Terça, 23 de Abril de 2024
   
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Igreja Velha

Pastoral

Aproveitando que nessa semana nossa igreja completa 72 anos de existência, vou escrever sobre os sinais de velhice que podem acometer uma comunidade eclesiástica.

Como é evidente, com o tempo tudo fica ultrapassado. Considere-se, por exemplo, a área da comunicação. Há alguns anos, se alguém quisesse escrever urgente para outra pessoa, tinha que usar o telegrama. Esse método era caro e o usuário pagava pelo número de palavras que enviava, o que o fazia formular frases mancas, sem preposições e artigos. Para encarecê-lo ainda mais, no telegrama até os sinais ortográficos eram contados como palavras e assumiam a forma de siglas (vírgula = VG; ponto = PT; interrogação = INT; exclamação = EXC, etc.).

Deixem-me dar um exemplo. Suponhamos que um jovem que morasse aqui quisesse enviar um telegrama à sua mãe na Itália, informando os resultados de uma de nossas eleições. Seu texto seria mais ou menos assim (não vou mencionar nomes de pessoas ou de partidos políticos por questão de ética):

MAE
BRASIL CONTROLADO QUADRILHA PT
VENCEDOR PIOR PARTIDO PT
PODE MANDAR LOGO PASSAGEM ITALIA INT
SE PRECISAR VG PEÇA AJUDA MAFIA PT
GIOVANNI

Como se vê, a comunicação por telegrama era muito limitada e, mesmo existindo ainda hoje, as pessoas preferem o e-mail, recurso bem mais ágil, barato e quase sem limitações.

O que acontece na tecnologia da comunicação acontece com quase tudo neste mundo. Tanto as coisas como as pessoas ficam para trás, envelhecem e tornam-se ultrapassadas. Geralmente, isso ocorre com o passar de um período relativamente longo de tempo, exceto talvez num caso: o caso das igrejas.

De fato, igrejas envelhecem e se tornam obsoletas não necessariamente porque foram fundadas há muito tempo, mas porque foram maltratadas demais pelo pecado. Igrejas nessas condições apresentam basicamente três traços de velhice: perda de docilidade, perda de visão e perda de audição.

Uma igreja perde a docilidade quando, por causa da dura luta contra o mundo, torna-se rígida, ranzinza e mal-humorada. Os membros de uma igreja desse tipo vivem de cara feia, riem muito pouco, são inflexíveis e criticam qualquer novidade, sem avaliar se é boa ou não. Parece que no Novo Testamento, uma igreja assim era a de Éfeso. De tanto ter que lutar contra perseguidores e falsos mestres (Ap 2.2-3), os crentes efésios se tornaram amargos como velhos rabugentos, e Jesus os censurou por isso (Ap 2.4-5).

A segunda marca de velhice de uma igreja é a perda de visão. Igrejas podem ter catarata! Isso acontece quando elas deixam de lado a pregação da cruz, do arrependimento e da vida eterna para dar lugar a mensagens de autoajuda ou a programas de diversão. Uma mudança assim revela que a igreja perdeu de vista o ideal de promover o Reino por meio da proclamação do evangelho, do bom testemunho, da palavra de exortação, da santa unidade entre os irmãos, da decência e da disciplina bíblica.

Paulo parecia estar lidando com uma igreja que havia perdido a visão quando escreveu sua Primeira Carta aos Coríntios. A igreja daquela cidade tinha mais ou menos três anos de existência quando o apóstolo lhe enviou sua famosa missiva e, no entanto, já era uma igreja com catarata!

Com efeito, os coríntios, não enxergando o valor da unidade cristã, haviam se dividido em partidos e só se ocupavam de disputas carnais, mostrando desprezo pelos irmãos. Eles também tinham perdido a visão da pureza e toleravam todo tipo de sujeira em seu meio. Vítimas ainda da cegueira doutrinária, negavam até o ensino sobre a ressurreição. No campo da decência e da ordem, eles também tinham ficado cegos e, esbarrando em tudo, transformaram o culto em baderna total. Pelo que sabemos, mais tarde as broncas de Paulo surtiram efeito ali, mas a igreja de Corinto ficou marcada na história do NT como a igreja ruim que, como um velho decrépito e teimoso, foi também incapaz de enxergar as coisas como são.

Finalmente, uma igreja mostra sinais de senilidade quando perde a audição. Ah, esse problema é sério! Igrejas surdas não ouvem as admoestações, os desafios e os ensinos que lhes vêm da pregação, da leitura bíblica ou dos hinos que ela própria entoa. Sendo incapazes de ouvir essas coisas, elas ficam estagnadas em seus vícios e pecados. Com ouvidos moucos, não respondem nem mesmo a voz do próprio Senhor (Ap 3.20). Por isso, nunca se movem, nunca avançam, nunca mudam, nunca melhoram.

Nossa igreja tem 72 anos. Às vezes percebo nela alguns sinais de velhice. Porém, tem um lado bom nessa história: a velhice das igrejas pode ser revertida! Sim, elas podem rejuvenescer pela ação de Deus que conduz ao arrependimento e transforma outra vez a monotonia do outono numa bela e radiante primavera. E é bom que isso ocorra. Se não a igreja morre e aí alguém teria que escrever um telegrama com um comunicado assim:

IGREJA VELHA MORREU EXC
ALEGRIA GERAL GRUPOS ATEUS PT

Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

 

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Igreja Batista Redenção.