Quinta, 25 de Abril de 2024
   
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Encantamento Contra Cobras

Pastoral

Nas pirâmides dos faraós Unis, Teti e Pepi I (séculos 25 e 24 a.C.), localizadas na famosa necrópole de Saqqara, no Egito, foram encontradas inscrições que continham encantamentos contra cobras. Em uma dessas inscrições, as palavras a serem ditas quando os egípcios ficavam “face a face” com as serpentes eram as seguintes: “Uma face se deparou com outra face; uma face viu outra face. Um punhal manchado, preto e verde, é lançado contra ela. Foi engolida justamente por aquilo que ela provou” (Pritchard, J. B. [Ed.]. The Ancient Near Eastern Texts : Relating to the Old Testament. 3ª edição com suplemento. Princeton: Princeton University Press, 1969, p. 326). Não sabemos exatamente a que se refere esse punhal preto e verde, mas podemos perceber muito bem o medo que aqueles homens tinham das cobras.

O que deixa os egiptólogos um pouco perplexos é qual utilidade teriam tais inscrições em uma câmara mortuária, na qual seu ocupante está morto e não pode mais ser ferido por víboras. Contudo, dada a própria função dessas tumbas, como habitações e proteções para a vida futura dos seus mortos, conclui-se que eles criam que até mesmo os cadáveres precisavam de proteção contra as serpentes. O medo das feras ultrapassava a barreira da morte. Na verdade, esse medo não é exclusividade dos antigos egípcios, mas de pessoas do mundo todo, de todas as raças e de todas as culturas. Por esse motivo, não é raro vermos excentricidades – e bizarrices – como construir túmulos que por dentro se parecem com um quarto luxuoso, como enterrar o morto com seus bens e até com a esposa viva e como congelar corpos na esperança de haver um tempo quando a medicina avançada e a tecnologia possam ressuscitá-los. O medo da morte e do que vem depois dela tira o sono e a paz de muita gente.

Diferente dessas pessoas são os cristãos. O medo do que vem a partir da morte os deixou porque as Escrituras revelam os benefícios que foram promovidos no presente, quando creram em Cristo, e os resultados eternos que virão a eles. Por isso, diferente das pessoas que temem maldições na vida após a morte, os cristãos foram libertos da maldição da lei. Paulo escreveu: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro)” (Gl 3.13). Hoje em dia, vários segmentos ditos evangélicos se ocupam de detectar maldições nas vidas de crentes e promover rituais que as quebrem. Essas são práticas estranhas à Bíblia, a qual afirma que a maldição que residia sobre nós provinha da lei justamente porque seus altos padrões revelam a iniquidade do homem e sua necessidade de Cristo (Rm 3.19,20; 7.7; Gl 3.21-25) e o tornam merecedor de punição (Rm 5.20; 7.8-11). Entretanto, quando alguém crê em Jesus é perdoado dos pecados e liberto da maldição que provinha da queda e que era vislumbrada através da lei, para receber definitivamente as bênçãos que Deus prometeu ao seu povo, pelo que o apóstolo completa: “Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido” (Gl 3.14).

Outra fonte de conforto diante da certeza da morte é que os cristãos serão recebidos por Deus depois da morte. Jesus contou uma parábola na qual um homem incrédulo, ao morrer, ia direto para o inferno, enquanto um mendigo, chamado Lázaro, foi levado para os céus por anjos tão logo faleceu (Lc 16.19-26). Jesus tomou o cuidado de atrelar a causa de estarem os dois onde estavam ao arrependimento provindo da mensagem das Escrituras (Lc 16.27-31). Jesus fez o mesmo a um dos ladrões crucificados ao seu lado. Quando este declarou sua fé em Cristo como rei eterno prometido (Lc 23.42), nosso Senhor lhe garantiu que naquele mesmo dia ele seria recebido no paraíso (Lc 23.43). Paulo, na verdade, tinha essa esperança como uma realidade palpável, a ponto de considerar os benefícios da morte, sabendo que morrer significa, para o crente, ir imediatamente para a presença de Cristo: Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. [...] Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor” (Fp 1.21,23).

Porém, não é apenas o espírito do crente que tem garantia de ser redimido e de estar com Deus, pois os cristãos que morrem terão seus corpos ressuscitados. Paulo, em dois textos bem elaborados, garante que todos que morrem crendo em Cristo serão um dia ressuscitados (1Co 15; 1Ts 4.13-18). Na verdade, a ressurreição dos mortos é um dos pilares da fé cristã, já que nela reside a esperança futura dos que creem e a base para que tudo isso ocorra – a ressurreição de Cristo: “O qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação” (Rm 4.25). Por isso, temos confiança firme de que nada pode impedir que aqueles que creram em Jesus sejam inexoravelmente ressuscitados (Rm 8.11). E junto com a ressurreição, virão todas as mais plenas bênçãos reservadas aos servos do Senhor: “Nunca mais haverá qualquer maldição. Nela, estará o trono de Deus e do Cordeiro. Os seus servos o servirão, contemplarão a sua face e na sua fronte está o nome dele. Então, já não haverá noite, nem precisam eles de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos” (Ap 22.3-5).

Por isso, nós, cristãos, devemos agora nos preocupar das coisas dessa vida – nossas responsabilidades, cuidados e serviços a Deus –, enquanto confiamos no Senhor e nas suas promessas quanto ao futuro, sabendo que na morte não estaremos protegidos apenas das cobras, mas também da condenação do pecado e da morte eterna (Rm 8.2).

Pr. Thomas Tronco

 

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