Provérbios 30.15,16
Provérbios 30.15,16
“Duas filhas tem a sanguessuga. ‘Dê! Dê!’, gritam elas. Há três coisas que nunca estão satisfeitas, quatro que nunca dizem: ‘É o bastante!’: O Sheol, o ventre estéril, a terra, que nunca se dessedenta, e o fogo, que nunca diz: ‘É o bastante!’” (Pv 30.15,16 NVI).
Um soldado do Terceiro Exército dos Estados Unidos foi enviado para um campo de descanso após certo período de serviço ativo. Quando voltou para suas funções ordinárias, ele escreveu uma carta ao general George Patton (1885-1945) e lhe agradeceu pelo excelente atendimento que recebeu. O general Patton escreveu de volta dizendo que, por 35 anos, ele procurou dar todo o conforto e comodidade que podia para os seus homens. Ele também acrescentou que essa foi a primeira carta de agradecimento que recebeu em todos os seus anos no Exército. É impressionante como as pessoas têm muito maior tendência a desejar sempre mais que a sentir gratidão pelo que se tem e pelo que se recebe.
Esse é um trecho de Provérbios cuja forma, cheia de ironia e de figuras de linguagem, torna a compreensão bastante difícil — e a tradução da versão NVI não a deixa mais fácil. O que o autor focaliza aqui é o desejo que nunca se satisfaz, pelo que ele apela para a figura de uma “sanguessuga” que tem “duas filhas”, cada uma delas sempre pedindo insaciavelmente: “Dê! Dê!”. A ideia da sanguessuga produz, em primeiro lugar, a imagem de um ser que vive sempre a sugar mais e mais dos outros e, em segundo, algo repulsivo. Pois é assim mesmo que o autor quer que seus ouvintes se sintam diante da cobiça que nunca se pode conter, nem satisfazer. É discutível se a sanguessuga tem uma intenção adicional de introduzir o sangue na cena, apontando para um impulso incontível por violência. A sequência, no versículo seguinte, assume uma forma que não dá a essa visão o espaço que ele precisaria ter, caso fosse essa a intenção autoral, mas se centraliza na questão do desejo insaciável.
Assim, utilizando uma linguagem poética que lança mão de números crescentes — “duas”, “três”, “quatro” —, com a intenção de pintar um quadro de fundo que pode ser chamado de “quero mais um”, oferece mais quatro exemplos de entidades que “nunca estão satisfeitas”, querendo sempre mais. A primeira é o “Sheol” — ou a “sepultura” —, sempre aguardando novos defuntos. A segunda é o “ventre estéril”, que, especialmente no passado, era a razão da constante e incansável tentativa de uma gestação. A terceira é a “terra”, a qual sempre precisa de mais água, indefinidamente. A quarta é o “fogo”, o qual não respeita limites, divisas, propriedade e proibições, mas queima tudo que pode e tudo em que toca. Assim é aquele para quem as coisas nunca bastam e para quem sempre é preciso mais. Mais dinheiro, mais tempo, mais prazer, mais conquistas, mais satisfação! Aquilo que algumas pessoas costumam enaltecer, chamando-a de ambição, o autor quer que chamemos de pecado, pois é a ação daquele que vive pelos seus sentidos e por seu orgulho, desconsiderando Deus e os outros. Você é assim? Espero que não! Melhor é ser grato pelo que Deus lhe deu e demonstrar tal gratidão por meio do serviço e da adoração fiel.
Pr. Thomas Tronco