, ensina Paulo, é santificado e isso não significa apenas que ele é separado por Deus, mas também que é transformado (1Co 6.11; 2Co 3.18; Cl 3.9-10), passando a viver uma vida nova de retidão e sendo capacitado para vencer o mundo mau que o cerca (1Jo 5.4-5).

Eis aí três lições importantes sobre a salvação. Ensine-as aos seus irmãos na fé... Quem sabe na próxima oração que fizer em público!

Pr. Marcos Granconato

Non nobis, Domine

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