Sexta, 19 de Abril de 2024
   
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O Dilema de um Lutador Cansado

Pastoral

Pastor Marcos,

Enquanto Calvino diz que “o cão late quando seu dono é atacado; eu seria um covarde se visse a verdade divina ser atacada e continuasse em silêncio, sem dizer nada”, Spurgeon diz “o evangelho não precisa ser defendido, porque ele é como um leão enjaulado; tudo que temos de fazer é abrir a jaula”.

Por um lado, vemos Paulo debatendo com judeus e gentios, e Pedro nos alertando a estar prontos para dar a razão da nossa fé (1Pe 3.15). De outro lado, porém, vemos Jesus mandando Pedro guardar a espada (Jo 18.11) e ainda temos o testemunho do silêncio do Senhor diante dos seus acusadores.

Eu tenho estado em constantes debates com colegas incrédulos de doutorado e até mesmo professores. Os livros de Kosterberger, John Lennox e William Lane Craig têm me ajudado muito, mas confesso que às vezes me sinto fisicamente mal e cansado, após uma tarde inteira lidando com zombadores. E o pior é que quando eu respondo suas perguntas capciosas, eles se irritam e apelam para a zombaria, o que me faz pensar se não estou perdendo tempo.

A questão é que eu não suporto vê-los blasfemando contra Deus e desprezando as pessoas que creem nele, principalmente porque isso influencia outros que estão ouvindo.

Resumindo, a pergunta é: Quando devemos nos manifestar para “defender” nosso Deus e quando temos de parar e deixar os escarnecedores a cargo do próprio Senhor?

Muito grato,

MMA

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Prezado irmão MMA,

Entendo o seu dilema. Sei como é difícil ser um defensor da verdade num mundo antiDeus, em que somos apenas estrangeiros e peregrinos.

De fato, como disse Calvino, temos que nos insurgir contra o erro e tomar alguma atitude quando alguém ataca a fé. Até onde posso me lembrar, Spurgeon disse a frase que você citou (eu pensei que tinha sido Lutero) com o objetivo de destacar o poder que a pregação tem em si mesma, capaz de despedaçar corações sem que a gente tenha que dar uma forcinha, usando métodos estratégicos para levar os outros a “tomar uma decisão” (como fazem os arminianos da igreja emergente) ou a lógica humana para tentar defender os supostos atos “injustos” de Deus (como fazem os arminianos em geral).

Nesses aspectos, realmente a fé não precisa da nossa “ajudinha”. O Espírito usa a pregação como e quando quer e os atos de Deus não precisam ser defendidos. Ele é soberano e faz o que quer sem ter que dar contas a ninguém.

Os textos dos evangelhos que você mencionou, diga-se de passagem, não podem ser invocados para ensinar o dever de silenciar diante dos ataques dos maus. Lembre-se que Jesus mandou Pedro guardar a espada para que o propósito messiânico de enfrentar a cruz não fosse obstaculado. Jesus também ficou em silêncio diante de seus acusadores porque sabia que era a hora de se entregar à morte. Ademais, ele já havia ensinado, corrigido e censurado todos aqueles que estavam agindo contra ele (exceto, talvez, Pilatos, a quem ele pregou um pouquinho).

Por isso, defenda, sim, e promova a sua fé. Porém, tem uma coisa que você deve saber: essa defesa tem que ter um limite, ou seja, tem uma hora que ela deve parar. Na Bíblia, o apóstolo Paulo corrige ou prega para uma mesma pessoa ou grupo, no máximo, duas vezes (Tt 3.10). Depois, quando percebe que não ouviram, ele “parte pra outra” (At 13.46; 28.23-28). Isso porque não é certo jogar o que é santo aos cães ou lançar pérolas aos porcos (Mt 7.6). Os cães, por causa da limitação mental imposta por sua própria natureza, entendem o jogar o que é santo sobre eles como um ataque e aí ficam com raiva e querem nos morder. Os porcos, por viverem no chiqueiro, pensam que a realidade se reduz a lama podre. Por isso, não compreendem o valor das pérolas e pisam nelas, grunhindo.

Assim, se você notar essas reações nos seus colegas, considere que cumpriu seu dever, sacuda o pó de suas sandálias (Mt 10.14) e dirija seus esforços evangelísticos e apologéticos para outra direção. Isso vai poupar você de muitos dissabores e também evitará esforços inúteis. Infelizmente, chega uma hora em que temos que deixar cada um seguir o rumo que escolheu, seja ele qual for (Ap 22.11).

Forte abraço e que o Senhor lhe dê sabedoria para perceber o momento de tomar essas medidas.

Seu servo na luta,

Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

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