Aprisco ou Chiqueiro?
A igreja cristã, em suas comunidades locais, tem sido invadida por pessoas que jamais conheceram a nova vida que Cristo dá. A cada dia, igrejas outrora zelosas da conduta de seus membros, deixam-se infiltrar por gente que nunca provou o verdadeiro arrependimento, nem jamais apresentou qualquer evidência da transformação que advém da verdadeira fé.
A tentativa dos incrédulos de participar da igreja não é nova. Sempre foi assim. Em todas as épocas, por razões que a lógica humana não consegue explicar, pessoas de baixa qualidade moral, portadores de uma fé fingida, sempre quiseram fazer parte do rol de membros de igrejas sérias.
O porquê disso é um intrigante mistério e talvez a explicação resida no trabalho de Satanás que sempre tenta plantar joio no meio do trigo (Mt 13.24-30). Seja qual for, porém, a fonte do problema, o fato é que o quadro tem se agravado e isso por razões que nenhum servo de Cristo pode tolerar.
Sim, as razões pelas quais a presença de incrédulos da pior espécie tem crescido nas igrejas são inaceitáveis. Uma delas, talvez a mais comum, é a mensagem propagada por muitos pastores de que a igreja deve abrir as portas para todos, sem exceção. Esse discurso parece amoroso e cheio de compaixão, mas é falso, tendo nascido no coração do diabo a fim de destruir o povo de Deus.
Outro discurso que parece piedoso é o de que a igreja tem de ser paciente e tolerante com os maus, tratando-os com carinho e esperando que, com isso, um dia eles mudem de vida. Nada, porém, está mais longe do ensino apostólico.
Na verdade, Paulo ensina que pessoas más que se revelam obstinadas e incorrigíveis devem ser expulsas da igreja (1Co 5.2,13). Ele explica que isso deve ser feito porque tolerar gente assim no aprisco de Cristo implica destruir a santidade e a legitimidade da igreja (1Co 5.7), além de revelar um grau de insensatez nos crentes próprio dos ímpios que não se importam com o dever de julgar entre o bem e o mal (1Co 5.12).
Infelizmente, sob esses discursos de “compaixão, paciência e amor”, muitos líderes agem como o pastor da igreja de Tiatira e toleram várias “Jezabéis” em seu meio (Ap 2.20). Por conta disso, veem-se membros de igrejas que são estelionatários, ladrões, golpistas, traidores, caluniadores, mentirosos, pedófilos, fornicadores, adúlteros, homossexuais e traficantes. Trata-se de pessoas que jamais abandonaram seu estilo de vida podre.
Contudo, são recebidos sem reservas e, às vezes, com aplauso nas igrejas em que chegam, mantendo-se ali por longos anos, tolerados “em nome do amor”. E pior: se uma igreja bíblica, depois de muito empenho inútil por recuperá-los, finalmente os expulsa como o próprio Jesus ensina (Mt 18.15-17), logo são taxadas de ruins e atacadas com ferocidade, como se o santo trabalho pastoral de preservar o rebanho de Cristo da invasão de lobos infames fosse a mais absurda iniquidade.
É triste ver esse quadro. É triste porque revela que o anseio por uma igreja numerosa faz aos poucos com que as orientações claras da Bíblia fiquem de lado. É triste porque o amor, não pelos homens, mas pelo aplauso dos homens, vai lentamente transformando apriscos em chiqueiros onde porcos travestidos de ovelhas mostram ao mundo um cristianismo banal que não muda ninguém.
Que Deus guarde o seu povo e levante pastores sábios, desejosos de proteger o rebanho de Cristo; sim, pastores capazes de fazer distinção entre o temor a Deus e o fingimento, entre a confissão cristã e os jargões pronunciados mecanicamente pelos impostores, entre o arrependimento dado pelo Espírito e a dissimulação cínica que só visa a evitar desconfortos.
Enfim, que o Senhor conceda aos que são seus aquele entendimento que não se encontra em livros, mas que capacita a distinguir entre o balido dos cordeiros que precisam ser amparados e o grunhido dos leitões que devem ser banidos.
Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria