Quinta, 14 de Novembro de 2024
   
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Dispensacionalismo Progressivo: Por que Não?

O quadro abaixo mostra as principais distincões entre o Dispensacionalismos Clássico e o Progressivo:

Dispensacionalismo

Revisado

Dispensacionalismo

Progressivo

Hermenêutica histórico-gramatical.

Hermenêutica histórico-gramatical e, em certos casos, uma hermenêutica complementar, que faz o NT dar novos sentidos ao AT, ainda que preserve seus sentidos originais. A interpretação dada às profecias do AT pelos escritores do NT deve ser a base apropriada de compreensão geral.

PROBLEMA: Significa encarar o AT não como uma “revelação incompleta”, mas como uma “revelação incompreendida”.

Nova Aliança não tem relação direta com a igreja, e será cumprida com Israel no futuro.

Apesar de não crer que Israel foi rejeitado definitivamente, crê que a Nova Aliança já foi inaugurada por meio dos judeus remanescentes pela eleição da graça (Rm 11). Estando ela já inaugurada, a aliança davídica também deve estar vigente.

PROBLEMA: Dizer que a Nova Aliança está vigente com o remanescente israelita não resolve o problema do relacionamento da igreja com ela, nem cumpre a promessa da abrangência total de Israel.

Vê a Igreja como um parêntese temporário no plano de Deus com Israel.

Vê a Igreja como uma progressão do plano do Senhor para a redenção da humanidade, com a salvação sendo oferecida pela graça a todo aquele que crê e obedece ao evangelho.

PROBLEMA: Faz confusão entre o plano de Deus para a história e o plano de Deus para Israel.

A Igreja é distinta de Israel, de modo que as promessas de Deus a Israel (alianças) serão plenamente cumpridas no milênio

Vê a Igreja como um cumprimento pleno das profecias do AT (sem negar as futuras concretizações literais referentes ao Reino Milenar de Jesus sobre as nações, assentando-se sobre o Trono de Israel em Jerusalém).

Vê os santos de todas as épocas como pertencentes a um mesmo Corpo: O Israel do Criador.

PROBLEMA: Aproximação perigosa do aliancismo, o qual não se moveu um milímetro no sentido do dispensacionalismo progressivo.

O reino davídico não foi inaugurado, aguardando a vinda de Jesus. Não existe dois tempos para o reino davídico (já/ainda não).

O reino davídico já foi inaugurado, tendo Jesus assentado agora no trono de Davi nos céus (segundo Darrell Bock, “o trono celestial e o trono de Davi são um e o mesmo”). Mesmo assim, os aspectos terrenos desse reino aguardam a vinda de Jesus.

PROBLEMA: Identificação irregular e implicações teológicas equivocadas ligadas ao conceito do reino davídico.

 

Abaixo, segue a base bíblica mais frequentemente apresentada pelo Dispensacionalismo Progressivo a fim de expor suas dintinções:

Argumento

Texto Bíblico

Problema

A Nova Aliança já é vigente com Israel, pois Atos 2 foi o cumprimento de Joel 2

ATOS 2

15Estes homens não estão embriagados, como vindes pensando, sendo esta a terceira hora do dia.16Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel:

17E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos;

18até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão.

19Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça.

20O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor.

21E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.

PROBLEMA: Ignora menções de Joel 2 (em Atos 2) que não tiveram cumprimento ainda. O NT associa os eventos cósmicos preditos por Joel à época da Grande Tribulação.

- “Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados” (Mt 24.29).

- “12Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo, e sobreveio grande terremoto. O sol se tornou negro como saco de crina, a lua toda, como sangue,13as estrelas do céu caíram pela terra, como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus figos verdes,14e o céu recolheu-se como um pergaminho quando se enrola. Então, todos os montes e ilhas foram movidos do seu lugar” (Ap 6.12-14).

Atos 2 diz que a Aliança Davídica foi inaugurada e Jesus passou a reinar no trono de Davi assim que ressuscitou.

ATOS 2

30Sendo, pois, profeta e sabendo que Deus lhe havia jurado que um dos seus descendentes se assentaria no seu trono,31prevendo isto, referiu-se à ressurreição de Cristo, que nem foi deixado na morte, nem o seu corpo experimentou corrupção.32A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas.

33Exaltado, pois, à destra de Deus tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis.34Porque Davi não subiu aos céus, mas ele mesmo declara:

Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, 35até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés.

36Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.

PROBLEMA: Atos 2 não diz que Jesus começou a reinar no trono de Davi, mas que está habilitado a fazê-lo pela ressurreição.A ligação entre a ressurreição a a identificação com o ser herdeiro de Davi (o "Cristo" ou "Messias") é clara, mas não há ligação direta,nesse texto, entre a ressurreição e o assentar-se imediatamente no trono de Davi.

 

O NT também diferencia o trono do Pai, no qual Jesus se encontra agora, do o trono de Jesus, que será compartilhado pelos salvos: “Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono” (Ap 3.21).

