Quinta, 28 de Março de 2024
   
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O Contentamento na Vida

Pastoral

Matthew Henry, o famoso estudioso e comentarista bíblico, certa vez foi abordado por ladrões e teve sua bolsa roubada. Nessa ocasião, ele escreveu as seguintes palavras em seu diário: “Deixe-me agradecer, primeiro porque eu nunca fui assaltado antes; em segundo lugar, porque, embora tenham tirado de mim a minha bolsa, eles não tiraram a minha vida; em terceiro, porque, mesmo que tenham levado tudo que eu tinha, não era muito; e em quarto, porque fui eu quem foi roubado, não eu quem roubou”.

Essa disposição do comentarista nos leva à reflexão sobre o que significa ser contente. O certo é que mundo tem condicionado os homens a julgar sua condição de acordo com a manutenção das suas vontades e com o acúmulo dos seus bens. Para o sistema mundano, de agora e de sempre, se alguém tem o que quer e pode comprar tudo que deseja — principalmente se as outras pessoas não puderem —, então, trata-se de uma pessoa feliz e favorecida. Mesmo no meio das igrejas — as falsas e até algumas verdadeiras —, a prosperidade é considerada uma evidência da bênção de Deus e sem a qual a vida não tem sentido.

Apesar disso, Paulo mostra que o “lucro” segundo o mundo não é como aquilo que Deus considera lucro de verdade: “De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento” (1Tm 6.6). Duas qualidades são encarecidas pelo apóstolo. Em primeiro lugar, a “piedade”, ou seja, a pureza de vida, o desenvolvimento da santidade e a prática da devoção e dedicação de vida ao Senhor. Em segundo lugar, o “contentamento”. Enquanto a primeira qualidade tem sentido em si mesma, a segunda necessita certa explicação e contextualização — o que Paulo realmente faz nos versículos seguintes.

Ao fazê-lo, mostra que o crente deve viver satisfeito com a condição em que Deus o colocou, mesmo quando isso significa uma situação financeira diferente da que ele deseja. Não se trata de o crente fazer um “voto de pobreza”, mas de estar contente em qualquer circunstância, levando em conta o quadro completo que perfaz a condição dos salvos por Jesus. Significa não atrelar sua felicidade ao dinheiro e aos bens que se possuem. Para tanto, Paulo apresenta três razões.

A primeira razão é a transitoriedade dos bens: “Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele” (1Tm 6.7). A felicidade do crente não pode vir do dinheiro porque ele não o acompanhará na eternidade. Na verdade, nossa condição eterna em nada depende dos bens, mas da obra e do amor de Cristo concedido “gratuitamente”: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus” (Ef 2.8). Chega a ser irônico, no mundo ganancioso em que vivemos, que o maior “bem” de todos e o único que irá durar para sempre seja gratuito. Por isso, grande loucura é buscar riquezas no mundo e ser pobre diante de Deus (Sl 49.17; Lc 12.20,21; Lc 16.22,23). Se isso contém uma lição para os incrédulos, muito mais para os crentes, os quais não devem se considerar “felizes” e “abençoados” pelo que possuem, mas pela salvação e vida eterna que receberam pela fé.

A segunda razão é o suprimento das necessidades básicas: “Tendo sustento e com que nos vestir estejamos contentes” (1Tm 6.8). Infelizmente, quem vive se queixando de não ter o que deseja, esquece-se que Deus tem fielmente concedido aquilo de que ele necessita. Uma observação ingratamente seletiva faz muitos crentes notarem o que não têm e ignorarem o que têm. Mas basta atentar para o que acontece a pessoas que carecem do suprimento básico para se dar valor ao cuidado diário que Deus tem para com seus filhos: “Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?” (Mt 6.26).

A última razão é o risco de desvio da fé: “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (1Tm 6.9,10). Infelizmente, os homens amam tanto o dinheiro que muitas vezes abandonam o bem e a justiça para obterem lucro. O mais triste é que, nessa busca, até crentes transformados por Jesus voltam a agir como homens perdidos que eram. Abandonam o que têm valor eterno e se lançam à busca do que é passageiro. Falsas justificativas para isso não faltam, mas Deus não aceita nenhuma delas e vê manchada a comunhão entre ele e seus servos: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6.24).

Portanto, como homens renovados, devemos nos portar com dignidade e saber viver de maneira grata pela salvação eterna e contente com aquilo que Deus nos dá nessa vida, seja muito ou pouco: “Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez” (Fp 4.11,12).

Que a nossa vida tenha valor por causa daquele que é precioso e que jamais nos abandona, o qual nos deu o que não se pode perder: “Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hb 13.5).

Pr. Thomas Tronco

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