Provérbios 30.17
Provérbios 30.17
“Os olhos de quem zomba do pai, e, zombando, nega obediência à mãe, serão arrancados pelos corvos do vale, e serão devorados pelos filhotes do abutre” (Pv 30.17 NVI).
Durante a guerra civil norte-americana, o general Robert E. Lee (1807-1870) certo dia enviou uma mensagem para um dos seus mais brilhantes oficiais, conhecido como Thomas “Stonewall” Jackson (1824-1863), dizendo que, na próxima vez que estivesse por perto, gostaria de vê-lo para tratar de uma questão de pouca importância. O general Jackson recebeu a mensagem e imediatamente se preparou para partir na manhã seguinte. Acordando bem cedo, ele montou seu cavalo pelos oito quilômetros até a sede de Lee, enfrentou uma forte tempestade de vento e neve e chegou quando o general Lee estava terminando seu café da manhã. Muito surpreso, Lee perguntou por que Jackson tinha vindo naquela tempestade. Stonewall respondeu: “Você disse que gostaria de me ver. O menor desejo do general Lee é uma ordem suprema para mim”.
Essa história nos lembra da importância que a hierarquia e o respeito têm na vida dos cristãos — Thomas “Stonewall” Jackson era um fiel e fervoroso cristão, membro de igreja presbiteriana. A Bíblia também encarece esses valores e Agur não é diferente. Ele, que vem traçando o caráter do tolo que não respeita ninguém e cujo desejo é insaciável, chega ao ápice do mau-caráter desse ímpio ao se referir a ele como alguém que “zomba do pai, e, zombando, nega obediência à mãe”. Não se trata apenas da desobediência e rebeldia, pecados que ele já tratou no v.11. Agora, porém, o tema se agrava com a figura da zombaria, a qual revela um profundo desprezo pelos outros, só que, nesse caso, os outros são os próprios pais, as pessoas que deveriam receber todo respeito e cuidado dos filhos. Desprezo grave como esse talvez só seja citado no início do livro, quando Salomão afirma que “o temor do Senhor é o princípio do conhecimento, mas os insensatos desprezam a sabedoria e a disciplina” (Pv 1.7).
Apesar da longa lista de pecados e de tolices da pessoa que rejeita a Deus, a intenção de Agur não é apenas informativa, mas exortativa, pelo que ele dá um severo alerta de que “os olhos” de quem age assim “serão arrancados pelos corvos do vale e serão devorados pelos filhotes do abutre”. Essa é uma figura muito forte que seria imediatamente compreendida naqueles dias, pois uma das punições mais severas que alguém podia receber era ser morto e, em vez de ser enterrado, ter seu corpo jogado no tempo para que os animais e aves o devorassem. A menção aos “corvos” e ao “abutre” serve para mostrar que tal homem viraria carniça devorada por aves de rapina. Em outras palavras, o autor quer transmitir a ideia de que esse tipo de desrespeito e zombaria pelos próprios pais — associado a todos os pecados cometidos por alguém que chega a esse ponto — recebe a maior severidade do juízo divino. Isso também significa que Deus não aceita nenhum tipo de anarquia, mas preza o respeito e a hierarquia da nossa sociedade, a começar pela família. No fim das contas, é preciso muito mais coragem para ser um submisso honrado que para ser um rebelde zombador.
Pr. Thomas Tronco