 

 

Como tanto a Nova Aliança como a Aliança Davídica estão ligadas ao início do reinado de Jesus como “Messias”, conforme a promessa, o melhor é definir o que é o reino prometido e o trono de Davi:

 

1. Existe mais de uma concepção de reino na Bíblia?

Os judeus sempre viram o conceito de reino com duas vertentes: presente e futura.

Mas ao fim daqueles dias, eu, Nabucodonosor, levantei os olhos ao céu, tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração (Dn 4.34).

Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre (Dn 2.44).

Jesus demonstra que esse conceito se perpetuou:

Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós (Mt 12.28).

 

Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu (Mt 6.9-10).

Mesmo o Apocalipse, com sua mensagem escatológica, traz esse conceito duplo de reino:

E nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! [...] Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos... (Ap 1.6,9a).

 

O sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos. E os vinte e quatro anciãos que se encontram sentados no seu trono, diante de Deus, prostraram-se sobre o seu rosto e adoraram a Deus,dizendo: Graças te damos, Senhor Deus, Todo-Poderoso, que és e que eras, porque assumiste o teu grande poder e passaste a reinar (Ap 11.15-17).

      

2. Há bases para igualar o trono de Davi ao trono de Deus?

Jesus estar assentado agora no trono de Deus não cumpre a previsão de ter “os seus inimigos debaixo dos seus pés”.

 

Olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus (Hb 12.2).

Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Responderam-lhe eles: De Davi. Replicou-lhes Jesus: Como, pois, Davi, pelo Espírito, chama-lhe Senhor, dizendo: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés? (Mt 22.42-44).

Jesus diferenciou seu trono que será compartilhado com os salvos (seus co-herdeiros) do trono de Deus no qual se assentou depois de ressuscitar (os salvos não são, obviamente, co-herdeiros do trono celestial e divino de Deus).

 

Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono (Ap 3.21).

 

Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados (Rm 8.17).

O reinado “compartilhado” de Cristo é identificado com seu controle pleno e definitivo sobre as nações.

Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído (Dn 7.13-14).

O reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão (Dn 7.27).

 

3. O que é o trono de Davi?

A expressão trono de Davi não é uma expressão de significado espiritual, mas o mesmo trono em que Salomão também reinou (política e nacionalmente sobre Israel, a partir da sua capital, Jerusalém).

Prepararei lugar para o meu povo, para Israel, e o plantarei, para que habite no seu lugar e não mais seja perturbado, e jamais os filhos da perversidade o aflijam, como dantes, desde o dia em que mandei houvesse juízes sobre o meu povo de Israel. Dar-te-ei, porém, descanso de todos os teus inimigos; também o Senhor te faz saber que ele, o Senhor, te fará casa. Quando teus dias se cumprirem e descansares com teus pais, então, farei levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino. Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; se vier a transgredir, castigá-lo-ei com varas de homens e com açoites de filhos de homens. Mas a minha misericórdia se não apartará dele, como a retirei de Saul, a quem tirei de diante de ti. Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre (2Sm 7.10-16).

O trono de Davi envolve o governo do reino sobre o qual Davi governou.

Para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isto (Is 9.7).

Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim (Lc 1.32-33).


4. O que está ligado ao cumprimento do trono de Davi?

Redenção de Israel na terra da promessa e execução da justiça no mundo.

Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará seguro; será este o seu nome, com que será chamado: Senhor, Justiça Nossa (Jr 23.5-6).

Reconstrução do templo do Senhor.

E dize-lhe: Assim diz o Senhor dos Exércitos: Eis aqui o homem cujo nome é Renovo; ele brotará do seu lugar e edificará o templo do Senhor. Ele mesmo edificará o templo do Senhor e será revestido de glória; assentar-se-á no seu trono, e dominará, e será sacerdote no seu trono; e reinará perfeita união entre ambos os ofícios (Zc 6.12-13).

Reinado de mil anos compartilhado com os salvos ressurretos.

Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos (Ap 20.6).

E entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra (Ap 5.9-10).

 

Conclusão:   Todo “reino de Deus” está sob o trono de Deus, mas nem todo “reino de Deus” está sob o trono de Davi.

                     Sendo assim, tanto a Nova Aliança (que envolve a purificação e restauração plena de Israel na terra da promessa) como a Aliança Davídica (que envolve tanto o reinado físico de Jesus, em Jerusalém, sobre Israel restaurado, assim como o domínio sobre as nações), ainda não foram inauguradas e permanecem sendo alvos da nossa completa esperança futura.

                     Também não é válido o uso de uma “hermenêutica complementar” nem a atribuição de novos sentidos ou aplicações que não venham da exegese natural do texto a fim de atender a supostas alterações de compreensão de textos do AT pelo NT. 

 

 Pr. Thomas Tronco

 

 

 

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