Que vergonha!
Na cidade de São José do Monte Alto (nome fictício) morava um homem obscuro. Ele e sua filha adolescente haviam chegado ali e alugado uma casa simples onde passaram a morar. Ninguém sabia do passado daquele homem, nem o que ele havia sido, nem mesmo o que o havia levado a fixar residência naquela cidade com ânimo definitivo. Como ele era crente, filiou-se à igreja batista local e ali congregava já havia algum tempo.
Um dia, fui a São José do Monte Alto e encontrei esse homem na igreja. Qual não foi a sua surpresa quando me dirigi a ele e disse: “Pr. Jerônimo! O que o senhor está fazendo aqui?”. Ele me olhou confuso. Não estava me reconhecendo. Também, pudera: ele havia sido meu pastor quando eu ainda era criança!
Depois de ter lhe refrescado a memória, perguntei novamente o que o levara a São José. Ele então me contou que sua mulher o havia traído; que toda a igreja que pastoreava tomara conhecimento do caso; que, por isso, se refugiara no interior do Estado, “para aqui curtir a minha vergonha”, dizia ele.
O pastor Jerônimo nunca fizera nada de errado. Contudo, tinha algo que hoje em dia está desaparecendo até mesmo nas igrejas: ele tinha vergonha.
Aquele homem triste e obscuro envergonhava-se de ter sido vítima do pecado. E hoje encontramos pessoas que são praticantes do pecado e não se envergonham.
A perda da vergonha produz outras perdas. Meu bisavô materno dizia que quando um homem perde a vergonha, nada mais lhe resta: todas as demais virtudes também se vão. Além disso, a falta de vergonha revela uma condição espiritual doentia. Dizia o profeta Jeremias acerca dos homens ímpios de Jerusalém: “... cometem abominação sem sentir por isso vergonha; nem sabem que coisa é envergonhar-se.” (Jr 6.15). Por isso, é de se esperar que nossos pecados nos façam corar; que nossas manchas nos façam dizer cabisbaixos: “Que vergonha!”.
Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria