A Grande Prova de Abraão
Uma das histórias mais tocantes da Bíblia encontra-se no capítulo 22 de Gênesis. Ali é narrado o episódio em que Deus ordenou a Abraão que tomasse seu único filho, Isaque, e o levasse ao Monte Moriá, para sacrificá-lo em holocausto.
Logo na manhã seguinte, Abraão partiu levando consigo dois servos e Isaque. Ao avistar o lugar que Deus havia indicado, Abraão seguiu jornada acompanhado somente do filho. Podemos imaginar o intenso sofrimento do grande patriarca. Enquanto caminhavam, o menino perguntava: "Meu pai! As brasas e a lenha estão aqui, mas onde está o cordeiro para o holocausto?”. Ao que Abraão respondia: "Deus mesmo há de prover o cordeiro para o holocausto, meu filho" (Gn 22.7-8).
No lugar determinado, Abraão construiu um altar, arrumou a lenha, amarrou seu filho e o deitou sobre o altar. Então, pegou a faca e, já na iminência de sacrificar Isaque, o anjo do Senhor bradou do céu: "Abraão, Abraão! Não toque no rapaz. Não lhe faça nada. Agora sei que você teme a Deus, porque não me negou seu filho, o seu único filho" (Gn 22.11-12). Em seguida, Abraão viu um carneiro preso pelos chifres em um arbusto, pegou-o e o sacrificou no lugar do menino. Então Deus renovou as promessas de fazer dele uma grande nação e de abençoar por meio da sua descendência todas as nações da terra.
Há informações interessantes ligadas a essa história. Por exemplo: o lugar em que Abraão quase sacrificou Isaque, o Monte Moriá, é ocupado hoje pelo "Domo da Rocha", um templo muçulmano erigido em 691 d.C., dentro do qual há uma saliência rochosa identificada como o lugar em que Abraão construiu o altar para o sacrifício de seu filho.
Outro fato interessante é a impossibilidade de saber se Isaque era só um menino ou se já era um jovem quando isso aconteceu. Os especialistas na língua hebraica dizem que o termo traduzido como "rapaz", em Gênesis 22.5 e 12, abrange tanto a infância como a fase da juventude.
Uma outra informação importante é dada pelo autor de Hebreus. Ele disse que Abraão se dispôs a sacrificar Isaque porque cria que Deus o ressuscitaria depois de realizado o holocausto (Hb 11.17-19). Na verdade, o próprio texto de Gênesis nos mostra Abraão dizendo aos servos: "Fiquem aqui com o jumento enquanto eu e o rapaz vamos até lá. Depois de adorarmos, voltaremos." (Gn 22.5). Parece que Abraão realmente acreditava que desceria do monte acompanhado de seu filho. Por que ele cria nisso?
A resposta é que Deus havia dito que Isaque lhe daria uma descendência e, quando o sacrifício foi pedido, Isaque ainda não tinha filhos. Abraão pensou: "Ou Deus mentiu e Isaque não me dará netos, ou ele disse a verdade e Isaque ressuscitará depois de sacrificado para me dar descendentes". Abraão considerou a segunda hipótese mais provável. Para ele, a possibilidade da ressurreição era mais crível do que a hipótese de Deus mentir. Não é, portanto, à toa que Abraão ficou conhecido como o maior exemplo de fé jamais visto.
Finalmente, a informação mais importante diz respeito ao carneiro que Deus providenciou para morrer no lugar de Isaque. Esse episódio prenunciou um evento muito importante que ocorreria quase 2 mil anos depois, ou seja, a morte de Cristo, "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29). De fato, assim como o carneiro encontrado por Abraão no alto do monte, preso em um arbusto, substituiu Isaque morrendo em seu lugar (Gn 22.13), nosso Senhor também agonizou sobre um monte, preso ao lenho, ferido com espinhos, tudo a fim de morrer em nosso lugar.
Desse paralelo não se pode deixar de formular um convite à fé. Sim, pois um cordeiro morreu no Monte Moriá e Isaque escapou da morte. Da mesma forma, outro Cordeiro morreu no Monte Calvário e os que o recebem têm a vida eterna. Por que, então, continuar com medo? Creia nele e escape da morte também.
Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito. (1Pe 3.18).
Pr. Marcos Granconato