Quinta, 25 de Abril de 2024
   
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Precisa-se de Diáconos

Pastoral

Com tantos apóstolos, patriarcas cardeais e papas circulando por aí, os cargos eclesiásticos realmente bíblicos perderam a importância na cabeça do povão evangélico. E perderam também o atrativo. Afinal de contas, pra que alguém vai querer ser pastor, por exemplo, se pode um dia desses acordar cedo e simplesmente decidir se autonomear apóstolo?

Dos cargos eclesiásticos mencionados na Bíblia, o que mais perdeu força nestes tempos de apóstolos e apóstatas foi, sem dúvida, o ofício de diácono. Também pudera! O diácono é, basicamente, alguém que serve, um homem que se dedica ao suprimento das necessidades da igreja. Como, pois, esse cargo poderia despertar a atenção dos crentes numa época em que cada um (inclusive quem se diz “vocacionado”) anela apenas por status e tende a se ocupar unicamente de interesses pessoais?

E pra piorar a situação, é fácil perceber que a crise no diaconato não procede somente dessa ausência de disposição entre os crentes. Ela advém também da demonização da figura do diácono construída no passado (o diácono foi pintado como o velho mal-humorado que “dedurava” todo mundo para o pastor) e ainda por causa da escassez de “material humano” de qualidade. Juntando tudo isso, essa nobre e santa função bíblica entrou em processo de extinção. De fato, é muito difícil encontrar diáconos hoje e só conheço um membro da minha igreja (um jovem recém-batizado) que sonha um dia ser investido nesse oficio sagrado.

Para mudar a visão deturpada da figura do diácono, o melhor método, a meu ver, é mostrar o que a Bíblia realmente diz sobre ele. Por isso, neste artigo e no próximo pretendo expor o ensino escriturístico sobre o múnus diaconal. Ao final, espero que crentes sérios e sedentos de trabalhar pelo Reino, abram o coração para o serviço santo exercido através do diaconato. Vamos lá... 

Apesar de não conter nenhuma vez a palavra “diácono”, o texto de Atos 6.1-6 é comumente aceito como o trecho bíblico que narra as origens do diaconato. Nesse texto os homens ali escolhidos tinham como função o atendimento das necessidades de pessoas carentes. Eram, pois, diáconos no sentido literal da palavra, cujo significado é designativo de um indivíduo que presta serviço ou auxilia.

É digno de nota que no desempenho dessas funções sociais os primeiros “diáconos” deveriam ser homens que preenchessem três requisitos básicos (At 6.3): ter boa reputação; ser cheio do Espírito Santo (Ef 5.18); e ser cheio de sabedoria (At 6.9,10). Os dois últimos itens relacionam-se intimamente, ou seja, os diáconos deveriam ter sabedoria concedida pelo Espírito.

Tendo sido instituídos a princípio com o simples objetivo de aliviar o trabalho dos apóstolos, a função que os diáconos exerciam nos primeiros dias de sua existência sequer tinha um nome formalmente fixado. Como título designativo de um oficial da igreja, o termo “diácono” só surgiu mais tarde, e é uma variação da palavra grega diakonia (serviço), ou do verbo diakonéo (servir), ambos encontrados em Atos 6.3-4. Com efeito, é nas epístolas que encontramos esse termo já evoluído, sendo usado com relação a um grupo restrito de homens que tinham o ofício de diáconos (Fp 1.1; 1Tm 3.8).

Na Bíblia, os diáconos desfrutam da posição que a igreja lhes atribui através da imposição de mãos dos pastores (At 6.6) e essa investidura só pode ser feita após um período de “prova” (1Tm 3.10) em que o candidato é observado pela igreja e por seus líderes.

Assim como ocorre com os pastores, os diáconos só podem exercer esse cargo se preencherem certos requisitos elencados no Novo Testamento. A lista de requisitos pessoais exigidos dos diáconos encontra-se em 1Timóteo 3.8-13 e é curioso observar que várias qualidades que devem estar presentes na vida dos pastores também são impostas a essa classe de oficiais da igreja.

Com efeito, assim como o bispo, o diácono não deve ser inclinado a muito vinho, nem voltado para a obtenção de lucros desonestos (aischrokerdēs). Da mesma forma que o pastor, o diácono deve ser irrepreensível (anénklētos), marido de uma só mulher e também um homem que mantém os filhos e toda a casa sob boa direção e sábia autoridade.

Foi dito que os diáconos só podem exercer esse cargo se preencherem certos requisitos elencados no Novo Testamento, mais especificamente em 1Timóteo 3.8-13. Uma observação inicial da lista de requisitos que constam desse texto revela que algumas exigências feitas aos pastores também são dirigidas aos membros do corpo diaconal.

