Segunda, 09 de Dezembro de 2024
   
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O Dom de Profecia não Existe mais

Pastoral

O título deste breve artigo vai deixar muitos evangélicos irritados. Vão dizer que eu apaguei o Espírito, que cometi o pecado imperdoável e que limito a atuação de Deus. De tudo isso, na verdade, já fui acusado antes, especialmente por pessoas que entendem tanto da Bíblia quanto um pagodeiro entende de Shakespeare.

Porém, apesar dos severos ataques, repito com convicção: o dom de profecia não existe mais! É verdade que esse dom esteve presente na igreja durante o século 1 e que seu papel foi vital para o funcionamento, o ensino e o encorajamento das comunidades cristãs da época, mas, assim como os apóstolos, os profetas deixaram de existir antes que raiasse o sol do século 2.

Vou explicar porque afirmo isso sem titubear. Dentro do contexto eclesiástico dos tempos apostólicos, o fenômeno da profecia tinha propósitos e conteúdos que apontam para a sua total extinção nos dias de hoje.

Comecemos pelos propósitos. Quais eram os objetivos das profecias pronunciadas naqueles tempos? A leitura cuidadosa do Novo Testamento deixa isso muito claro. Veja-se, por exemplo, o que diz Efésios 3.4-5: "Por isso, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo, o qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas". Paulo prossegue, então, falando acerca de uma das doutrinas do Novo Testamento que compõem o "mistério de Cristo", antes oculto, mas agora revelado aos seus servos.

Esse texto mostra que o objetivo principal das profecias dadas no século 1 era revelar doutrinas desconhecidas por pessoas de outras épocas, doutrinas que os apóstolos registraram nos livros e cartas do Novo Testamento e que deveriam servir de base para a fé e a prática das igrejas de Cristo nos séculos porvir.

Isso fica ainda mais claro em Efésios 2.20, onde Paulo ensina que a igreja é edificada sobre "o fundamento dos apóstolos e profetas". Por "fundamento" entende-se aqui o conjunto de doutrinas que servem como alicerce para a igreja; doutrinas sobre as quais ela constrói todas as suas mensagens e toda a sua maneira de funcionar e agir. Uma vez que esse fundamento foi trazido à luz pelos apóstolos e profetas do NT, Paulo, sendo apóstolo, pôde escrever: "Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento..." (1Co 3.10).

Por isso, dizer que existem profecias hoje equivale a dizer que as bases doutrinárias da igreja ainda não estão prontas, que novas doutrinas ainda estão por ser reveladas, que o Novo Testamento não está completo e que a igreja, dois mil anos depois de fundada por Cristo, ainda está na fase inicial de construção de alicerces. Ora, isso é inaceitável para qualquer crente dotado de bom senso e de maturidade. Por isso, não há como acolher a ideia de que existem profecias ainda hoje.

Para mostrar que o dom de profecia não existe mais, além de estudar seu propósito central, é preciso também observar qual era seu conteúdo. Na verdade, parte disso já foi analisada quando eu disse que o objetivo principal da profecia era revelar doutrinas outrora ocultas. Obviamente, se esse era um dos seus objetivos centrais, é claro que o conteúdo da profecia era predominantemente doutrinário.

Aliás, foi por isso que Paulo escreveu aos romanos dizendo que se alguém profetizasse, sua profecia deveria ser de acordo com "a proporção da fé" (Rm 12.6). Isso significava que a profecia dita por alguém deveria estar em harmonia com a fé já revelada, jamais a contradizendo. Sabendo, assim, que as profecias tinham conteúdo doutrinário, Paulo recomendava cuidado, admoestando os profetas a jamais pronunciar qualquer ensino que não estivesse de acordo com a verdade já vinda à luz.

Foi também por saber do conteúdo doutrinário das profecias que Paulo escreveu aos coríntios, ensinando que durante os cultos deveriam falar dois ou três profetas e os demais deveriam julgar o que era dito (1Co 14.29). Esse julgamento tinha por propósito avaliar a profecia, a fim de verificar se ela se harmonizava com todo corpo doutrinário entregue por Deus à sua igreja.

O conteúdo da profecia eclesiástica também envolvia consolo, sempre em harmonia com a revelação dada (At 15.32) e, mais raramente, o anúncio prévio de eventos vindouros que causassem grande impacto sobre as igrejas espalhadas pelo mundo (At 11.27-28; 21.10-11).

Como se vê, o conteúdo das profecias do Novo Testamento era muito diferente do das "profetadas" de hoje em dia. De fato, na atualidade, os supostos "profetas" se limitam a tentar adivinhar quem na congregação está com algum problema ("Tem alguém aqui com dor na coluna!") ou a predizer bênçãos imaginárias para alguém ("O Senhor revelou que seu marido vai voltar para casa!"), criando esperanças vazias ou, pior ainda, gerando culpa nos corações aflitos ("A profecia não se cumpriu e seu marido não voltou porque a irmã não teve fé!").

Uma vez que as profecias modernas se resumem nesses pronunciamentos ocos e enganosos, fica claro que o dom de profecia de que a Bíblia fala não existe mais. Por isso, se quiserem ser protegidos do erro, da mentira e do desvio, os crentes de verdade devem fugir dos profetas atuais e edificar sua fé e comportamento sobre as Escrituras, onde a revelação dada aos verdadeiros profetas está presente, fornecendo as bases doutrinárias e éticas da igreja de todos os tempos.

Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

 

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