Provérbios 17.4
Provérbios 17.4
“O ímpio dá atenção aos lábios maus; o mentiroso dá ouvidos à língua destruidora” (Pv 17.4 NVI).
Herodes o Grande mereceu esse título com o qual a história o nomeou. Ele foi, sim, grande. Grande como líder, grande como político, grande como guerreiro e muito grande como construtor. Mas também foi grande na maldade, nos assassinatos, na vingança e, em especial, em dar ouvidos ao mal. Por causa dessa última grandeza, acabou acreditando em acusações de traição da sua esposa e a matou, apesar de amá-la muito. Também matou seus dois filhos por acreditar em falsos boatos de que eles tramavam um tipo de golpe de Estado contra ele. Por fim, vemos, por meio de Herodes, que a corrupção dos maus não se dá apenas na língua e nas mãos. Ela começa em seus ouvidos.
Salomão parecia conhecer esse lado dos maus. É certo que ele enfatiza bastante a atividade perversa da língua dos maus ao espalhar boatos, mentiras e fofocas com a intenção de causar dano nos outros (Pv 11.13; 16.28). Ele fala até da iniciativa desses de recrutar outras pessoas para que o apoiem em seus descaminhos (Pv 16.29). O que ele não tinha dito ainda é que aquele que dá ouvidos à mentira e que se deixa aliciar pelos perversos também é tido como um homem mau: “O ímpio dá atenção aos lábios maus”. Com isso, Salomão credita pecado não apenas ao homem de fala impiedosa, mas àquele cujos ouvidos dão acolhida à mentira e à maldade. O que fala e o que ouve compartilham do mesmo mal e, por isso, andam juntos.
Essa sincronia entre a língua de um e o ouvido do outro se dá não apenas por estarem no mesmo lugar, partilhando a mesma conversa, mas por dividirem as mesmas inclinações, de modo que um mente, mas o faz a outro mentiroso, pelo que o escritor afirma que “o mentiroso dá ouvidos à língua destruidora”. Essas são verdades fortes, impactantes e até chocantes. Anulam a desculpa daquele que dá ouvidos aos maus de que apenas escutou a conversa alheia. Esse versículo o implica no pecado. Assim sendo, o servo de Deus se vê diante de suas responsabilidades. A primeira é cuidar das suas palavras para que não sejam más. A segunda é cuidar dos seus ouvidos para não dar brechas aos discursos ruins, seja acolhendo-os, seja ouvindo o mal sem se manifestar contra ele. Para Deus, até a falta de ação é um ato ruim quando não se defende a verdade e os bons costumes.
Pr. Thomas Tronco