Sexta, 19 de Abril de 2024
   
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A Liberdade Incoerente

Pastoral

Já me acostumei, ao longo dos anos, a ouvir uma certa resposta de pessoas que me ouvem falar sobre minha fé na soberania de Deus (Ef 1.11) e na sua graça que nos elegeu para a salvação e perdão de pecados (Ef 1.4,5). Elas dizem: “Isso não faz sentido; não há ‘lógica’ nisso”. Apesar de ser exatamente o oposto, não me espanto mais com tal conclusão e passo a apresentar a base bíblica das doutrinas da graça – motivo pelo qual creio nelas.

Entretanto, não é possível deixar de notar a ironia da acusação. Na verdade, é um sistema bastante lógico: que Deus, superando a incapacidade humana de buscá-lo (depravação total do homem), nos aproximou dele de modo eficaz (graça irresistível) e, para tanto, elegeu alguns antes da fundação do mundo para aplicar sobre eles tal graça (eleição incondicional). Para providenciar o meio necessário de nos justificar, enviou seu Filho a fim de fazer expiação pelos eleitos e comprar, com seu sangue, a sua igreja (expiação limitada), de modo que, sendo ele o inteiro responsável pela redenção dos crentes, a mantém até que os leve para junto de si, sem, por motivo algum, perdê-los no caminho (preservação dos santos). Nada mais lógico e matemático, cuja lógica perde apenas para a vasta evidência bíblica de apoio a cada uma dessas doutrinas.

Por outro lado, a posição concorrente é fundamentada sobre uma incoerência nata. Pelágio baseava sua defesa do livre arbítrio na suposta condição não maculada do homem ao nascer. Para ele, o homem nem herdava de Adão o pecado, nem este lhe era imputado. Nascia puro, tendo diante de si apenas o mau exemplo de Adão. Sendo assim, seria possível ter plena liberdade para decidir seguir a Deus.

É claro que dizer que o homem nasce sem pecado é heresia (Gn 5.3; Sl 51.5; Rm 5.12) e há poucos teólogos que defendem isso atualmente. Quantas pessoas são capazes de dizer que o homem, ao nascer, pode optar por permanecer bom, sem pecado, e ter acesso ao céu sem que o seja por meio de Cristo, mas por merecimento próprio? A constatação de que os defensores do livre arbítrio não clamam, na sua esmagadora maioria, por uma posição como essa, aponta, também, para a incoerência do seu sistema. Creem que o homem nasce iníquo, mas faz escolhas como se fosse bom. Afirmam a escravidão do pecado, enquanto proclamam a liberdade da vontade. Concordam com Jesus quando diz que os incrédulos são “filhos do diabo” (Jo 8.44), mas negam que o horrendo pai tenha domínio sobre seus intelectos e desejos (2Co 4.3,4; Ef 2.1,2). Dizem que o homem entende que precisa buscar o Senhor, quando a Bíblia diz que “não há quem entenda, não há quem busque a Deus” (Rm 3.11).

Outra acusação que sempre ouço é que se trata de uma discussão acadêmica e inútil para a vida prática. Esse é mais um engano. O que os crentes precisam saber é que essa luta não é apenas pela “ortodoxia” (doutrina correta), mas também pela “ortopraxia” (prática correta). O fato é que quem não crê na “depravação total do homem” menospreza o tamanho da graça de Deus e da sua obra salvadora ao salvar quem não tinha “nada” de bom em si (Rm 3.24 cf. 3.10-12). Quem não crê na “graça irresistível”, tende a pregar o evangelho como se a aceitação do perdido dependesse do pregador e dos seus métodos, minimizando a participação soberana do Espírito Santo (Jo 16.8; At 16.14; 1Co 2.4). Quem renega a “eleição incondicional”, acaba por manter conceitos limitados sobre a soberania de Deus como se ele não tivesse controle sobre tudo realmente (Is 46.10,11, Dn 4.35; Ef 1.4,5). Aqueles que ignoram a “expiação limitada” reduzem o valor e o sentido da morte de Jesus como pagamento efetivo de pecados e resgate dos salvos (Jo 10.11; At 20.28). Finalmente, quem acha absurda a “preservação dos santos”, tende a render ao homem a participação na obra de salvação e a macular a doutrina da fidelidade de Deus e da inerrância das Escrituras (Jo 10.28; Rm 8.37-39; Jd 24).

É um preço muito alto, tanto na teologia como na prática da vida cristã, somente para afirmar que o homem é livre. E é “lógico” que ninguém quer atacar coisas tão importantes assim, não é mesmo?

Pr. Thomas Tronco

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