Segunda, 07 de Outubro de 2024
   
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Congregar É Preciso

Pastoral

Muitos crentes de hoje não gostam de ir à igreja e tampouco se importam em ter comunhão com os irmãos seja onde for. Eles dizem que Jesus nunca ligou para as instituições religiosas do seu tempo e que não devemos ligar também. É verdade que nosso Senhor afirmou que a era do templo judaico com seus sacrifícios estava chegando ao fim por causa da sua obra salvífica. Contudo, textos como Lucas 5.14 mostram que não é correto dizer que Jesus não estava nem aí para as instituições cultuais de sua época enquanto ainda vigoravam.

Geralmente, quem critica a existência de igrejas organizadas busca amparo nos evangelhos porque eles narram os episódios que ocorreram numa época em que as igrejas locais ainda não haviam surgido. As igrejas locais só começaram a aparecer a partir de Atos 2! Mesmo assim, o fato é que, se a história dos evangelhos não mostra Jesus e seus seguidores indo à igreja, essa história diz, pelo menos, que Jesus edificaria sua igreja (Mt 16.18) e que ela deveria ser um grupo unido que teria de zelar pela pureza interna, chegando a expulsar do seu meio os pecadores rebeldes (Mt 18.17).

Os cristãos anti-igreja (é até estranho falar assim; parece o mesmo que falar de médicos anti-hospital) também afirmam que, na presente dispensação, o templo do Espírito Santo é o corpo do crente, de forma que o cristão não precisa ir à igreja, podendo adorar a Deus dentro de si mesmo. Bem, isso é verdade, mas é somente parte da verdade. O NT diz que o templo do Espírito Santo não é só o corpo do cristão. Segundo o ensino paulino, os crentes da igreja de Éfeso formavam um edifício bem ajustado que “crescia” como um “templo santo”, sendo todos “juntamente edificados para morada de Deus em Espírito” (Ef 2.20-22). Assim, segundo o apóstolo, os crentes unidos também formavam um templo santo e esse lado deve ser levado em conta quando se fala sobre o compromisso do crente com uma igreja local.

Deve-se acrescentar a tudo isso o fato de que o NT dá importância vital à igreja como um grupo formalmente organizado. O trabalho missionário dos apóstolos consistia em formar igrejas locais com pastores e tudo (At 14.23) e depois fortalecê-las (At 15.41; 16.5). Os crentes mencionados na Bíblia primavam por se reunir como igreja (At 2.44-47; 11.26; 1Co 14.26). O autor de Hebreus criticou os que abandonavam a sua congregação (Hb 10.25) e João disse que os que saíam da igreja eram somente pessoas que não pertenciam ao povo salvo (1Jo 2.19).

Além disso, Paulo, Pedro, Tiago e João dedicaram suas cartas ao propósito de encorajar, ensinar, corrigir, exortar e proteger igrejas locais. O próprio Jesus, no Apocalipse, se dirigiu a líderes de igrejas locais exortando-os a corrigir o que havia de errado em suas vidas e nas comunidades pelas quais eram responsáveis, tudo para que essas comunidades fossem preservadas (Ap 1—2). Na verdade, cá entre nós, é curioso encontrar crentes que dizem ser contra algo que os apóstolos lutaram tanto para proteger. Pessoas com essas ideias parecem se alinhar mais com o islamismo (que sonha com o fim de todas as igrejas e proíbe sua organização nos países muçulmanos) do que com o cristianismo!

A questão que aparece, então, a partir disso tudo, é a seguinte: o que é congregar? Notem bem: congregar não é necessariamente fazer parte de uma denominação evangélica, nem ir a um edifício religioso (que alguns ainda chamam de templo). Na verdade, é possível alguém congregar numa casa, no salão nobre de um hotel, numa escola ou até debaixo de uma árvore. Por outro lado, o dever de congregar, no sentido pleno, não é realizado em simples reuniões com violão, compartilhar e pipoca! Gente que participa de grupos de estudo bíblico nas casas ou na faculdade faz algo muito bom e deve continuar fazendo. Contudo, o congregar-se no sentido apontado pelo NT não se realiza plenamente assim.

Para que alguém congregue nos moldes fixados pela Bíblia é necessário que a pessoa se associe “formalmente” a uma igreja local, não sendo mero frequentador, mas se identificando com os demais discípulos e participando dos ideais, desafios, alegrias e lutas da comunidade (At 13.1-3; 14.27; 15.22,30-31; 2Co 8.19). É necessário que esteja sob uma liderança eclesiástica constituída por pastores, diáconos e outros líderes que deverão lhe oferecer ferramentas para sua edificação espiritual (Ef 4.11-14; Fp 1.1; Hb 13.17). É também preciso que detecte os dons espirituais que o Espírito Santo lhe deu e os coloque a serviço do corpo de que é membro, visando ao aperfeiçoamento de todos (Rm 12.3-8; 1Co 12.1-27; Ef 4.16). É ainda fundamental que celebre a Ceia do Senhor em plena comunhão com seus irmãos, anunciando a morte do Senhor até que ele venha, conforme Paulo ensinou (1Co 11.23-34). Também precisa participar de processos disciplinares, admoestando irmãos que estão em pecado e participando de reuniões dolorosas em que os impenitentes são expulsos da igreja na busca de pureza (1Co 5.1-13). Isso sem falar em seu dever geral de observar como “comportar-se na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo” (1Tm 3.14). Todas essas coisas (e algumas outras) compõem a vida eclesiástica nos padrões encontrados no NT. Por isso, para realmente “congregar” é preciso que o crente participe disso tudo.

É verdade que, com a realidade presente, com um monte de pastores mentirosos espalhados por aí e milhares de igrejas desviadas da verdade, fica difícil para o crente zeloso encontrar um grupo dentro do qual possa se envolver alegremente desse modo. Porém, o Senhor conhece os que são seus e, certamente, honrará a busca de quem quer fazer sua vontade, colocando no caminho de seu servo uma igreja séria com a qual poderá cooperar. O Senhor poderá até reunir crentes sedentos e orientá-los na formação de igrejas bíblicas, tudo do jeitinho certo descrito no NT. O que não pode acontecer é o cristão se revoltar contra o conceito de igreja local, pois isso equivaleria a se insurgir contra um dos objetos mais preciosos aos olhos de Deus. Afinal de contas, foi a igreja local pastoreada por Timóteo que Paulo chamou de “a casa de Deus... coluna e fundamento da verdade” (1Tm 3.14).

Pr. Marcos Granconato

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