Quinta, 28 de Março de 2024
   
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Os Decretos de Deus

Criação, história e governo humano

Decretos de Deus são seus planos e desígnios preestabelecidos, perfeitos e imutáveis, por meio dos quais ele dirige soberanamente a história e realiza sua vontade soberana em todo o universo, atingindo, assim, seus propósitos santos.

Os decretos de Deus são impossíveis de ser frustrados (Jó 23.13,14; 42.2; Is 43.13; 46.10), sobrepõem-se aos propósitos humanos (Dn 4.35; Pv 19.21; Fp 2.13) e, sendo perfeitos, não sofrem alterações (1Sm 15.29; Sl 33.11; Is 46.10; Hb 6.17).

Aliás, deve-se lembrar que a oração do crente não tem força para alterar os planos de Deus. Textos que dão essa impressão (Ex 32.9-14) devem ser entendidos no sentido de que a aparente mudança no desejo do Senhor já estava fixada em seus planos preestabelecidos, sendo a própria oração parte integrante desses planos. 

É por isso que, mesmo sabendo que Deus já tem tudo planejado, o crente deve orar. Passagens bíblicas como 2Samuel 7.27-29, Daniel 9.2,3 e Apocalipse 22.20 mostram pessoas orando mesmo depois de Deus ter revelado o que já tinha planejado fazer.

A Bíblia ensina que os decretos de Deus envolvem a criação, estando ela sujeita aos seus planos e cumprindo o que ele determina (Sl 148.1-10). Foi, inclusive, por seu decreto soberano que a natureza foi submetida à vaidade até o dia da libertação dos crentes (Rm 8.20,21). De fato, nada acontece em toda a criação sem a autorização suprema de Deus (Mt 10.29).

Os decretos de Deus também abrangem a história. O Senhor determinou os tempos de ascensão e queda de todos os povos e também as regiões específicas que deveriam ocupar (At 17.26). Ele decretou os atos cruéis da Assíria (Is 10.5,6) e a queda desse império por não reconhecer que era só um instrumento nas mãos de Deus (Is 10.12-15). Ele decretou a destruição das nações por meio dos babilônios (Sf 3.8) e planejou a restauração de Jerusalém por meio de Ciro (Is 44.24-28; 46.11).

As ações de Herodes, de Pôncio Pilatos, dos gentios e do povo de Israel no trato com Jesus foram predeterminadas por Deus (At 4.27,28). O Senhor também decretou que a história termine com a sujeição completa de todo o universo a Cristo (Ef 1.9,10). Na verdade, as profecias do Antigo Testamento e os ensinos do Novo Testamento acerca do futuro nada mais são do que revelações dos decretos de Deus referentes à história universal.  

Ainda que os diversos países sejam governados por homens e sistemas legais injustos, é preciso reconhecer que os decretos de Deus abrangem também o governo humano, não havendo nenhuma autoridade política que não tenha sido estabelecida por ele (Rm 13.1). Foi Deus quem deu autoridade e poder a Faraó (Rm 9.17), a Ciro (Is 41.2-4; 45.1-7) e a Pilatos (Jo 19.10,11), tudo com o objetivo de, por meio deles, cumprir os seus decretos. Desse modo, ele, o Senhor, tem pleno domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem ele quer (Dn 4.17,25,32; 5.21), movendo o coração dos governantes de acordo com seus propósitos às vezes misteriosos mas sempre justos (Êx 9.12; 10.20,27; 11.10; 14.8; Ed 7.21-28; Pv 21.1).

A vida dos indivíduos e a salvação

Os planos de Deus se realizam também na vida de cada indivíduo, sendo ele quem decide formar pessoas fisicamente perfeitas (Sl 139.13,14) e pessoas mudas, surdas e cegas (Ex 4.11).

O Senhor também decretou os limites da vida de cada um, fixando o número certo de seus dias (Jó 14.5; Mt 6.27) e todos os detalhes da história de todos os seres humanos (Sl 138.8; 139.16), incluindo suas funções (Jr 1.5), suas capacitações (Dn 2.21), suas experiências (At 22.14,15) e a forma como hão de morrer (Jo 21.18,19; At 1.15-20).

Deus age livremente e como bem entende na vida de todo e qualquer indivíduo, sempre com o objetivo de realizar seus objetivos (Dn 4.35). Ele fez com que Sansão se interessasse por uma moça filisteia a fim de cumprir seus planos contra os inimigos de Israel (Jz 14.1-4). Ele impediu que os filhos de Eli ouvissem os conselhos do pai porque queria matá-los (1Sm 2.25). Ele também decretou a traição de Judas revelando-a de antemão na Escritura e usando o falso discípulo para cumprir as profecias sobre a rejeição e morte do Messias (Mt 26.24; Jo 17.12; At 1.15-20).

