Terça, 23 de Abril de 2024
   
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Navegando em Águas Desconhecidas

Pastoral

Ser navegante no Mundo Antigo não era algo para medrosos. Afinal, até hoje ouvimos a respeito dos perigos que cercavam o mar e das aventuras que os marinheiros e piratas enfrentavam quando resolviam sair da terra firme. Hollywood trouxe vida a muitas dessas histórias, ilustrando os mitos dos monstros marinhos, o sofrimento dos tripulantes que passavam anos a fio longe de suas famílias e a angústia pelo tempo incerto da viagem ― isso, é claro, além do medo de nunca mais retornar para casa.

Seja diante de um cenário político tão instável como o que vivemos no Brasil ou diante de novas oportunidades profissionais e acadêmicas que surgem em nossas vidas pacatas, sempre estamos içando nossas velas, recolhendo nossas âncoras e rumando em direção ao desconhecido. Nesse sentido, aquele “frio na barriga” sempre se faz presente em nosso barco e dificilmente não trememos diante das tempestades e reviravoltas do mar.

A última viagem missionária de Paulo é marcada por muitas idas e vindas marítimas e, em Atos 20.22-24, o apóstolo passa por situação muito semelhante à que descrevi acima. Seu desejo de ir para Jerusalém (At 19.21) vem junto com seu desconhecimento dos eventos que iriam acontecer em sua própria vida. Como ele lida com isso sem “pular fora” do barco? Podemos perceber duas orientações para seguir adiante quando estamos em águas desconhecidas.

Em primeiro lugar, devemos estar preparados para enfrentar perigos (v.23). Desde seu chamado, sabemos que o ministério de Paulo seria marcado por perseguição e tribulações (At 9.15-16). Além disso, ir para Jerusalém era, obviamente, um perigo em si mesmo, já que a cidade foi o epicentro de toda a perseguição aos crentes (At 8.1). Não à toa, diversas pessoas tentaram convencer Paulo a mudar de ideia (At 21.4, 10-12). Mesmo assim, ele se mantém resoluto em seu objetivo de ir a Jerusalém.

Não podemos pensar, porém, que Paulo fosse um homem ingênuo. Pelo contrário: ele sabia muito bem que seu futuro seria marcado por sofrimentos provenientes da sua fé. Da mesma maneira, nós, os crentes, não podemos ser negligentes com os perigos que se desenham diante de nós. Em todos os campos, precisamos estar atentos aos desafios que se aproximam, lembrando que o próprio Senhor Jesus nos assegurou que, neste mundo, teríamos aflições (Jo 16.33). As tempestades não devem nos surpreender quando rugirem sobre nosso barco.

A segunda orientação que observamos é que devemos colocar nossas prioridades no lugar certo (v.24). Paulo havia recebido uma missão do próprio Senhor e seu empenho em concluir essa tarefa era tamanho que nem mesmo o perigo de perder sua própria vida era o bastante para pará-lo. Podemos até estranhar essa afirmação de Paulo, mas, na verdade, ela evidencia seu elevadíssimo nível de comprometimento com a causa de seu comandante. Suas prioridades estavam no lugar certo. Nada era mais importante do que trabalhar na missão para a qual ele fora convocado (Fp 1.20-25).

Diante desse exemplo, precisamos também ponderar se nossas prioridades estão no lugar certo. Elevamos nossa “vida” acima da nossa missão, priorizando conforto, sucesso, posses e imediatismo? Ou, assim como o apóstolo, colocamos nosso compromisso com o Reino acima de nossos próprios interesses pessoais, priorizando obediência, submissão e esperança do futuro? Lembre-se que seus ministérios não se resumem à escala de segurança, culto infantil ou assiduidade na EBD. Antes, referem-se ao seu viver cristão no lar, na escola, na faculdade e no trabalho. Preocupe-se em viver cada um desses ministérios com afinco e verdade, buscando a vontade de Deus para cada uma das áreas da sua vida e encarando os custos da fidelidade ao Senhor.

Nesse sentido, como marinheiros prudentes, precisamos também colocar dentro de nosso barco os equipamentos necessários para enfrentar as dificuldades que surgirão ao longo do trajeto, deixando de fora qualquer bagagem que possa atrapalhar nossa navegação (Fp 3.13-14; Hb 12.1).

Com tais orientações em mente, mesmo navegando em águas tão incertas e turbulentas, podemos descansar na convicção de que o leme de nossa vida não está sem direção. Como Lutero disse, “não sei por quais caminhos Deus me conduz, mas conheço bem meu guia”. Por mais desconhecidas que sejam as águas, nosso comandante está no controle do barco. E, como já dizia a cantiga infantil, “com Cristo no barco tudo vai muito bem”.

Níckolas Ramos

Seminarista da IBR

 

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