Provérbios 10.23
Provérbios 10.23
“O tolo encontra prazer na má conduta, mas o homem cheio de entendimento deleita-se na sabedoria” (Pv 10.23 NVI).
O grande pai da igreja, Agostinho de Hipona, conta um feito da sua juventude, aos dezesseis anos de idade, quando também vivia na incredulidade, que ainda lhe fazia doer o coração muito tempo depois. No segundo livro da sua obra Confissões, ele narra ter roubado certas peras de um pé que ficava próximo da vinha da sua família. Segundo conta, as peras do seu vizinho não tinham uma aparência muito boa, nem ele tinha necessidade de roubá-las. Conta que furtou as frutas “não para desfrutar do que roubava, mas pelo gosto de roubar, pelo pecado em si”.
Parece que Agostinho sofria, quando adolescente, do mesmo mal abordado por Salomão nesse provérbio que disseca o prazer dos homens no pecado. Na verdade, esse mal não somente pode ser comprovado sem dificuldades em nossa sociedade como há para ele até uma frase quase que consagrada: “O proibido é mais gostoso”. Ao dizer isso, a ideia do tolo não é enfatizar o que se faz, mas porque se faz: por ser proibido. Sem que possamos entender tudo que envolve esse prazer, a transgressão gera grande atração nos homens, pelo que os mais tolos aos olhos de Deus não apenas têm prazer em fazer o que não é correto como também contam aos outros seus feitos ilícitos: “Ele se gaba de sua própria cobiça” (Sl 10.3a). O prazer na má conduta não se limita a eles mesmos, pois “não somente continuam a praticá-las, mas também aprovam aqueles que as praticam” (Rm 1.32b).
O prazer do sábio não é corrompido e distorcido como o do tolo. Ao contrário, tem suas bases na Palavra de Deus e na sabedoria que advém do temor do Senhor. Seu deleite vem de saber que trilha o caminho aberto pelo criador do universo. Ele sente paz de estar em comunhão com seu salvador. Mas note bem: não se trata de um homem alheio às coisas ao seu redor e que não sabe viver. Certamente ele aproveita sua vida, contudo, não sem levar em conta a vontade de Deus e as consequências do pecado. No final das contas, sábio é livre não apenas para fazer o que o alegra, mas também para não fazer o que depois o entristeça: “Siga por onde seu coração mandar, até onde a sua vista alcançar; mas saiba que por todas essas coisas Deus o trará a julgamento” (Ec 11.9b).
Pr. Thomas Tronco