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Obadias 10

 

“Por causa da violência contra teu irmão Jacó, a vergonha o cobrirá e você será exterminado de uma vez por todas” (Obadias 10).

Esse novo versículo começa com uma relação de causa e efeito. Pelo uso de uma única letra hebraica encabeçando a palavra “violência”, o autor explica que o efeito da segunda metade do texto se deve ao que é descrito na primeira metade. Esse sufixo, de uma letra na língua original, cujo sentido mais comum é “desde de”, é utilizado aqui no sentido causal,[1] sendo traduzido como “por causa de”, “devido a” ou “em razão de”. Desse modo, a consequência duríssima que o povo de Edom sofreria se daria “por causa da violência”. Em outras palavras, o que os edomitas tinham feito de modo violento não seria esquecido nem passaria sem que eles sofressem a sequela daquela ação.

Tal violência havia tido um endereço bem específico: “Teu irmão Jacó”. Jacó é o nome do patriarca que teve, posteriormente, seu nome mudado para “Israel” (Gn 32.28), nome que passou a intitular a família que veio a se tornar um povo. Algo notável é que o povo de Israel, a quem os edomitas tinham feito tanto mal e agido com tamanha violência, é descrito aqui não apenas pelo nome “Jacó”, mas pelo antigo parentesco que tinha com Edom, sendo descrito como “teu irmão” ― os povos de Edom e de Israel descendiam diretamente dos dois irmãos Esaú e Jacó, filhos de Isaque, netos de Abraão. Pode parecer, a princípio, uma menção sem grandes propósitos, mas nada pode estar mais longe da verdade. Trata-se de uma séria acusação do Senhor que, ao mencionar o parentesco entre os povos, intensifica a culpa pelo crime cometido. Qualquer falha ou violência é ainda mais repreensível quando é cometida contra um irmão.[2] Deus fez o mesmo ao perguntar a Caim “onde está Abel, teu irmão?” (Gn 4.9) e ao declarar “a voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim” (Gn 4.10). O terrível crime se tornou ainda pior ao ser cometido “contra teu irmão”.

Como consequência do que disse a primeira parte do versículo, a “vergonha” se abateria sobre o irmão violento. Algo um pouco técnico, mas importante de notar é o seguinte: na frase “a vergonha o cobrirá”, a vergonha em si é personificada e surge como agente de uma ação contra sua vítima, como se ela fosse uma pessoa encarregada de trazer a devida vingança ao criminoso. Isso se deve ao modo como a frase é construída no texto original, na qual o verbo surge na forma do feminino, assim como a palavra hebraica para vergonha, ligando o sujeito ao verbo. A grande dificuldade é a presença de uma preposição, traduzida normalmente como “por”, “com” ou “em”, associada à vergonha, permitindo a tradução “você será coberto pela vergonha”.

O tradutor, por fim, tem de escolher a forma de colocar esse quadro tendo de expressar corretamente outro fator presente. O grau do verbo hebraico “cobrir” nesse texto indica não apenas uma ação simples, mas um ato intenso. O autor parece indicar que a vergonha não atingiria os edomitas em uma porção limitada, mas totalmente derramada, até a última gota, cobrindo-lhes integralmente. A vergonha seria total e completa. Por isso, independente da opção que se siga para traduzir o texto, a ênfase na consequência dura e irreversível tem de ficar patente e deve ser explicada por quem queira expor esse trecho.

Se o quadro da vergonha personificada cobrindo Edom tem um caráter mais figurativo, a cláusula final é direta e clara quanto ao significado do que encerraria a história daquele povo: “Você será exterminado de uma vez por todas”. O verbo utilizado pelo autor significa “cortar”, dando a ideia de que seria como um arbusto “cortado fora” da terra para se deteriorar ou ser queimado, sem sobrar nada. Esse resultado seria permanente, pois é utilizada a palavra comumente traduzida como “eternamente” ou “para sempre”. Desse modo, estariam corretas traduções como “você será exterminado para sempre”, ou “você será exterminado definitivamente”. Seria o ponto final na existência dos descendentes de Esaú.

Trata-se, da parte de Deus, de um veredito de culpa seguido por uma pena muito dura. E, apesar da dureza da pena, o texto deixa claro que ela não seria injusta, mas gerada por um crime muito sério: “Por causa da violência”. A presença do prefixo traduzido como “por causa” nos faz refletir, obrigatoriamente, sobre os efeitos daquilo que fazemos. Apesar do nosso mundo não se empenhar mais em tratar e punir o mal, criando desculpas para todos os tipos de pecado ao chamá-los de opções, gostos, doenças, síndromes, impulsos e vários outros termos que tencionam retirar do pecador a responsabilidade por seus atos, ou a malignidade de suas ações, é possível notar que Deus não pensa assim, nem age como o mundo gostaria, considerando irrelevantes as iniquidades do ser humano.

A presença desse “por causa” faz desaparecer a imagem de um Deus injusto e rigoroso demais ao trazer punições indevidas a pobres coitados. Assim, coloca os holofotes sobre o pecador, cujas consequências são recebidas “por causa” dos pecados que ele mesmo pratica, tornando-se merecedor da pesada vara do Senhor. Por isso, em lugar de buscar desculpas para o pecado ― as quais não são aceitas no tribunal divino ―, o homem deve se arrepender e buscar o perdão do salvador, Jesus Cristo. Ele, que sofreu condenação em nosso lugar, pode então perdoar e restaurar a comunhão com o Senhor. Faça isso hoje, sem demora, pois algumas consequências recaem sobre as pessoas “de uma vez por todas”.

Pr. Thomas Tronco

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[1] The NET Bible, First Edition. Biblical Studies Press: www.bible.org, 2006 [Ob 10, nota 46].

[2] Keil, C. F.; Delitzsch, F. Commentary on the Old Testament (electronic ed.). Peabody, MA: Hendrickson, 1996, vol. 10, p. 241.

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