Provérbios 23.1-3
Provérbios 23.1-3
“Quando você se assentar para uma refeição com alguma autoridade, observe com atenção quem está diante de você, e encoste a faca à sua própria garganta, se estiver com grande apetite. Não deseje as iguarias que lhe oferece, pois podem ser enganosas” (Pv 23.1-3 NVI).
Um menino, que se perdeu da mãe durante o tumulto das compras de Natal, estava parado em um corredor de uma loja de departamentos, gritando a plenos pulmões: “Eu quero a minha mãe”. As pessoas que o viam, sensibilizadas por sua tristeza, começaram a dar algumas moedas para o garoto a fim de animá-lo e de fazê-lo parar de chorar até que sua mãe fosse encontrada. Mas o choro continuou. Finalmente, um vigia se aproximou dele e disse: “Eu sei onde está sua mãe, filho”. O menino olhou para cima com os olhos úmidos e disse: “Eu também sei... apenas fique quieto!”. Na verdade, o garoto estava mantendo seu choro apenas para continuar a ganhar moedas.
As aparências muitas vezes enganam. Por isso, Salomão oferece um ensino que frequentemente é malcompreendido como se fosse apenas uma lição contra a gula. Na verdade, a questão principal não é a “refeição” em si, mas a “refeição com alguma autoridade”, ou seja, estar em uma situação próxima de gente mais rica e poderosa. Em uma situação como essa, o rei sábio orienta seu leitor a conter seu “apetite”, mesmo que seja “grande” — essa é a razão pela qual o texto é frequentemente utilizado para condenar a gula. Porém, o escritor não orienta a manter a “atenção” sobre o que está à mesa, mas a “quem está diante de você”. O perigo apontado pelo texto não vem da comida, mas das pessoas assentadas ao redor da mesa. O texto ainda traz uma ordem análoga que diz “não deseje as iguarias que lhe oferece”, mas não ensina que a razão para isso é a possibilidade de comer demais, mas sim que tais iguarias “podem ser enganosas”. Como, entretanto, uma comida poderia ser enganosa? Mais uma vez o problema não é a comida, mas quem a oferece.
O que Salomão parece ensinar aqui é que o sábio deve ser capaz de enxergar algumas coisas importantes por trás de um banquete desses, assim como as intenções do anfitrião. Se tal anfitrião é descrito como uma “autoridade”, o leitor provavelmente está abaixo dele, de modo que um encontro assim pode ser baseado em segundas intenções, às quais o sábio deve estar atento. Daniel percebeu muito bem que a bondade de Nabucodonosor em lhes oferecer fartos banquetes era fazer com que, gradualmente, ele e seus amigos deixassem seus valores e se tornassem mais parecidos com os babilônicos. Por isso, quando muita bondade lhe for oferecida, não é errado aceitar. Porém, nunca abandone seus valores pessoais para agradar seu benfeitor, nem lhe fique devendo favores que podem comprometer sua integridade mais à frente. Melhor um homem íntegro de barriga vazia que alguém sem caráter de barriga cheia.
Pr. Thomas Tronco