Terça, 12 de Novembro de 2024
   
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‘Big Bang’: A Teoria dos Remendos

 

“Descrever tais doutrinas é o mesmo que refutá-las”

(Irineu de Lião, c.130–c.202)

 

Talvez seja uma grande ousadia explicar uma teoria de 67 anos que vem sendo modificada significativamente desde os anos 80. A solução, portanto, não é a explicação detalhada de cada ajuste feito à teoria — o que seria, sem dúvida, melhor executada por um cosmólogo —, mas entender como a teoria foi remendada desde sua concepção em 1948, quando — acredite se quiser — pouca gente se interessou por ela.

Todavia, em 1964 a teoria ganhou crescente força e aceitação, pois astrônomos descobriram a radiação cósmica de fundo em micro-ondas (ondas eletromagnéticas) que havia sido predita pela teoria do Big Bang (“Estrondão”, em português) e não pela vigente teoria do “Estado Estacionário”. A teoria previu que haveria radiação oriunda de um período alguns milhares de anos após o Big Bang, quando o Universo estaria ainda quente. Mas nessa descoberta está o motivo do primeiro grande remendo: a inflação (não a que sobe os preços).

Um problema conhecido como “Problema do Horizonte” (1967) forçou o primeiro remendo da teoria 30 anos atrás, pois ninguém esperava que o Universo oriundo do Big Bang tivesse começado com a mesma temperatura em diferentes partes (assim como não se espera que destroços de uma explosão tenham temperaturas homogêneas), mesmo estando diametralmente opostas umas das outras, separadas por 26 bilhões de anos-luz! O problema é que, para duas regiões do Universo terem a mesma temperatura, é necessário que haja tempo suficiente para que elas troquem energia (calor) e equalizem suas respectivas temperaturas. E como elas poderiam trocar energia se estão separadas por 26 bilhões de anos luz de distância, tendo o Universo supostamente em torno de 14 bilhões de anos de idade?

Logo, o remendo da inflação ajudou a teoria a não cair em descrédito por meio da criação da hipótese de que uma hiperinflação (bem mais rápida do que a velocidade da luz) ocorreu no princípio do Universo. Nesse ajuste, o Universo, no período anterior à hiperinflação, seria bem menor — o que permitira a troca de calor entre si —, de modo que, depois da hiperinflação, haveria partes do Universo com a mesma temperatura ainda que separadas por 26 bilhões de anos-luz!

Mas o remendo foi também (o)usado para resolver outro problema: a “Planaridade do Universo” (1969). Nesse caso, o remendo foi caprichosamente esticado. Por quê? Como podemos observar, o Universo parece ser aproximadamente achatado (Ω=1), tendo sua densidade tenuamente entre os limites de um universo fechado e um universo aberto. Se a densidade (Ω) fosse apenas um pouco maior do que o valor crítico (Ω>1) (universo fechado), o universo já teria novamente implodido (em inglês, “big crunch”) muito tempo atrás. Em contrapartida, se fosse um pouco menor (universo aberto), então a dispersão teria sido rápida demais para que as estrelas pudessem ser formadas. Portanto, numa extraordinária e absurda coincidência, aventou-se que o Universo tenha caprichosamente inflado nesse tênue limiar do valor crítico (Ω = ~ 1) até onde deveria estar e depois o Ω diminuiria um pouco abaixo de 1, mesmo depois de bilhões de anos.

Ainda no campo da radiação cósmica de fundo do Universo, outra dificuldade foi identificada: a radiação cósmica é praticamente homogênea em todo Universo e a estrutura que observamos hoje, com matéria ligada a estrelas que por sua vez se agrupam em galáxias e sequencialmente em aglomerados de galáxias, não é homogênea, mas heterogênea! Logo, para se reconciliar o que se observa do Universo em termos de matéria e energia, os cosmólogos precisavam ter uma teoria em que o Universo tivesse um caprichoso equilíbrio de regiões levemente mais densas misturadas com regiões menos densas (heterogeneidade), fazendo com que as regiões mais densas atuassem gravitacionalmente sobre a matéria ao redor resultando na estrutura que observamos hoje. Todavia, essa heterogeneidade predita pelos defensores do Big Bang deveria ser meticulosamente ajustada (diferenças na temperatura na ordem de 1:10.000) — não tão homogênea em que a estrutura atual não seria formada, nem tão heterogênea em que toda a matéria se organizasse em enormes buracos negros. O problema, no entanto, é que a sonda COBE (1991) não confirmou tal predição e reforçou a homogeneidade do Universo.

Apenas após meticulosa manipulação dos dados da COBE, os cosmólogos finalmente encontraram diferenças (heterogeneidade) na radiação cósmica, mas em um nível muito menor que o predito e além do limiar de detecção da sonda (1:100.000), mais tarde confirmadas pela sonda WMAP (2003) e a missão Planck (2014). Logo, muitos cosmólogos comemoraram que as predições foram lindamente confirmadas pela teoria, mesmo após terem falhado em predizer corretamente a diferença da radiação no Universo. Porém, o que parece ter ocorrido foi um remendo da teoria para “bater com os dados”.

Lamentavelmente, é nesse momento que os teístas evolucionistas, que insistem em comer as migalhas de pão mofado das mesas do evolucionismo, tentam encaixar Deus como maestro da caprichosa expansão do Universo, ignorando concessões e torçoes — ao ponto de beirar o absurdo — que os evolucionistas conferem à sua teoria.

