Quarta, 24 de Abril de 2024
   
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A Galinha que Virou um Cão

Pastoral

Cresci ouvindo minha mãe brincar dizendo: “Certas coisas só acontecem em casa”. Parece que ela tem razão, pois um desses acontecimentos inusitados tem ocorrido na casa que serve como meu escritório. Recentemente, uma galinha, que havia sido destinada ao sacrifício de um culto espírita, foi rejeitada por causa do seu pequeno tamanho e deixada na rua. Sem lugar para onde ir, ela simplesmente se instalou no quintal da casa e passou a conviver conosco naturalmente. Tentamos enxotá-la. Sem sucesso, desistimos. Enquanto outras galinhas têm de ser mantidas presas pelo uso de uma cerca, para essa galinha a cerca serviria apenas para expulsá-la do terreno. O tempo passou e ela já ganhou nome e uma porção diária de milho, ração e água. Ultimamente, ela tem desenvolvido atitudes excêntricas como dormir no tapete da entrada, comer milho na mão e — pasmem! — se deixar acariciar. Assustei-me ao me dar conta de que tais atitudes são típicas de um cachorro e não de uma galinha. Desse modo, posso dizer que temos o único cão com bico que existe.

Esse acontecimento que poderíamos chamar de “antinatural” — já que a natureza de uma galinha normalmente a impulsionaria a fugir e não a conviver — levou-me a refletir sobre a própria condição do pecador que é salvo pela fé em Cristo. Tendo ainda uma natureza de pecado, seu impulso natural seria, a exemplo de Adão (Gn 3.8), fugir de Deus. Afinal, o pecado fez com que a busca por Deus se tornasse algo estranho ao homem: “Não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, a uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3.11b,12). Entretanto, o que era antinatural, a saber, o pecador buscar o Deus santo, aconteceu por iniciativa do nosso salvador. Por causa dele, alguns milagres ocorreram.

O primeiro é que nós fomos aproximados. Se o pecado nos afastou de Deus, tornando-nos alheios e alienados de tudo que lhe diz respeito (Ef 4.18), a obra redentora de Cristo promoveu a inversão do processo da queda: “Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo” (Ef 2.13).

O segundo é que fomos purificados. A impureza do pecador é inaceitável a Deus, de modo que aqueles que perecerão mantêm vidas marcadas pela podridão das suas ações (1Co 6.9,10). Porém, na sequência, o apóstolo Paulo afirma que nossa aproximação de Deus se deve ao fato de ele ter nos purificado da culpa do pecado “Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1Co 6.11).

O terceiro é que fomos repatriados. A respeito dos pecadores é dito que eles pertencem ao “mundo” (Jo 17.14, 1Jo 4.5). A justificação e a aproximação pelo sangue de Cristo também mudam a pátria a que pertencem os pecadores arrependidos: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (Cl 1.13,14). Agora, salvos por ele, podemos dizer que “a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20).

O quarto milagre é que fomos reconciliados. A natureza pecaminosa nos colocou na terrível condição de inimigos de Deus. Entretanto, seu amor e graça fizeram com que isso fosse desfeito e passássemos por uma reconciliação com o Senhor: “E a vós outros também, que, outrora, éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras malignas, agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis” (Cl 1.21,22).

Nossas reações a essas verdades maravilhosas devem ser duas. Em primeiro lugar, devemos ser gratos a Deus pela transformação da nossa velha condição. Se a natureza pecaminosa nos fazia andar distantes de Deus, ser impuros, pertencer ao mundo perdido e viver como inimigos do Senhor, sua obra redentora deve nos encurvar diariamente diante dele para adoração e ações de graça. Mas há ainda uma segunda reação, pela qual devemos nos esforçar para viver diferente do modo como vivíamos. Por ter Deus transformado nossa velha condição, não é mais possível nos adequarmos ao pecado e ao marasmo espiritual com a desculpa de que “a carne é fraca”. Na verdade, Deus enviou seu Filho e o fez perecer para que nossa carne fraca fosse revestida de uma nova natureza, guiada e fortalecida pelo próprio Deus. Por isso, a ordem apostólica é: “Quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (Ef 4.22-24).

Essa deve ser nossa busca diária. Afinal, se uma galinha arisca pode mudar de atitude e se parecer com o chamado “melhor amigo do homem”, nós, crentes em Cristo, podemos muito bem nos esforçar, sempre dependentes de Deus, para sermos bons servos e filhos que convivam muito bem com nosso Pai celestial brilhando a luz de Cristo diante do mundo.

Pr. Thomas Tronco

 

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