Tempos de Refrigério
A vida é dura! Desculpem-me começar este artigo com um jargão tão velho, mas não vi outro jeito, considerando o tema sobre o qual resolvi escrever. A vida é dura! Dura demais! Tem gente que descobre isso bem cedo, enfrentando temores, tremores, terrores e até tumores já na infância. Outros, mais privilegiados, descobrem o lado amargo da vida um pouco mais tarde, quando a juventude traz consigo desafios enormes, responsabilidades pesadas, afetos frustrados e trabalhos árduos. Já uma minoria, um grupo bem-pequeno mesmo, só conhece os dias cinzentos quando a idade chega. São aqueles pouquíssimos bem-aventurados que passam a maior parte da vida “numa boa”, desfrutando de saúde, bens, conforto e tranquilidade.
Todos, porém, sem exceção, cedo ou tarde se veem obrigados a fazer coro com aqueles que, vez por outra, dizem “a vida é dura”. Isso porque, segundo a Bíblia, para todos chegam os “maus dias”, nos quais o homem diz “não tenho neles prazer” (Ec 12.1). Nesses dias, percebemos que a preocupação domina mais a nossa mente do que os planos e os sonhos; nesses dias, a farmácia é visitada com mais frequência; nesses dias, as súplicas dirigidas a Deus são mais ardentes e constantes; nesses dias, o sono foge na madrugada e um terror noturno silencioso nos envolve junto com a escuridão.
Então, passando por esse vale sombrio, anelamos por tempos de refrigério, querendo que as coisas voltem a ser como antes, que o clima mude dentro da casa e do coração, que haja mais música, brilho, perfume, riso e paz. Anelamos o alívio — o cair do peso que está sobre os ombros, a dissipação das nuvens que não deixam a luz do Sol aquecer a alma.
Uau! Acho que estou inspirado! Na verdade, eu quero só transmitir um pouco daquilo que sentimos quando enfrentamos problemas, mas acho que acabei usando uma linguagem muito piegas. Bem, vou deixar assim mesmo. Vou deixar assim pra mostrar que não ligo pra linguagem que alguém, porventura, possa usar ao falar sobre esse assunto. Vou deixar assim para ilustrar que o que interessa não são as cores com que a gente pinta os tempos ruins. O estilo que usamos para descrever o gosto amargo de certas fases da vida é irrelevante em face daquilo que o tema abrange — até porque o gosto amargo desses dias não deve ocupar o lugar central do nosso pensamento quando passamos por fases assim.
O que deve ocupar de forma dominante a nossa mente nos dias cinzentos é a expressão “tempos de refrigério”. Digo isso porque essa expressão não descreve apenas um desejo individual que temos quando passamos por problemas difíceis e prolongados. Não! Essa expressão é bíblica. Aparece em Atos 3.20 e se relaciona a uma promessa tão sólida quanto um bloco de granito — a promessa de que aqueles que se arrependem e creem no Cristo de Deus entrarão, afinal, numa nova era, num novo tempo. Eles verão o Reino de Deus ser inaugurado com o advento do Messias e viverão alegremente sob o seu governo, conhecendo “tempos de refrigério” que nunca terão fim.
Eu não estou vivendo uma fase muito alegre da minha vida. Nunca tive de tomar tantos remédios nem me preocupar com tantos exames médicos. Convivo com a expectativa de, a qualquer momento, receber uma ligação informando que o estado de saúde da minha mãe se agravou ou que ela faleceu. A Simone, minha esposa, tirou o sal da minha comida (minha pressão sanguínea anda muito alta). Tenho dois carros. O mais bonito quebrou e o sapato de que mais gosto rompeu a costura há algumas semanas. Ontem, quando já estava todo molhado embaixo do chuveiro, descobri que o xampu tinha acabado! É demais pra mim! Quero tempos de refrigério. Preciso de tempos de refrigério!
E eles virão. Virão sim! Eu sei que virão. O Senhor um dia intervirá mais uma vez diretamente na história e inaugurará um novo tempo. O Príncipe da Paz se sentará no trono de Davi e governará todas as nações com cetro de ferro, num reinado de justiça em que todas as coisas serão restauradas (At 3.21).
Venha o teu Reino, Senhor! Venha o teu Reino! Adianta os ponteiros do teu relógio. Vira depressa as páginas da tua agenda. Sopra as folhas do teu calendário. E vem. Vem fechar a boca do leão, apaziguar o coração do cordeiro, remover o veneno da víbora, afugentar o medo das aves. Venha, enfim, o teu Reino para que o povo que já conheceu os tempos de redenção conheça também os tempos de refrigério e nossa paz, enfim, sempre rompida, flua sem cessar.
Pr. Marcos Granconato
Força e Fé
Soli Deo gloria