Segunda, 09 de Dezembro de 2024
   
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A Escravidão das Notificações

Pastoral

Criança gosta de brincar, e brincar muito! Quando garoto, eu gostava de jogar futebol e passava inúmeras horas brincando com meus amigos durante o dia sem ter qualquer noção do tempo. Contudo, quando se aproximava o entardecer, eu aguardava, não tão ansiosamente assim, o grito da minha mãe me convocando a encerrar as brincadeiras e voltar para casa. Após um período de negociação com o objetivo de conseguir mais tempo com meus amigos, ela exclamava com mais ênfase sua convocação sob pena de me conduzir coercitivamente pela orelha.

A verdade é que todos nós, quando gostamos de fazer algo, seja conversar com os amigos, assistir TV, navegar na Internet, jogar futebol, ler ou passear, gastamos horas sem perceber — e sem nossa mãe para estragar a festa. No entanto, a falta de equilíbrio e moderação em nossos hábitos e hobbies pode ter um efeito destrutivo sobre nossas vidas.

Por exemplo, recentemente as redes sociais — Facebook e Instagram — lançaram uma ferramenta para auxiliar o usuário a controlar o tempo que gasta navegando por essas plataformas. E inúmeros estudos têm sido realizados apontando os danos físicos, psicológicos e emocionais que o uso prolongado desses recursos causa nas pessoas.

Entretanto, não basta navegar por horas a fio no mar de fotos, textos, frases, vídeos e notícias dentro dessas redes. Temos de comentar, curtir, compartilhar, gostar, rir, criticar ou ignorar tudo o que vemos. Essas interações geram reações em outras pessoas, as quais acabam em nossa central de notificações, demandando resposta imediata sob pena de gerarmos dissabores com amigos e conhecidos.

A ocorrência de intrigas por causa dessa demora na resposta é tão frequente que o aplicativo de mensagens instantâneas — WhatsApp — criou um recurso para impedir que o remetente saiba que o destinatário leu a mensagem. Caso contrário, o recebedor tem a “obrigação” de retornar imediatamente o contato daquele que lhe acionou, independentemente do que esteja fazendo. Existem, inclusive, aqueles que, como eu, ficam incomodados ao olhar para o celular e veem todas essas notificações pendentes de resposta.

As redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas podem ser de grande utilidade na vida de um cristão, assim como qualquer outro hobby ou atividade. Contudo, torna-se pecado quando o uso delongado e excessivo dessas ferramentas domina o crente, fazendo-o desperdiçar seu tempo, embaralhar sua agenda, desarranjar sua disciplina e sacrificar seus relacionamentos. Além disso, o cristão que administra mal o seu tempo revela desconhecimento de três verdades bíblicas acerca da mordomia cristã:

1.   Deus é o dono do nosso tempo (1Co 4.1-2; 6.19-20). Da mesma forma que um empregado deve horas de trabalho ao patrão que o contratou, o cristão deve todo seu tempo àquele que o comprou integralmente e se tornou seu dono. Gastar horas improdutivas na frente de um celular, televisão, computador ou qualquer outra atividade e não demonstrar zelo e disciplina na administração do tempo é desprezar o senhorio de Deus sobre nossas vidas.

2.   Devemos remir o tempo (Sl 90.12; Ef 5.15-16). Além de não poder desperdiçar o tempo que não é mais seu, o cristão deve aproveitá-lo com sabedoria. Isso implica, muitas vezes, seguir uma rotina organizada e produtiva que contempla momentos de descanso e lazer, mas que jamais pretere as responsabilidades e nunca inverte as prioridades.

3.   Pecamos quando não fazemos o bem (Tg 4.17). Além da incerteza de vida no amanhã, o desperdício de tempo hoje causa prejuízo àqueles que deveriam ser alvos de nossas boas obras. Quando consumimos horas sozinhos na frente de uma tela, deixamos de nos relacionar e fazer o bem às pessoas que estão próximas de nós.

Adicionalmente às verdades acima, o crente não pode ser dominado por seus impulsos (Rm 6.12; 1Co 6.12). Mas, assim como as crianças, nossa vontade é passar o tempo inteiro navegando, jogando, assistindo, descansando, lendo, entretendo, respondendo as notificações, sem mãe ou pai para cortar nossa folia. É, todavia, dever de todo crente ser controlado pelo Espírito Santo (Ef 5.18) zelando por viver de forma equilibrada, organizada e livre de excessos (1Tm 3.2; Tt 2.2).

Isaac A. Pereira

IBR Pinheiros

 

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