Deus Castiga
Muita gente não consegue associar a figura de um Deus amoroso com o fato de ele punir as pessoas que pecam contra sua vontade e santidade. Na cabeça desse povo, não há como conciliar bondade e castigo. Daí inventam um deus bobinho, com cara de Madre Tereza de Calcutá, apenas olhando triste a maldade que há no mundo.
É claro que essa visão, como toda concepção teológica delirante, traz prejuízos terríveis para a vida. A principal delas, obviamente, é a perda do temor do Senhor. De fato, quem pensa assim não considera que a mão de Deus é pesada e, então, vive tranquilamente no pecado. É como a criança que é rebelde e desobediente porque sabe que tem um pai “bananão”. A diferença é que a pessoa que pensa assim, cedo ou tarde, vai descobrir, a duras penas, que Deus não é o molenga que imaginaram. Aí, a coisa vai ficar feia...
A grande verdade, porém, é que Deus pune sim. A Bíblia mostra isso, sem deixar margem alguma para dúvidas. Ele pune os incrédulos, tratando-os como inimigos (Sl 68.21), e pune os crentes, disciplinado-os como filhos (Hb 12.6-7).
As punições de Deus, à luz das Escrituras, se dão em duas esferas: na vida pós-morte e na vida presente. Os incrédulos são punidos na vida pós-morte ao serem lançados no inferno para sempre (2Ts 1.9). Os crentes são, por assim dizer, punidos na vida pós-morte, ao serem julgados segundo o bem ou mal que fizeram por meio do corpo, recebendo, então, galardões pífios por causa do mal que fizeram, mas sendo salvos pelos méritos de Cristo (1Co.4.5; 2Co.5.10). No caso dos pastores e mestres, a “punição” pós-morte será de acordo com a obra de edificação que realizaram em prol da igreja. Se construíram mal, não receberão galardão, mas serão salvos como quem escapa de um incêndio (1Co 3.10-15).
Na vida presente, Deus pune os homens de duas formas: física e espiritualmente. As punições físicas envolvem doenças e morte. Os exemplos claros são os crentes de Corinto que celebravam a Ceia desprezando a comunhão com o Corpo de Cristo, a igreja. Por causa dessa conduta, muitos deles estavam doentes e outros haviam morrido (1Co 11.30). Outro exemplo é o casal Ananias e Safira (At 5.1-10), que caíram durinhos logo depois de serem desmascarados por Pedro. (Observação: o pecado deles não foi terem deixado de dar o dízimo como ensinam por aí, mas terem mentido. E só ler os vv.3-4. Aliás, no v.4, Pedro deixou claro que eles não precisavam ter dado oferta nenhuma, caso não quisessem.)
Já no campo espiritual, a punição de Deus opera de diferentes maneiras. Uma delas é a entrega da pessoa a práticas horríveis (Rm 1.24). Isso significa que, muitas vezes, os pecados de algumas pessoas são uma espécie de castigo por outros pecados. De fato, uma vida em que a pessoa se ocupa constantemente de desonrar seu corpo, entregando-se a toda forma de devassidão, é um exemplo dessa forma de punição espiritual de Deus. Sem dúvida, viver assim é uma das maiores desgraças que podem sobrevir ao ser humano!
Outro tipo de punição espiritual é o obscurecimento da mente. Com efeito, Deus pune algumas pessoas tirando delas o bom senso, a sabedoria e a percepção do perigo. Então, tomada pela cegueira e estupidez, a pessoa fala e faz coisas absurdas para a sua própria ruína. Ela chega a ir atrás das mentiras mais toscas inventadas pelos piores falsos mestres (2Ts 2.11-12). No dizer popular, essa pessoa “cava sua própria sepultura”. Nesse sentido, um velho ditado enunciado originalmente em latim dizia: “Aqueles a quem Deus quer destruir, antes enlouquece”. Isso reflete a mais pura verdade. É como se o Senhor fizesse a pessoa se golpear com as próprias mãos!
O endurecimento do coração para que a pessoa não ouça o evangelho ou mesmo o bom conselho é também uma maneira de Deus punir. Faraó foi punido assim (Êx 4.21). Os filhos de Eli também (1Sm 2.25). Amazias é outro exemplo (2Cr 25.20). Ele também pode punir colocando a pessoa sob o poder do diabo a fim de que se torne objeto da ação de Satanás, o que é uma das mais terríveis formas de punição espiritual de Deus (Ef 2.2).
Daria pra falar mais sobre esse assunto, mas acho que já consegui demonstrar que Deus de fato castiga. Não se pode viver zombando da sua pessoa, do seu caráter, da sua Palavra e do seu povo e escapar ileso. Para sempre e sempre, os que se definem como servos de Deus devem manter viva na memória a admoestação feita pelo obscuro autor de Hebreus: “O Senhor julgará o seu povo. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb 10.30-31).
Pr. Marcos Granconato
Non nobis Domine