Pode ou Não Pode?
Há algumas semanas, as senhoras da igreja participaram de um pequeno debate no grupo delas do WhatsApp referente a ser correto ou não comer alimentos oferecidos a ídolos. Esses debates são muito importantes e produtivos, pois fazem com que os membros da igreja cresçam no conhecimento da verdade e amadureçam em sua vida cristã, tornando-se mais úteis no serviço do Reino. Por isso, quero aqui até mesmo estimular esse tipo de discussão, lembrando apenas que deve sempre ocorrer dentro dos limites da serenidade, assim como foi o debate das senhoras.
Agora que o assunto esfriou, acho que seria bom eu fazer algumas considerações sobre o tema focalizado, só pra não deixar ninguém na dúvida sobre coisas que a Bíblia ensina com relativa clareza.
Em primeiro lugar, quero destacar que o problema da participação do crente em alimentos oferecidos a ídolos não é uma questão recente. Em seu debate, as senhoras discutiram se era correto um crente comer doces vendidos nas atuais festas católicas de Cosme e Damião, por exemplo. Porém, já nos dias de Paulo esse questionamento era feito, não com relação a comer doces, mas sim a comer carne sacrificada a ídolos.
Na época de Paulo, havia dois ambientes em que era possível um crente comer esse tipo de carne. O primeiro era na própria casa ou na de algum amigo ou irmão, durante uma refeição comum. A carne sacrificada a ídolos podia ser comida nessas ocasiões porque as partes do animal que sobravam após a oferenda eram levadas ao açougue, onde eram comercializadas. Ao comprar essa carne, a pessoa acabava comendo alimento consagrado a falsos deuses.
O segundo ambiente em que era possível um cristão comer carne sacrificada era durante uma refeição cultual (1Co 8.10). Nesse ponto é preciso lembrar que a antiga sociedade pagã não fazia distinção alguma entre a vida social e a vida religiosa. Os jogos, as diversões, as festas e todo o cotidiano do homem antigo estavam entrelaçados com suas crenças nas divindades. Por isso, a participação na vida social da cidade colocava os crentes muitas vezes diante de refeições litúrgicas ou cultuais em que a carne oferecida aos deuses era servida. Essa era outra ocasião em que os crentes se viam diante da carne de animais consagrados a ídolos.
Como agir em face desses dois ambientes distintos? Paulo responde a essa pergunta com bastante clareza. A carne vendida no açougue e servida numa refeição comum pode ser comida tranquilamente pelo cristão, pois tudo foi criado por Deus e pertence a ele (1Co 10.25-27). Não existem animais — vivos ou mortos — que pertençam ao diabo ou aos demônios. Do Senhor é tudo que há, podendo o crente comer o que quiser (1Co 8.4-6). Além disso, a oração do cristão santifica a refeição, reconhecendo-a como dádiva do céu (1Co 10.30; 1Tm 4.4). Assim, decididamente, o crente pode comer qualquer alimento, mesmo o que for vendido nas festas de santos católicos. Seu único cuidado deve ser evitar escandalizar o “crente fraco”, ou seja, aquele que ainda não entende essas coisas (1Co.8.7,9,13; 10.28,29,32). Se o cristão souber que está diante de um irmão que acha errado comer o tal doce, deve, então, se abster a fim de não entristecer alguém por quem Cristo morreu.
E quanto ao segundo ambiente? Como agir diante de refeições cultuais? Bem, isso seria mais raro hoje em dia, mas a ordem de Paulo é: “Caia fora!”. As refeições cerimoniais são parte de um culto de adoração aos ídolos e disso os crentes jamais devem participar — não pelo alimento em si, o qual em qualquer situação (no açougue ou no templo) pertence a Deus (1Co 8.8) —, mas porque tomar parte em ações que veneram falsos deuses é um ato que só honra a Satanás (1Co 10.19-22).
Na prática, portanto, creio que, no tocante aos doces consagrados a Cosme e Damião e coisas semelhantes, nós deveríamos agir assim: se os doces chegarem até nós de alguma forma que deles comamos em casa, no trabalho ou na confeitaria, sem problemas. Nessas ocasiões, evitemos tão somente ferir a consciência de irmãos fracos, caso eles estejam por perto. Se, porém, os doces forem servidos durante uma festa idólatra feita para Cosme, Damião ou qualquer outro deusinho fajuto, não coma, pois comer durante aquela festa pode ser considerado (e eu pessoalmente acredito que é mesmo) um gesto de celebração em honra a ídolos, coisa que devemos repudiar ao máximo (1Co 10.14; 1Jo 5.21). Aliás, uma coisa a se perguntar seria “o que você foi fazer naquela festa romanista e cheia de superstição pagã?”.
Bem, espero ter ajudado a clarear as mentes que, acerca desse assunto, ainda estavam meio nebulosas. Somos livres, é verdade, mas nossa liberdade deve ser limitada pelo amor aos irmãos e pelo anseio de agradar a Deus. Se diante de um alimento qualquer, nenhum desses valores for ameaçado, bom apetite!
Pr. Marcos Granconato
Força e Fé
Soli Deo gloria