Provérbios 18.4
Provérbios 18.4
“As palavras do homem são águas profundas, mas a fonte da sabedoria é um ribeiro que transborda” (Pv 18.4 NVI).
O grande escritor russo Leon Tolstoi (1828-1910) estava, certo dia, andando por uma rua, quando um mendigo o parou e lhe pediu uma esmola. O escritor procurou em seus bolsos por uma moeda, mas não encontrou nenhuma. Dirigindo-se ao pedinte, disse pesarosamente: “Por favor, não fique com raiva de mim, meu irmão, mas eu não tenho nada comigo. Se eu tivesse, de bom grado lhe daria”. O rosto do mendigo se iluminou e ele disse: “Você me deu mais do que eu pedi. Você me chamou de irmão.” Impressionante como as palavras, que tantas vezes são destrutivas, têm o poder de animar e encorajar os homens mais abatidos pela vida.
Salomão diz isso de um modo belo, usando figuras de linguagem bastante sugestivas, mas colocadas de modo complexo para sua interpretação. A primeira parte do versículo diz que “as palavras do homem são águas profundas”. Essa é uma figura conhecida nas Escrituras. O que não se sabe ao certo é que ênfase Salomão dá a essa figura, podendo ser associada à ideia de algo oculto e inacessível (cf. Pv 20.5) ou algo incompreensível (cf. Ec 7.24). A melhor fórmula para resolver um problema assim é deixar o próprio texto se explicar. Nesse caso, a comparação da primeira parte do versículo com a segunda, em que a sabedoria age como um rio fluente que refrigera as pessoas que bebem de suas águas, dá à primeira parte um sentido mais pesado, no qual as palavras podem trazer perigo e destruição, assim como o fundo do mar a um navio naufragado. Desse modo, as palavras do ímpio têm o poder de destruir vidas e fazê-las sucumbir no mar das críticas, do desprezo, da zombaria e do desencorajamento.
Por sua vez, as palavras do sábio agem e produzem o oposto. O escritor afirma que “a fonte da sabedoria é um ribeiro que transborda”. A expressão “fonte da sabedoria”, aqui, cumpre dois papéis. Ajuda a manter a figura, sendo ela a fonte de onde brota toda essa água, e também serve para apontar, de modo mais prático e literal, a motivação para se dizer palavras sábias, ou seja, um coração sábio. Por isso, em vez de a conversa do sábio produzir risco e destruição, ela traz refrigério aos necessitados, como fizeram as palavras do escritor russo ao mendigo. Contudo, enquanto as palavras de Tolstoi foram incidentais, o sábio escolhe falar o que é bom, edificante, encorajador e consolador. Ele não é um mar obscuro, imprevisível e bravio quando fala, mas como um poço com água pura e fresca para corações sedentos. Sendo assim, pense bem: que tipo de palavras você quer dizer aos outros?
Pr. Thomas Tronco