De fato, itens como não ser inclinado a muito vinho, nem voltado para a obtenção de lucros desonestos (aischrokerdēs), e ainda ser irrepreensível (anénklētos), marido de uma só mulher e manter os filhos e toda a casa sob boa direção e sábia autoridade são fatores que devem fazer parte do perfil tanto dos pastores como dos diáconos. Contudo, conforme dito no artigo anterior, o ensino paulino inclui determinações relativas aos diáconos que não estão presentes nos textos que tratam dos pastores.

A primeira dessas determinações é que o diácono seja um homem respeitável. Respeitabilidade é uma qualidade que deve estar presente nos cristãos em geral (1Tm 2.2; 3.11; Tt 2.2). Porém, para os diáconos, essa exigência é ainda mais forte. A palavra usada por Paulo em 1Timóteo 3 (semnós) aponta para a pessoa venerável e nobre, que desperta reverência nos outros. Trata-se de um adjetivo grego que abrange não só a postura exterior da pessoa, mas também seu temperamento. Isso precisa ser levado em conta porque alguém pode ter uma postura que inspire respeito no dia a dia da vida social e, contudo, demonstrar-se desprezível e reprovável no modo como reage em face das eventuais contrariedades da vida.

Do diácono também se exige que seja homem de uma só palavra. A expressão grega que consta do texto (dílogos) pode significar “não difamador”, o que seria um requisito essencial para quem, no exercício de suas funções, constantemente toma conhecimento dos problemas pessoais dos outros. Parece, contudo, mais correto entender o termo no sentido de “não ser alguém de conversa dupla”.

Assim, o diácono não pode ser pessoa que diz uma coisa enquanto tem outra em mente. Também não pode dizer uma coisa a um homem e algo diferente a outro. Suas palavras têm de ser expressão da verdade, sem duplos sentidos e revestidas de valor e peso notáveis. Na prática, essa qualidade deve receber maior destaque no relacionamento dos diáconos com os demais líderes, pois, na busca do bem da igreja, o grupo de oficiais deve nutrir fidelidade mútua. Não se pode, pois, conceber que, durante suas reuniões, os líderes da igreja tenham um bom relacionamento, mas que isso seja seguido de comentários maldosos feitos às escondidas.

Paulo prossegue dizendo que o diácono deve conservar o mistério da fé com uma consciência limpa. Essa determinação impõe que os componentes desse grupo de oficiais eclesiásticos sejam homens de clara e firme convicção cristã; homens que preservam o corpo doutrinário sadio e nele perseveram.

A expressão “mistério da fé” diz respeito às verdades que a razão, por si só, não pode alcançar, mas que foram divulgadas pela revelação divina, ou seja, refere-se aos ensinos contidos no Novo e no Antigo Testamentos (Rm 16.25,26; 1Co 2.7-10). A guarda dessas doutrinas deve ser acompanhada de consciência limpa, isto é, consciência livre de mácula e de coisas vergonhosas, só adquirida por quem vive retamente.

É necessário ainda que o diácono seja casado com mulher respeitável, não maldizente, temperante e fiel em tudo. O modo como o apóstolo Paulo escreve em 1Timóteo 3.11 não deixa claro se ele tinha em mente as esposas dos diáconos ou mulheres investidas no cargo de diaconisas. Os comentaristas bíblicos estão divididos e, qualquer que seja o caso, deve-se levar em conta que as mulheres da igreja primitiva, ainda que prestassem serviços semelhantes aos dos diáconos (e.g., ajuda a pobres e doentes), como era o caso de Febe (Rm 16.1,2), jamais eram investidas na autoridade própria de um oficial eclesiástico, mantendo-se a liderança da igreja nas mãos dos homens (1Co 14.34; 1Tm 2.9-15).

Assim, é possível que Paulo se refira aqui a um grupo de mulheres que servia a igreja, mas sem exercer a autoridade própria dos oficiais. Ou, o que é mais provável, a alusão às mulheres diz respeito às esposas dos diáconos, afirmando que suas qualificações deviam ser semelhantes às exigidas de seus maridos. Essa última alternativa é corroborada pelo v.12, que mostra que Paulo, quando escreveu essas linhas, estava pensando no lar do diácono casado.

Sem as qualificações expostas não é possível alguém se tornar diácono. Também é verdade que, se alguém for consagrado ao ministério diaconal e depois de algum tempo perder as qualificações mencionadas, deverá ser afastado do cargo por tempo indeterminado até que volte a satisfazer os requisitos bíblicos.

Finalmente, é bom observar que, ao concluir sua lista de qualificações, o apóstolo Paulo aponta dois resultados do bom desempenho do diaconato: “Justa preeminência” e “muita intrepidez na fé” (1Tm 3.13). O primeiro significa que o bom diácono se tornará um homem de influência e granjeará o respeito da comunidade em que ministra; o segundo significa que desenvolverá coragem e confiança tanto para anunciar o evangelho (At 7.51-60) como para se aproximar de Deus em profunda comunhão (Ef 3.12).

Eis aí o perfil dos homens de Deus usados para o serviço do seu povo. Como eles estão em falta!

Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

 

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