Quinta, 14 de Novembro de 2024
   
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A Luta pela Masculinidade (Parte 1)

Pastoral

Sucesso nas décadas de 1970 e 1980, a série de filmes do boxeador Rocky Balboa, interpretado por Sylvester Stallone, ganhou o público com um protagonista conhecido por sua determinação, lealdade e integridade. Mesmo diante dos mais severos desafios, Rocky ponderava suas decisões profissionais e familiares, demonstrando exemplos práticos de como um homem deve se portar diante dos cenários que se desenham para ele. Hoje, porém, esse tipo de masculinidade, representada pelo pacato boxeador da Filadélfia, não seria tão bem aceita por nossa sociedade, seja dentro ou fora da igreja.

A verdade é que passamos por uma crise de masculinidade. As pautas dos grupos sociais têm se concentrado, cada vez mais, em destruir qualquer paradigma sobre o que significa, de fato, ser homem. A relativização da moral também contribuiu grandemente para isso, retirando dos rapazes qualquer responsabilidade social cabível ao sexo masculino. Dentro da igreja, os reflexos disso podem ser sentidos em diversas esferas, desde os jovens que ocupam os bancos até a liderança em si. Por isso, a fim de retratar essa crise e conhecer melhor o nosso oponente na luta pela masculinidade, abordaremos, brevemente, quatro elementos que compõem esse problema e, por fim, a proposta bíblica para a questão. Analisaremos quatro C’s: cenário, consequências, culpados e cura.

Comecemos, então, pelo cenário dessa crise. O comportamento do homem brasileiro mudou. Pesquisas mostram o crescimento do mercado de cosméticos masculinos e a proliferação de espaços de beleza voltados para esse público. Agora, não existe apenas o “dia da noiva”, mas o noivo também pode desfrutar de um dia exclusivo de cuidados para o casamento. Peças de roupa, antes tidas como femininas saias, por exemplo —, já fazem parte do guarda-roupa masculino. Entre os mais jovens, a tendência para esses hábitos é ainda maior. A moda do cotidiano deixa isso bem claro: roupas apertadas, cabelos arranjados depois de horas em frente ao espelho, sobrancelhas feitas, unhas pintadas, tudo em nome de um excessivo zelo pela imagem e vaidade, o que é, na verdade, natural de mulheres. Essa preocupação demasiada com a aparência tem criado um tipo de homem esquelético, pálido, raquítico e que não transmite a sensação de força e segurança próprias do homem.

É curioso observar como, em 1Coríntios 6.9, Paulo utiliza o termo grego malakós para se referir aos homossexuais de seu tempo. Além da relação entre pessoas do mesmo sexo, essa palavra carrega consigo também a ideia de algo “macio”, uma característica marcante dos rapazes de nossos dias. Constatações semelhantes vêm até mesmo do contexto não cristão. Segundo a autora Camille Paglia crítica do movimento feminista contemporâneo , os homens dos nossos dias não são mais interessantes para as mulheres que outrora lutavam por essa mudança de paradigmas. Assim, percebe-se que a crise de masculinidade experimentada no século 21 atravessa as mais diversas áreas.

Tendo esse cenário em mente, é possível detectar as consequências da feminilização do homem, a começar pelos efeitos disso na sociedade. Podemos citar o aumento exponencial da homossexualidade, um traço marcante do homem rebelde às instituições divinas (Rm 1.27). Outro reflexo direto desse processo está relacionado ao crescimento da mão de obra feminina em profissões que envolvem certo grau de risco e perigo, tradicionalmente ocupadas por homens: segurança, transporte público, policiamento e construção civil, dentre outras. Perdeu-se também a figura do homem cavalheiro que abre a porta para as mulheres, carrega as sacolas pesadas ou dá o seu assento para alguém mais frágil se sentar no metrô ou ônibus. Em outras palavras, o homem deixou de ser proativo.

Na família, por sua vez, surgiram dificuldades desde sua formação. Ao pensar em um cônjuge, a mulher tem dificuldade de encontrar um homem de verdade, que traga proteção e provisão ao lar a ser constituído. Assim, ela se depara com homens sensíveis e inseguros que, consequentemente, são incapazes de liderar a família e serem a linha de frente contra os perigos e males que atacam o lar (1Pe 3.7). Tornou-se comum, também, a figura do homem de trinta ou quarenta anos ainda morando com os pais e dependente em tudo, sem a menor iniciativa para construir uma vida autônoma e emancipada. São desinteressados em assumir o compromisso de “deixar pai e mãe e se unir à sua mulher” (Gn 2.24). O homem moderno também se tornou incapaz de cumprir as mais corriqueiras e masculinas tarefas no lar, tais como trocar uma lâmpada, substituir a resistência de um chuveiro, abrir a tampa de pote de conserva ou trocar o pneu do carro. Não é por acaso que surgiram os serviços do “marido de aluguel”.

O impacto disso na igreja também é catastrófico. Por ter um perfil delicado e que se ofende facilmente, o homem não mais pode ser exortado nos termos bíblicos (Pv. 27.6,17). Quando confrontado, sua postura é, por vezes, covarde em não assumir a responsabilidade por seus atos, assim como fez Arão ao ser questionado por Moisés acerca do bezerro de ouro (Êx 32.22-25). Além disso, é notório o crescimento do número de “pastoras” e “bispas” na liderança das igrejas, algo certamente condenável pelas Escrituras (1Tm 2.12). Um dos motivos é, justamente, o desinteresse do homem em cumprir suas funções de liderança e provisão tanto no lar como na igreja (1Co 11.3; Ef 5.23,24). A distorção da masculinidade também faz com que os eventos para mulheres na igreja sejam muito mais frequentados, uma vez que os homens, inertes à sua responsabilidade de liderança, não pastoreiam sua esposa e filhos (Ef 5.25-28).

Alguém, apressadamente, pode recorrer à juíza Débora para afirmar o “empoderamento” feminino como algo bíblico (Jz 4.4-10). Entretanto, tal pessoa negligenciará o mote central do livro de Juízes: “Naquela época, não havia rei em Israel; cada um fazia o que lhe parecia certo” (cf. Jz 17.6). Por isso, o trabalho de Débora serve mais para julgamento da covardia masculina, representada em Baraque (v.8,9), do que, efetivamente, confirmar qualquer visão feminista que queira buscar amparo nas Escrituras.

Nas palavras de Paulo, “nos últimos dias haverá tempos difíceis” (2Tm 3.1). De fato, esse será o cenário para os próximos anos: homens agindo, vestindo-se, pensando e se parecendo cada vez mais com mulheres. Se estivéssemos em um dos filmes de Rocky Balboa, já teríamos caído por um cruzado certeiro. Mas será que ainda resta alguma chance de nos levantarmos da lona e honrarmos as calças que vestimos? Certamente! E a Bíblia é rica em apontar caminhos para reconstruirmos a masculinidade em nossos dias.

(Continua).

Isaac Pereira e Níckolas Borges

Alunos da Escola de Pregadores da IBR


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