Os “costureiros” do dogma do Big Bang tiveram mais trabalho, em 1994, quando se confirmou que a taxa de expansão do Universo (uma expansão rápida resulta em idade menor do Universo) resultou numa idade de aglomerados globulares estelares do Universo 1 bilhão de anos mais velha do que o próprio Universo. Isso ocorreu porque, desde os anos 60, os astrônomos pensavam que a idade do Universo fosse de 16 a 18 bilhões de anos, mas, atualmente, estima-se que a idade seja menor, 13.8 bilhões de anos, e isso não se harmoniza com a idade calculada para esses aglomerados de pelo menos 15 bilhões de anos. A solução se deu, então, na redução da idade — dois anos mais tarde foram revisadas as distâncias desse aglomerados estelares com base em análises mais acuradas de seu brilho.

Na indústria da moda, o último lançamento ou tendência “cool” é chamado de “o novo preto” (“the new black”) e um novo remendo para a teoria não teria nome mais oportuno: “matéria escura” e “energia escura” (“dark matter” e “dark energy”). Essa hipótese é vital para os crédulos do Big Bang. Explico: O Big Bang teria resultado em gás quente que não formaria estrelas, galáxias e aglomerados de galáxias sem que “algo” ajudasse a condensar o gás por meio da força gravitacional. Ademais, esse “algo” também ajudaria a justificar irregularidades na radiação cósmica e outras discrepâncias gravitacionais. Isso também seria imprescindível para que a síntese nuclear do Big Bang acontecesse, ou seja, a criação de elementos químicos como o Hélio e o Deutério (isótopo estável do Hidrogênio) — algo que os evolucionistas do campo da Biologia precisam para dar seguimento ao mito evolucionista. Agora, vamos ao “algo”: A hipótese é que a maior parte do Universo é composto de “energia escura” (68.3% de “tudo”) — uma misteriosíssima força que acelera a expansão do Universo. O segundo componente do “algo” é a “matéria escura” (26.8% de “tudo”), que interage com todo o “resto” (estrelas, planetas e galáxias) do Universo (4.9%) apenas por meio da gravidade. Detalhe: você, sua casa, a Lua, o almoço que você comeu ontem, etc., estão tudo nesses 4.9%, e esse “algo” seria uma matéria e energia hipotética que não pode ser vista por telescópios e não emite ou absorve luz ou outra radiação eletromagnética. Enfim, algo invisível, que não foi convincemente identificado até hoje, mas que se tem uma forte fé de que exista! De qualquer forma, não demorou muito para que os teístas evolucionistas usassem essa hipótese como argumento de como Deus “sustenta o Universo com o poder de sua palavra” (Hb 1.3), em perfeita harmonia com a teoria do Big Bang. Enfim, mais migalhas mofadas...

Finalmente, ainda nos anos 90, temos a “teoria das cordas” — para se enforcar de vez! A teoria das cordas é uma hipótese não observável ou testável. Mesmo assim, seus defensores dizem que o outro lado da moeda é ela não ser falsificável e, portanto, potencialmente correta. Antes que eu tente descrever simplisticamente a hipótese que parece ter muitas nuances e versões, é importante deixar aqui a frase que o Dr. David Gross, ganhador do prêmio Nobel e também um dos fundadores da teoria, disse em 2006: “Nós [físicos da teoria das cordas] não sabemos o que estamos falando”. Essa frase é crucial para que você não se sinta mal por não entender o que virá abaixo. Enquanto a física clássica trata as partículas atômicas como objetos pontuais adimensionais, a física quântica reconhece que elas também podem se comportar como ondas. Todavia, a “teoria das cordas” propõe algo novo, a saber, que as partículas também podem existir como cordas que vibram em nove dimensões espaciais (mais o tempo), ao invés das três dimensões (mais o tempo) que entendemos e usamos na teoria da relatividade. Logo, alguns físicos sugerem que essas cordas existem em “membranas” que vibram e podem até mesmo suportar a ideia de que haja vários universos coexistindo com o nosso, de modo que o nosso próprio Universo possa ser um produto (o Big Bang) da colisão de duas membranas no hiperespaço. Enfim, o objetivo é tentar trazer para o Big Bang à aquiniana “causa não causada” da origem do Universo, ejetando por completo qualquer participação de Deus nesse processo.

É claro que não demorou para que os comedores de migalhas mofadas tentassem conciliar o texto bílbico com a teoria evolucionista. Versículos como 2Coríntios 12.2, no qual o apóstolo Paulo fala sobre o “terceiro céu”, passaram a ser interpretados como uma evidência de outros universos espirituais.

Concluindo, a teoria do Big Bang parece resistir ao tempo através de vários ajustes absurdos. Pode-se até confundí-la como a defesa de um dogma a qualquer custo. É, de fato, uma teoria que dança conforme a música tocada. E por falar em música, veste-se ao Big Bang a música de Raul Seixas sem muito esforço: “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes”.

Por outro lado, infelizmente, temos grupos cristãos liberais que, por desejarem a aceitação dos sábios desse mundo, intoxicam-se com as migalhas mofadas de uma teoria mutante e blasfema, espalhando seus delírios teológicos por todo canto.

Nós, novas criaturas em Cristo e adoradores do Criador, continuamos entoando nossos hinos e glorificando Deus por todo o sempre: “No princípio Deus criou os céus e a terra” (Gn 1.1).

Ev. Leandro Boer

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