A Luta pela Masculinidade (Parte 2)
Se estivéssemos em um ringue, certamente teríamos caído na lona. O primeiro round dessa luta, em que apresentamos o cenário da crise de masculinidade que vivemos e suas consequências nas esferas social, familiar e eclesiástica, serviram para mostrar que estamos diante de um problema muito maior. Mais do que comerciais de desodorante para o “homem-homem”, é necessário que coloquemos os papéis e responsabilidades masculinas em seus devidos lugares. Um bom caminho para isso é apontar os culpados por esse problema e indicar as curas bíblicas para restaurar a figura do homem em nossa sociedade.
O primeiro culpado que podemos listar é a CULTURA. A busca pela igualdade entre os gêneros tem levado moças a comportamentos claramente masculinos, enquanto homens estão aderindo a um padrão cada vez mais feminino. Na arte, os ícones pop são cantores com arranjos vocais marcados por falsetes praticamente femininos e figuras delicadas em seu modo de falar, agir e se vestir. Entre os vilões admirados nas novelas, séries e filmes, percebe-se o aumento do homossexualismo como parâmetro de sucesso nas telas e nas redes sociais. Na política, os líderes de Estado assumem posturas passivas, muitas vezes fugindo covardemente de suas responsabilidades militares. O convite ao “diálogo”, tão aclamado por alguns, não passa, muitas vezes, de mero pretexto para a fuga do ônus de ser homem.
Outro fatore envolvido na crise da masculinidade são os PAIS. Os homens da geração “nem-nem” — jovens que “nem trabalham, nem estudam” — encontram apoio para sua inércia no incentivo tardio dos pais a buscar um emprego e caminhar de forma independente. Sob o pretexto da proteção, os pais estão, na verdade, privando seus filhos do amadurecimento e de responsabilidades importantes ao homem no campo da provisão. Ademais, o aumento do número de divórcios, bem como o acréscimo de mães solteiras, criou uma geração de meninos sem a figura paterna no lar, o que, consequentemente, destituiu uma geração da educação e do exemplo masculino dentro de casa desde a mais tenra idade.
Um agente grandemente responsável pelo problema da falta de homens em nossos dias é, também, a IGREJA CONTEMPORÂNEA. As comunidades cristãs não mais orientam seus membros a respeito do papel do homem e da mulher e tampouco se preocupam em apresentar exemplos disso na própria liderança. Na pregação, o constante desejo de agradar a todos os públicos tem levado pregadores a suavizar as mensagens apresentadas, não abordando, muitas vezes, assuntos pertinentes ao universo masculino de maneira adequada e honesta. Sob o disfarce do “amor cristão”, muitas igrejas também têm negligenciado a exortação bíblica, assumindo o bordão mundano que diz que “Deus lhe aceita como você é”. Cabe citar, também, o emocionalismo do contexto gospel, que contribui para a desfiguração do homem crítico que, fazendo uso da razão, estuda, planeja e executa suas ações de maneira responsável e estratégica — algo ilustrado na postura lúcida e resoluta de Neemias diante da armadilha preparada por seus inimigos (Ne 6.10-13).
Tendo feito o diagnóstico e apontado os culpados do momento crítico que temos, é necessário voltar nossos olhos para a Escritura a fim de encontrar as noções bíblicas de masculinidade e as soluções práticas para restaurar a figura do homem. Por isso, apresentaremos, nos próximos parágrafos, a cura para essa triste crise.
O primeiro remédio contra a cultura do “você pode ser o que quiser” é estabelecer definições e limites ao comportamento humano. Homens devem ser como Deus os designou. Não podemos nos deixar enganar pela filosofia deste mundo, que gerou homens frágeis, caricatos e incapazes de cumprir um papel importante na sociedade. O homem de verdade se veste como homem (Dt 22.5), pensa com maturidade (1Co 13.11), faz uso da força física quando necessário (Êx 2.16-19) e é forte e corajoso (Js 1.6).
Biblicamente falando, a cura para essa crise também está no papel dos mais velhos em ensinar os mais novos (Tt 2.2-5). Os pais devem incutir em seus filhos homens o modo correto de se portar com masculinidade diante dos cenários que se desenham na vida de um rapaz. Isso envolve as atividades domésticas — trocar um chuveiro, consertar a pia, verificar os itens do carro —, o trato com moças — não apenas o cavalheirismo em si, mas também a pureza necessária nessa relação (1Tm 5.2) — e as responsabilidades escolares e profissionais, além de abordar, com verdade e clareza, as lutas e dilemas que todo rapaz enfrenta em sua mocidade. Para aqueles que cresceram sem uma figura masculina como exemplo, os homens da comunidade da fé, em especial o pastor, devem suprir essa lacuna (Tt 2.7-8). É preciso ter em mente também que a proteção da igreja depende da postura dos homens, já que em 1Coríntios 16.13, Paulo exorta os crentes de Corinto a “serem homens”.
Quando faltam exemplos vivos de masculinidade, a Bíblia é abundante em retratos de homens que marcaram sua época por sua capacidade de planejamento (José, Gn 41.46-57), coragem (Josué, Js 1), iniciativa (Davi, 1Sm 17), sabedoria (Salomão, 1Rs 3.16-28), liderança (Neemias, Ne 4.8-23) e sacrifício (Jesus, Ef 5.25-28). Tudo isso compõe a masculinidade bíblica e verdadeira.
Cabe a ressalva, porém, de que a masculinidade não deve tornar alguém uma espécie de ogro, sendo rude e sem qualquer noção de convívio social. Antes, o grande diferencial do homem verdadeiramente bíblico é sua postura sempre equilibrada e sábia. Isso se demonstra no trato com a esposa (Ef 5.28-29,33), nos cuidados do lar (1Pe 3.7), na atenção aos membros da igreja (1Tm 5.1-3) e, de modo geral, na prática do amor (1Co 13.1-8).
Apesar de o cenário ser desencorajador, essa luta ainda está em tempo de ser vencida. O gongo ainda não soou. O exercício da masculinidade bíblica beneficiará, além dos próprios homens, as mulheres, que assumiram um papel que não lhes era imposto e se veem sobrecarregadas com funções predominantemente masculinas como liderança, provisão e proteção. Por isso, os homens desta geração precisam despertar para as verdades bíblicas acerca de suas responsabilidades e reverter o quadro desastroso que tem ganhado cada vez mais espaço em nossos lares, escolas e igrejas (Ef 5.6-17). Precisamos de uma geração forte e preparada para o combate. Precisamos de homens que honram as calças que vestem. Que nosso Deus, aquele que se fez homem, nos ajude nessa luta!
Isaac Pereira e Níckolas Borges
Alunos da Escola de Pregadores da IBR