Quanto Deus é Soberano?
“Farei de você um grande povo, e o abençoarei... e por meio de você todos os povos da terra serão abençoados” (Gn 12.2-3).
Este é um texto conhecido e teologicamente significativo. É uma promessa de Deus que se cumpre até hoje por meio da pregação do Evangelho em toda parte redimindo pessoas de todos os povos pela fé em Jesus. Todos os salvos, mesmo os que não têm intimidade com a teologia, conhecem o efeito que essa promessa produz.
O interessante é que, aos olhos humanos, era uma promessa muito difícil de ser cumprida. Abraão tinha setenta e cinco anos quando ouviu essas palavras sem que tivesse um filho por meio de quem fosse formado um “grande povo”. Mas Deus não se apressou por causa da aparente dificuldade. Aguardou até que o “difícil” se tornasse “impossível”. Concedeu Isaque a Abraão vinte e cinco anos mais tarde, quando “Sara já tinha passado da idade de ter filhos” (Gn 18.11).
Nada é difícil para o “Soberano e Senhor dos senhores” (1Tm 6.15). Infelizmente, esse é um conceito que tem enfraquecido no meio da igreja. Não que os crentes não creiam mais que Deus é soberano; a questão é: “Quanto ele é soberano?”
Soberania significa exercer autoridade sem quaisquer restrições. Um dos problemas da igreja moderna é achar que há circunstâncias e pessoas que não estão sob o poder e o controle de Deus. É a crença de que Deus é soberano sobre muitas coisas, mas não sobre todas elas.
É claro que se Deus não é soberano sobre algumas coisas, então alguém é! Se Deus controla apenas uma parte do que acontece, alguém fatalmente está no controle da outra parte. Uns pensam que o diabo é quem controla aquilo que foge à soberania da Deus. Guerras, crimes, doenças e tristezas nada mais seriam que atuações malignas que Deus evitaria se assim pudesse. Entretanto, um número muito maior de pessoas crê que o que Deus não controla está sob o controle dos homens.
O Teísmo aberto se apresenta em uma versão homeopática dentro de muitas igrejas e na mente de uma parte dos cristãos. Para eles Deus é o Senhor de tudo, mas escolheu não interferir na “liberdade do homem”. Apesar de parecer um assunto puramente teológico, é tremendamente prático e capaz de mudar completamente a visão eclesiológica, entre outras tantas, de quem crê assim.
Um pensamento resultante desse conceito é: “Se Deus não é soberano sobre a vontade do incrédulo, cabe à igreja fazê-lo desejar ir a Cristo”. O resultado é a apresentação de um evangelho “manco” que fala de bênçãos e alegria, mas que não fala do pecado do homem, nem da sua condenação. A Palavra de Deus deixa seu lugar para abrir caminho a uma mensagem “contemporânea” que faz com que o mundo não se ache tão pecador. Diminui a ênfase da exposição bíblica e aumenta o valor das programações. Assim, as igrejas ficam cheias, mas cheias de incrédulos que participam do culto a Deus enquanto desprezam o sacrifício de Jesus.
Outro pensamento é: “Se Deus não controla os rumos da igreja, é preciso que ela mesma assuma tal responsabilidade”. Em vista disso, vários sistemas ditos “eficazes” foram criados e são alvo dos esforços de pastores, líderes, departamentos e membros. O problema não reside em administrar a igreja de Deus, mas em fazê-lo sem o Deus da igreja. A confiança é colocada em métodos e propósitos humanos que, muitas vezes, contrariam os ensinos bíblicos. A explicação oferecida é que os tempos mudaram, que a igreja cresceu muito, que os métodos bíblicos “não têm funcionado” e que de outra forma seria “impossível” a igreja chegar aonde chegou.
A promessa de Deus a Abraão e o modo como foi cumprida se contrapõe a tais propostas. Quando Deus anunciou que Sara ficaria grávida e ela riu consigo mesma, o Senhor lhe disse: “Existe alguma coisa impossível para o Senhor?” (Gn 18.14).
O poder soberano de Deus deu a Abraão uma descendência que trouxe alegria àquela família e salvação para judeus e gentios de todas as nações. Diante de tão grande poder, a exclamação de Sara foi: “Quem diria a Abraão que Sara amamentaria filhos?”
É mesmo! Quem diria?
Pr. Thomas Tronco dos Santos