Os decretos de Deus abrangem ainda a história, o meio e os alvos da salvação. Na eternidade, ele planejou que seu Filho fosse morto como sacrifício pelo pecado (At 2.23; 1Pe 1.18-20) e que a oferta de salvação em Cristo fosse feita a todas as nações (Lc 24.44-48).

Ele também decretou quem seria salvo e quem seria destinado para a ira (Pv 16.4; Rm 9.15-18,21-24). Essa decisão foi tomada antes dos tempos eternos (Ef 1.4,5) com base em sua própria determinação e graça e não com base em méritos pessoais (Ef 1.11; 2Tm 1.9).

Ao homem não cabe questionar o decreto salvífico de Deus, uma vez que ele tem o direito de ser gracioso com quem quiser e de endurecer o coração de quem quiser (Is 63.17; Rm 9.18-21), sendo sempre justo em todas as suas decisões (Rm 9.14).

No cumprimento de seus santos desígnios, o Senhor também decretou que uniria judeus e gentios num só corpo, a Igreja (Ef 3.3-11), e que só um remanescente de Israel seria salvo antes da vinda do Senhor (Rm 9.27; 11.25,26).

Ressalvas importantes

Obviamente, a doutrina dos decretos de Deus faz surgir intrigantes questões, algumas delas impossíveis de ser respondidas de maneira satisfatória, dado o silêncio das Escrituras no tocante à forma como se deve harmonizar a soberania divina e a responsabilidade humana. Prevendo o levantamento dessas questões e eventuais respostas erradas dadas a elas, seguem abaixo três proposições que devem servir como ressalvas, a saber:

1. Os decretos de Deus não tornam os homens inocentes pelos males que praticam. Os caldeus foram considerados culpados por sua maldade contra Judá (Hc 1.11), mesmo sendo o próprio Deus quem os levantou para realizar esses atos (Hc 1.6). Da mesma forma, Herodes e Pôncio Pilatos pecaram quando conspiraram contra Jesus, apesar de ter sido Deus quem decretou que agissem assim (At 4.27,28). O que se depreende disso é que o decreto de Deus não anula o pecado dos perversos, nem torna Deus culpado por suas más ações. Note-se que Jesus reprovou Judas mesmo sabendo que ele, com sua traição, cumpriu o decreto divino (Mt 26.24). Pedro, por sua vez, criticou os judeus de Jerusalém por matarem Jesus, mesmo sabendo que isso tinha sido preestabelecido por Deus (At 2.23).

A maneira como Deus decreta o mal sem se tornar culpado e sem remover a culpa dos perversos não é revelada na Escritura, estando além da compreensão humana. Trata-se de um dos muitos mistérios que permanecem escondidos na mente insondável do Senhor (Dt 29.29) e que deve estimular a humildade, a fé e a adoração, e nunca a rebelião ou o inconformismo (Rm 11.33-36).

2. Os decretos de Deus não podem ser alterados pelas orações dos homens: textos que dão a impressão de que Deus mudou de plano por causa da intercessão de alguém (Ex.: Ex 32.9-14) devem ser entendidos no sentido de que a aparente mudança no desejo do Senhor já estava fixada em seus planos preestabelecidos, sendo a própria oração parte integrante desses planos. É por isso que, mesmo sabendo que Deus já tem tudo planejado, o crente deve orar. Passagens bíblicas como 2Samuel 7.27-29, Daniel 9.2,3 e Apocalipse 22.20 mostram pessoas orando mesmo depois de Deus ter revelado o que já tinha planejado fazer.

3. Os decretos de Deus relativos à salvação não devem desencorajar o evangelismo: Deus não somente decretou quem seria salvo, mas também determinou que os seus eleitos fossem alcançados por meio da pregação (1Co 1.21). Assim, uma vez que o crente não sabe quem é eleito, é seu dever pregar a todos. Ademais, é preciso destacar que o decreto eletivo de Deus é, na verdade, um estímulo ao evangelismo, uma vez que fornece a garantia do seu sucesso. De fato, uma vez que é certo que os escolhidos atenderão ao convite do evangelho (Jo 10.16; At 13.48), os crentes devem se sentir encorajados a proclamar com empenho as Boas Novas. Note-se que, em Atos 18.9,10, foi a certeza de que havia eleitos de Deus em Corinto que motivou Paulo a perseverar no trabalho de evangelização daquela terrível cidade.

Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

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