Segunda, 07 de Outubro de 2024
   
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E se não Houvesse Milagre em Naim?

Pastoral

O capítulo 7 do Evangelho de Lucas conta uma história impressionante. Uma viúva, apoiada por seus parentes e amigos, estava para enterrar seu único filho. Em dias em que não havia sistemas de aposentadoria nem previdência social, significava que aquela senhora, já velha demais para trabalhar sem enormes dificuldades, havia perdido a única pessoa que lhe servia de provedora. É claro que, em situações assim, algumas pessoas às vezes se dispõem a prestar um auxílio ocasional. Entretanto, a experiência nos ensina que tais auxílios, quando existem, com o passar do tempo deixam de existir.

Diante dessa situação duplamente triste para a viúva — tanto a perda do seu único e amado filho como o fim do seu sustento —, Lucas conta que Jesus “se compadeceu dela e lhe disse: não chores!” (v.13). Então, abriu caminho no meio da multidão e se aproximou do esquife do rapaz morto e disse: “Jovem, eu te mando: levanta-te!” (v.14). Dito isso, o impressionante ocorreu: “Sentou-se o que estivera morto e passou a falar; e Jesus o restituiu à sua mãe” (v.15). Além da alegria geral, tanto daquela mãe como de toda a comunidade, a intenção de Jesus foi demonstrar sua divindade naquela localidade e também por todo território, pois Lucas conta que “esta notícia a respeito dele divulgou-se por toda a Judeia e por toda a circunvizinhança” (v.17). Além disso, o registro do episódio na Bíblia até hoje nos ensina sobre sua divindade e seu poder. Assim, seu propósito foi plenamente atingido.

Mas, e se Jesus tivesse outros propósitos em sua passagem por Naim? Os planos de Deus são misteriosos e insondáveis. Porém, consigo pensar em pelo menos três propósitos que Jesus podia cumprir nessa ocasião sem que, para isso, ele ressuscitasse o falecido.

Nesse sentido, o primeiro propósito que Jesus podia ter nessa ocasião seria demonstrar sua compaixão. Como no caso de Lázaro, Jesus podia sentir o sofrimento daquelas pessoas e externar esse sentimento por meio de lágrimas (Jo 11.35). É claro que não se trataria de lágrimas artísticas, fruto de uma atuação teatral, mas de uma tristeza real de ver pessoas em um momento de luto, sofrimento, tristeza e desespero. Com isso, tanto aqueles homens que seguiam o féretro como nós que lemos as Escrituras, aprenderíamos que Jesus, mesmo sendo Deus, é dotado de sentimentos e de compaixão, razão pela qual ele trabalhou ativamente para minimizar nosso sofrimento, especialmente no tocante à perdição eterna. O remédio para todo esse sofrimento foi a encarnação do Verbo e a morte do Cordeiro de Deus. Aprenderíamos que Jesus é um “Deus que se compadece”.

Outro propósito que Jesus poderia cumprir nessa ocasião seria ensinar sobre a vida e a morte. Assim como em outras oportunidades, Jesus poderia ter se voltado para a multidão e discursado sobre os valores da vida à luz da perspectiva da morte. Falaria sobre a urgência que o homem tem de buscar a Deus e o perdão divino enquanto é tempo, pois a vida, que costumamos imaginar ser longa e estar sob o nosso controle, é, na verdade, frágil e fugaz. Ela pode se esvair a qualquer momento, como ocorrera ao jovem morto ali. Ele enfatizaria o dia de “hoje” como momento adequado para que o homem se converta a Deus pela fé em seu Filho (Hb 3.7,8,13). Também explicaria que os tempos em que é possível buscar ao Senhor são aqueles em que se tem vida, mas que ao morrer só há o juízo divino (Hb 9.27). Aprenderíamos, com isso, que Jesus é um “Deus que ensina os homens”.

Por fim, um propósito marcante que Jesus poderia ter nesse momento seria consolar os enlutados. Ele poderia ter se aproximado da viúva, que certamente tinha lágrimas correndo em sua face pelas saudades e preocupações, e podia dar-lhe um abraço carinhoso, oferecendo-lhe o consolo que somente Deus pode dar e que os homens nem sequer conseguem compreender, já que é o “Deus de toda consolação” (2Co 1.3). Ao mesmo tempo, ele explicaria àquela senhora que as aflições do mundo são comuns à existência humana, mas que ele é mais poderoso que o mundo e apto a dar paz em qualquer circunstância (Jo 16.33). Além disso, independente do que acontecesse e de onde as pessoas estivessem, Jesus estaria “todos os dias” com aqueles que, pela fé, lhe pertencessem (Mt 28.20), produzindo uma esperança incalculável. Nesse caso, Jesus demonstraria a todos que ele é um “Deus consolador”.

Que propósitos maravilhosos seriam esses nessa ocasião! Os efeitos que eles teriam sobre as pessoas que vissem e ouvissem tudo isso e também sobre os leitores desses registros seriam sempre impressionantes. Só que, nesse caso, ainda que o nome de Deus fosse glorificado e que as qualidades de Jesus fossem conhecidas, o jovem continuaria morto, não havendo ressurreição ou um milagre maravilhoso. Diante disso, as perguntas que restam são: “Jesus seria menos Deus se não fizesse o milagre?”; “Jesus mostraria menor divindade sem ressuscitar o defunto?”; “Compadecimento, ensino e consolo são bens menores que um milagre impressionante?”.

Essas perguntas podem parecer especulações vazias, já que sabemos o que aconteceu em Naim e nada irá mudar tais fatos, mas isso não está nem perto da verdade. Digo isso porque, apesar de Jesus ter realizado uma ressurreição em Naim, ele não costuma fazer isso hoje em dia. Será que isso quer dizer que ele não está mais presente conosco, ou que não é mais o mesmo?

Ao contrário, em situações difíceis como a daquela viúva e de muitas outras pessoas que sofrem, Deus tem demonstrado sua compaixão (Hb 4.15) e não nos tem deixado nunca sozinhos (Mt 28.20), nem sem saber que ele é mais poderoso que as circunstâncias (Jo 16.33). Ele também nos ensina lições preciosas, tanto por meio das Escrituras (2Tm 3.16-17), de estudos bíblicos e da ação dos irmãos (Hb 3.13), como por meio da atuação do Espírito Santo que habita nos salvos por Cristo, ensinando-nos especialmente no meio das aflições e, muitas vezes, diante da morte de pessoas próximas e distantes. Finalmente, nosso Senhor também nos consola, razão pela qual enviou o Consolador divino (Jo 14.26), dando-nos uma paz que não depende das circunstâncias (Jo 14.27), tão maravilhosa que o mundo sequer consegue entender (Fp 4.7).

As perguntas que faço, então, a você, são: você se satisfaz e se consola em saber que Deus se compadece e está atento ao seu sofrimento?; você tem aprendido as lições que Deus quer lhe ensinar pela Bíblia e por meio das circunstâncias da vida, ou insiste em permanecer teimoso no seu “jeitão”?; você tem percebido a ação do Espírito Santo no sentido de lhe dar consolo, ou prefere voltar ao sofrimento dando-lhe atenção e importância indevidas?; Jesus continua sendo seu Deus mesmo sem realizar um milagre maravilhoso, além da sua salvação?; você o adora e serve do mesmo modo como se ele fizesse todos os dias prodígios fantásticos diante dos seus olhos?; e a graça dele realmente te basta?.

“Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (2Co 12.9,10).

Pr. Thomas Tronco

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