Era uma vez uma Igreja
Era uma vez uma igreja. Nela havia um irmão chamado Irlandino. Tratava-se de um dos membros mais antigos e era muito sério e respeitoso. Homem já de meia idade, com óculos de lentes grossas e um farto bigode, envergando sempre paletó e gravata, Irlandino inspirava, mesmo por sua aparência grave, a confiança em todos. Por isso, ocupava o cargo de tesoureiro da igreja e os irmãos o respeitavam muito.
Um dia o irmão Irlandino sumiu! E não sumiu sozinho: levou consigo uma amante e todo o dinheiro da igreja! Todos ficaram surpresos. Mas, o que se havia de fazer senão lamentar o ocorrido?
Passado algum tempo, o irmão Irlandino voltou. E voltou sozinho. Nem o dinheiro que havia furtado trouxe consigo de volta. Na verdade, ele não voltou para devolver dinheiro algum, nem mesmo para pedir perdão à igreja. Voltou apenas para, digamos, rever os velhos amigos.
Ao chegar na igreja ninguém tocou no assunto do seu pecado. Antes, todos sorriram para ele e deram-lhe abraços; sentaram com ele na cantina e conversaram sobre os mais divertidos assuntos, fazendo com que ele se sentisse em casa. Os crentes mais antigos diziam que isso era perdão (como se perdão fosse tolerar o mal de quem não se arrepende e deixá-lo sem correção). Os crentes mais novos ficaram com a impressão de que o pecado não é coisa lá muito séria. E os jovens e as crianças perceberam que era possível fazer o mal e tudo continuar bem.
“Arrependimento? Para quê?” – pensava Irlandino. “Vergonha? De quê? Afinal de contas é como se nada tivesse acontecido!” E as coisas continuaram assim até que Irlandino morreu.
Morreu? Sim. Mas Irlandino não morreu completamente. Os novos crentes, desprovidos de temor, se tornaram irlandinos. Os jovens e as crianças, agora em fase adulta, vendo como era tratado o pecado ali, também se tornaram irlandinos. Os crentes mais antigos “perdoavam” a todos e na igreja eram só sorrisos e festas. Então... era uma vez uma igreja...
Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria